Descrição de chapéu Independência, 200

Museu do Ipiranga restaura maquete de SP do século 19

Obra busca reviver a cidade como era em 1841; museu reabre em setembro deste ano

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São Paulo

Depois de dois meses e meio de trabalho, o Museu do Ipiranga acaba de concluir a minuciosa restauração de uma das peças mais populares de seu acervo, a maquete que busca reproduzir a cidade de São Paulo no ano de 1841.

Projetada e modelada em gesso de 1920 a 1922 pelo artista holandês Henrique Bakkenist, com 6 metros de comprimento e 5,1metros de largura, a obra foi encomendada para celebrar o centenário da Independência do Brasil, em 1922. A iniciativa partiu do então diretor da instituição, o engenheiro e professor Afonso d'Escragnolle Taunay.

Fotografia registra parte da maquete da cidade de São Paulo, instalada dentro de uma sala de paredes amarelas. Para além das casas em miniatura, organizadas entre ruas e vielas estreitas, ao fundo é possível ver algumas igrejas e outros prédios maiores, todos no estilo colonial.
Maquete em gesso reproduz a cidade de São Paulo de meados do século 19; obra fica em sala do Museu do Ipiranga, cuja reinauguração está prevista para 7 de setembro - Eduardo Knapp - 29.abr.2022/Folhapress

O pedido inicial feito ao artista holandês era para reproduzir a cidade de São Paulo do ano de 1822. Contudo, dada a ausência de informações sobre essa época especificamente, a direção do museu decidiu usar como referência as indicações da região central da cidade registradas em uma carta cadastral de 1841, que havia sido confeccionada pelo engenheiro Carlos Abrão Bresser.

Não houve, porém, uma fidelidade rigorosa de Bakkenist na reprodução do número de casas e terrenos existentes na ocasião. O artista reconstituiu pontos históricos do período, mas também criou casas, quintais, terrenos e muros com características da arquitetura colonial para preencher os espaços vazios.

Entre os prédios e locais que existiam e ainda existem, na maquete e na cidade, estão o Mosteiro de São Bento e a Igreja Nossa Senhora da Boa Morte. E ainda as igrejas da Sé e do Pátio do Colégio, essas com edificações diferentes das atuais. As igrejas e casas reproduzidas foram pesquisadas em pinturas, ilustrações e nas fotografias de Militão Augusto de Azevedo (1837-1905).

A escala da maquete é de aproximadamente 1 para 175, segundo o engenheiro civil João Lopes Garcia, responsável por escanear a obra para seu mapeamento digital. Isso significa que um homem de 1,75 m teria cerca de 1 cm dentro da maquete.

Desde 2013, quando o museu foi fechado, e durante a reforma, iniciada em outubro de 2019, a maquete permaneceu dentro do espaço, sempre coberta, assim como outras peças de grande porte do acervo, como a tela "Independência ou Morte", de Pedro Américo, com 7,6 metros por 4,1 metros.

Os trabalhos de recuperação dessa cidade liliputiana começaram com uma aspiração fina, para remover toda a sujeira encrustada.

Vieram em seguida ações de limpeza química, o nivelamento das superfícies e a recuperação na camada de gesso superior. E também correção das trincas presentes nas estruturas e reposição do que faltava na estrutura da maquete. Algumas cruzes das igrejas representadas na peça também foram substituídas pelos mesmos materiais da obra original.

Devido às suas dimensões, não é simples alcançar o meio da maquete. Por isso, foi montada especialmente para a restauração uma plataforma de metal sobre a obra, que permitiu o acesso dos restauradores a esse miolo.

Um dos seis restauradores envolvidos neste trabalho, Rodrigo Silva Veloso ficava deitado de bruços na plataforma, a 25 cm de altura sobre a maquete, cerca de cinco horas por dia. "Com o passar das horas, essa posição se torna incômoda. No começo, sentia dores nas costas", disse.

O trabalho é extremamente detalhista e qualquer incômodo pode atrapalhar a concentração do restaurador. Como resolver a questão? "Pratico muito esporte. Além disso, alongava bastante o corpo antes de iniciar o trabalho na plataforma."

Pendurado numa espécie de barra metálica, um homem negro de cabelos crespos armados num black, usando luvas e máscara facial, ajeita os detalhes da restauração da miniatura de uma igreja, localizada numa ampla maquete que se estende por toda a sala. Ao fundo, estão outras duas mulheres: uma atuando na restauração, pendurada da mesma forma que o homem, e outra no canto, observando.
Em primeiro plano, suspenso na plataforma montada acima da maquete, Rodrigo Veloso acerta os detalhes de uma igreja; ao fundo, Katia Salvo, também suspensa, e Marisa Sousa - Eduardo Knapp - 05.abr.2022/ Folhapress

Esta não é a primeira vez que a maquete passa por uma intervenção. Em 1984, a obra —que era branca, da cor do gesso— ganhou cores, agora realçadas.

Instalada no centro de uma sala própria, no edifício-monumento do Museu do Ipiranga, a maquete está sobre uma base de madeira a 50 cm de altura do chão. Em breve, seu entorno ganhará um guarda-corpo de vidro, para a segurança dos visitantes, que agora poderão vê-la mais de cima em relação ao período anterior ao fechamento do museu.

Marcelo Sancho, sócio-diretor da empresa contratada pela Fusp (Fundação de Apoio à USP) para realizar a assessoria de restauro das obras do museu, que incluem a recuperação da maquete, não indica o custo desse trabalho específico.

A ampla reforma do novo complexo, que vai dobrar a área do museu, custará R$ 211 milhões. As fontes de financiamento são, sobretudo, patrocínios diretos e aportes por meio da Lei Rouanet.

A maquete estará aberta à visitação a partir da reabertura do Museu do Ipiranga, no dia 7 de setembro.

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