Fiat Uno Mille completa duas décadas e conta história do carro popular 1.0
O guincheiro, assim que chega ao estúdio fotográfico, passa o olho na ordem de serviço e avisa: "Vim buscar o Uno zero-quilômetro!".
O produtor, achando graça no engano, informa: "Na verdade, o Uno zero é aquele bege ano 1990".
Carro 1.0 nunca foi tão caro, mas bate recorde de vendas
Assista ao "making of" da foto do Uno 1990 e 2010
O dono, o ortopedista Sérgio Minervini, 50, diz que o automóvel rodou poucas vezes. As mais longas viagens foram quando ele deixou a concessionária Fiorelli, que até fechou, rumo à garagem. E de lá para o Detran trocar a placa amarela pela cinza. O velho hodômetro analógico não mente: na última terça-feira (24), marcava 120 km.
Nem precisava: o interior ainda cheira a novo e os bancos conservam o plástico que os envolve desde a fábrica.
A Fiat, aliás, tem papel fundamental na história dos carros "populares". Em 1990, era a única que tinha um motor passível de retrabalho capaz de reduzir a cilindrada para até 1.000 cm¯.
Minervini, no entanto, não acha que seu Mille carburado (48,5 cv) todo original esteja "tão" impecável assim. Ele aponta para um vinco na porta quase imperceptível, que deixou o primeiro proprietário desgostoso a ponto de vender o carro.
Mesmo guardado na garagem há 20 anos, o veículo assistiu à enxurrada de novos modelos com motores 1.0.
"Na verdade, o carro "popular" foi uma grande jogada de marketing", revela à Folha André Beer, ex-presidente da Anfavea (associação dos fabricantes) e um dos articuladores do acordo com o governo. Entre 1990 e 1994, houve sucessivas quedas de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para incentivar a venda de carros com motor de até 1.000 cm¯.
CORRIDA
Volkswagen, Ford e GM tiveram de correr para ajustar seus carros ao pequeno motor (e ao benefício fiscal). Daí nasceram alguns mutantes como Chevette Junior e Escort Hobby.
Mas foi a segunda geração de "populares", com Gol, Ka, Corsa e Palio, que catapultaram a indústria nacional da 12ª para a quinta posição no ranking mundial de vendas. Em 2009, foram 3 milhões de unidades -seis vezes mais que há duas décadas.
Especialistas, porém, preveem o declínio gradual da participação do "mil" a medida em que o poder de compra do consumidor cresça. Mesmo com a próxima geração de "populares" prevista para 2012, com os projetos Onix (GM) e UP (VW). A Fiat já lançou, na Itália, o motor de 900 cm3 bicilíndrico turbo (85 cv) que virá para o Brasil.
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