Kalaf Epalanga critica 'politização da lusofonia'

Autor angolano e seu conterrâneo José Eduardo Agualusa participaram de mesa do ciclo Perguntas sobre o Brasil

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Belo Horizonte

"Quem ama a língua portuguesa tem que amar as línguas nacionais", disse o escritor angolano José Eduardo Agualusa na sétima mesa do ciclo Perguntas sobre o Brasil, realizada na tarde desta quarta-feira (7).

Promovido pelo Centro de Pesquisa e Formação (CPF) do Sesc São Paulo, pela Associação Portugal Brasil 200 anos (APBRA) e pela Folha, o evento debateu o tema Lusofonia: Fato ou Ficção?

Agualusa, autor de livros como "Nação Crioula" e "A Sociedade dos Sonhadores Involuntários", faz uma referência às línguas maternas de Angola e Brasil para expandir uma ideia de lusofonia, que abarque não apenas a comunidade dos países de língua portuguesa, mas também os seus povos.

fotografia mostra José Eduardo Agualusa, homem branco de barbas grisalhas, que usa um gorro preto sobre a cabeça. ele está de camisa azul
O angolano Agualusa, autor de obras como "Nação Crioula” e “A Sociedade dos Sonhadores Involuntários" - Karime Xavier/Folhapress

"Há línguas indígenas no Brasil que são consideradas línguas nacionais e, infelizmente, ao longo das décadas, têm sido desprezadas", reflete o escritor. "Essa questão é muito semelhante ao que se passa em Angola e Moçambique, onde o português tem crescido às custas das línguas nacionais".

Ao lado de Agualusa, estava o músico e também escritor Kalaf Epalanga, nascido em Benguela, em Angola, e radicado em Berlim. Em sua exposição, ele rechaçou uma ideia de lusofonia que venha de cima, sem trocas entre os povos falantes da língua.

"Tem-se visto assistir a uma politização da lusofonia, como se ela fosse exclusiva dos detentores da cultura ou de quem define a cultura em si", ele lamenta.

"Os povos periféricos, aqueles que têm menos voz e menos participação na construção dessa ideia e dessa família linguística que nos é comum, vivem um pouco à mercê dos ventos que vêm de Portugal".

O escritor angolano radicado em Berlim Kalaf Epalanga, autor de livros como "Também os Brancos Sabem Dançar" - Eduardo Anizelli - 11.jul.2019/Folhapress

Apesar das trocas culturais que têm se intensificado ao longo dos anos, especialmente após 1996, quando foi criada a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), não é simples defender uma ideia comum de lusofonia.

Os debatedores concordam, entretanto, que essa comunidade vai muito além dos limites territoriais de cada país-membro e acaba abrangendo, de diferentes formas, os cerca de 250 milhões de falantes da língua e suas múltiplas concepções de lusofonia.

Segundo Agualusa, "a lusofonia existe porque essas sociedades [refere-se às sociedades dos países falantes de língua portuguesa] têm feito esse trânsito de ideias e trocas, mais do que nunca, primeiro devido às novas tecnologias e segundo porque há mais circulação de pessoas".

A mesa teve mediação de Francis Manzoni, historiador e editor nas Edições Sesc, e a apresentação ficou a cargo de de Patrícia Dini, integrante da equipe de programação do CPF.

O evento foi transmitido pelos canais do Sesc São Paulo, do Diário de Coimbra e da APBRA no Youtube e pode ser visto abaixo, em versão integral.

Iniciado em setembro, o ciclo de diálogos Perguntas sobre o Brasil se inspira no projeto 200 anos, 200 livros. A iniciativa, capitaneada pela Folha, pela APBRA e pelo Projeto República (núcleo de pesquisa da UFMG), listou duas centenas de obras importantes para se entender o Brasil no ano em que é celebrado o bicentenário da Independência.

A cada duas semanas, até maio de 2023, serão debatidos temas como autoritarismo, ritmos musicais e religiões de matriz africana, além de analisadas as contribuições de escritores como Jorge Amado, Guimarães Rosa e Euclides da Cunha.

Veja aqui a programação completa e conheça os próximos temas.

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