Leia a íntegra da entrevista com Roberto Setubal, presidente do Itaú
Engenheiro que virou banqueiro, o presidente do Itaú, Roberto Setubal, precisa pensar para encontrar uma outra atividade que considere tão interessante quanto a de dirigir um dos maiores grupos financeiros do mundo.
Se fosse proibido de voltar ao Itaú, abriria uma faculdade. De engenharia.
Zanone Fraissat - 15.mar.2012/Folhapress | ||
O executivo Roberto Setubal no auditório do parque Ibirapuera, na festa de 25 anos do Itaú Cultural |
Aos 58 anos, Setubal tem só mais dois à frente da empresa que preside deste 1994 --pelas regras do banco, a aposentadoria é compulsória aos 60.
Serão dois anos de intensas transformações no setor, na sua avaliação.
Por um lado, será preciso ganhar eficiência para manter a lucratividade com receitas menores --já que os juros baixos parecem ter vindo para ficar.
Na mesma direção, só crescerá quem conseguir melhorar a gestão de risco para driblar o perigo de uma inadimplência em alta.
Mas o maior desafio será atrair capital nos níveis exigidos pelo acordo internacional chamado de Basileia 3, que, para dar mais segurança ao sistema financeiro, exige que os bancos tenham uma proporção maior de recursos próprios para garantir cada R$ 100 emprestados.
Esse é o horizonte do banqueiro até deixar o cargo, mais seus planos para dez anos são o de ver o Itaú como um dos gigantes mundiais, consolidado na América Latina.
A ENTREVISTA, POR BLOCOS
Governo precisa oferecer mais para acordar espírito animal
Próximos anos vão transformar o sistema financeiro
Nova lei trará onda de formalização no Brasil
Mercado de trabalho é hoje um 'bom problema'
"Ainda é cedo para discutir sucessão"
"Construção civil vai manter ritmo maior"
A entrevista na íntegra
Na sede do banco no bairro do Jabaquara, zona zul de SP, Setubal avaliou a economia brasileira e os planos do governo, falou sobre juros e lucros dos bancos e sobre as principais oportunidades de investimento.
O prédio do Itaú abriga uma valiosa coleção de arte moderna, mas a entrevista do presidente aconteceu numa sala de reunião adornada por duas peças: uma escultura em madeira de Aleijadinho, do final do século 18, e na parede, emoldurada, uma camiseta do Santos Futebol Clube, autografada pelos atletas que, em 2011, deram ao time os títulos de campeão brasileiro e campeão da Libertadores.
Apaixonado por futebol, diz não ter sentido inveja do mundial do Corinthians conquistado neste ano. A rivalidade, no seu dia a dia, não é entre torcidas esportivas, mas na corrida para manter a liderança de um setor que, em sua avaliação, tem uma concorrência intensa.
Leia abaixo a íntegra da entrevista, concedida na tarde de sexta-feira (21), dia em que, segundo os maias, terminaria um ciclo histórico.
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O crescimento neste ano surpreendeu negativamente a todos e foi persistente apesar de mudanças como a dos juros menores, dos estímulos do governo ao cortar tributos, do real menos valorizado. O que está segurando na sua opinião?
O Banco Central, lá atrás, quando vinha subindo os juros e numa reunião para outra começou a reduzir, sem nem um período de estabilidade, ficou clara a sinalização de uma desaceleração econômica forte, e o governo, a partir dali, tomou uma série de medidas para estimular a economia. E, surpreendentemente, a economia não reagiu como deveria reagir.
Está todo mundo querendo ainda entender o que está acontecendo. Primeiro tem a conjuntura mundial. O mundo chegou a crescer por alguns anos na década passada cerca de 5% ao ano e neste ano vai ficar por volta de 3%, talvez até abaixo. Um dos fatores de desaceleração foi esse.
Acho que o Brasil particularmente teve dois fatores que foram muito importantes na década passada que ajudaram a economia a vir naquele ritmo mais forte de crescimento e que não estão mais presentes neste momento. O primeiro é commodities: a desaceleração do mundo tem como consequência um arrefecimento na demanda de commodities e no próprio preço das commodities, que tinham sido um impulso importante na década passada.
Outro fator importante é que saímos de uma economia com um baixo nível de crédito para uma de já de um nível razoável de crédito, especialmente ao consumidor, que nada mais é que uma antecipação de demanda, uma aceleração da demanda. E hoje estamos num nível de crédito razoável, o nível de endividamento está em patamares que não permite mais o mesmo nível de crescimento.
Vamos continuar crescendo em crédito, mas não será um fator tão favorável como foi na década passada
Ainda tem fôlego?
Sim, mas não será mais 30% ao ano, vai crescer 15%, que é um número bom, mas não mais um impulso como foi antes. Saímos de 1,2 milhão de automóveis na década passada pra 3,6 milhões. Não vamos passar para 10 ou 12 milhões, não vai triplicar de novo em dez anos. Daqui a dez anos pode estar em 5 milhões. Mas não multiplica mais por três. A aceleração desse fator é menor
O financiamento imobiliário vai tomar o lugar?
É verdade, na próxima década vai haver uma demanda grande nesse setor. Os segmentos ligados de construção civil continuam com nível de atividade alta, não desaceleraram. Estão bem acelerados, até.
A economia está se reajustando a um novo ambiente internacional. Corretamente, o governo identifica que um dos fatores importantes daqui para a frente é uma parcela maior de presença de investimento como um fator de crescimento do PIB. O Brasil tem muita oportunidade de crescimento, especialmente na área de infraestrutura. O governo tem procurado criar as condições para que isso aconteça. A redução da taxa de juros é importante, ele tem tomado medidas muito relevantes, de grande impacto a longo prazo, de flexibilização da presença do setor privado, em portos e aeroportos isso é bem visível. Até pouco tempo nada disso era possível. Está havendo uma mudança que terá um impacto enorme, mas não acontece da noite pro dia, veremos acontecendo ao longo dos próximos anos.
A meu ver são impactos muito relevantes, vai dar sem dúvida um grande impulso nessas áreas, e o país está precisando dramaticamente de investimento em infraestrutura.
O país tem capacidade de poupança para bancar esse investimento?
O Brasil tem um nível de poupança relativamente baixo e vai ter que complementar com poupança externa. Sem poupança externa o nível de investimento vai ficar prejudicado. Vamos ter que balanceadamente combinar poupança interna com externa. Digo balanceadamente porque não podemos depender só de poupança interna nem podemos permitir uma enxurrada de recursos externos, porque traria problemas, mas temos que gerar esse fluxo de investimentos para o Brasil.
A reação do setor privado não tem sido favorável a alguns modelos que o governo apresentou
Diria que estamos ainda na fase de encontrar os modelos melhores, essas coisas não nascem prontas, tem que ter um aperfeiçoamento e o próprio governo reconhece. Aí o importante é a direção, ou seja, permissão e flexibilização da legislação no sentido de permitir o capital privado, isso é extremamente relevante. Ao fazer isso o governo reconhece a importância dos capitais privados, a agilidade e a capacidade de realizar os investimentos, coisa que o setor público tem dificuldade de fazer.
A direção está correta. Aperfeiçoamentos são necessários.
Pensando do outro lado: os governos costumam pedir mais espírito animal dos empresários. Falta espírito animal ao empresariado brasileiro?
Há uma coisa que desperta o espírito animal como nada mais, que é o retorno que o empresário obtém. Quando tem possibilidade de retorno sobre investimento, o empresário reage imediatamente. Aí talvez o governo esteja sendo um pouco restritivo demais, o que não atrai os recursos, a velocidade, o interesse que poderia atrair.
Necessidade de investimento em infraestrutura é tão grande, os ganhos para o país são tão elevados, os ganhos de produtividade que são decorrentes disso, que o retorno de 1 ou 2 pontos a mais que o empresário vai ter não faz nenhuma diferença. O retardamento desses investimentos tem um custo muito maior para o país. O governo deveria ser mais flexível, o que aceleraria muito esse programa e o país no todo sairia ganhando.
O governo está atento a isso. Recentemente vemos o governo refletindo mais sobre essas questões, para que realmente os investimentos ocorram na velocidade que precisam ocorrer. É imperativo para o Brasil que se melhore rapidamente a infraestrutura, isso daria ganhos de produtividade muito, muito relevantes para nossa economia. O Brasil precisa dramaticamente de ganhos de produtividade. Uma parcela importante do ganho vem desses investimentos.
O sr. falou em mais dois pontos percentuais, o governo tem oferecido 5%, 6%. Se chegar a 8% seria atrativo?
É o pacote todo que tem que ser interessante, o retorno, o financiamento, as questões fiscais todas. O pacote como um todo tem que ser atraente. Para atrair bons empresários, que queiram de fato investir e ter o justo retorno. Temos que ser realistas. Os retornos serão aqueles que os empresários, de acordo com os níveis de mercado, demandam. Não vamos dar números que são muito diferentes daqueles que o mercado oferece, senão os investimentos vão para outros lugares e não para aqueles em que o Brasil precisa mais agora.
Não faz sentido pensar que estamos em outro cenário de custo de capital?
Sem dúvida. O custo de capital caiu no Brasil, o que é um fator superimportante. No nosso caso, por exemplo, há algum tempo atrás, nossos cálculos assumiam um custo de capital próprio (equity) de 16%. Esse número já chegou a ser 20 e poucos por cento. Agora estamos em 14%, 13,5%. Uma redução expressiva.
Os investidores, quando assumem uma empresa, têm uma expectativa de retorno. É o que custa para uma empresa conseguir dinheiro no mercado.
Está evoluindo, é importante. Mas é muito mais que 6%.
O empresário está preparado para procurar projetos que deem uma remuneração maior, e, portanto, tenham mais risco?
As taxas de retorno que interessam a um investidor dependem sempre das alternativas. No Brasil as taxas de juros caíram, o custo de capital caiu também, não há alternativas como havia um ano atrás, de, sem risco nenhum, ganhar 15%. As alternativas mudaram. Diante de aplicações como uma debênture ou um título do governo, quase sem risco, me parece que 13% ou 14% de prêmio de risco é o que o mercado está precificando.
A pesquisa mensal de emprego divulgada nesta sexta mostrou desemprego ainda menor e crescimento da remuneração. Há mais risco ou mais oportunidades nesse fenômeno?
Eu diria que isso é um bom problema (risos).
É um problema que cria desafios.
Quais?
A gente conversa com as empresas e sente que, embora tenha sido decepcionante o crescimento deste ano, todo mundo continua acrescentando que a economia brasileira tem potencial de crescimento muito grande e o nível de crescimento vai aumentar. Todos temos essa convicção. E as empresas, até pela dificuldade de recontratar, continuam mantendo os funcionários, mesmo não funcionando a plena carga, aguardando esse momento melhor que todo mundo acredita que virá.
Mas cria desafios para ter um ritmo de crescimento mais alto.
Por que é custo?
O custo da mão de obra continua subindo acima da inflação, muito acima. Neste ano, é difícil ver algum dissídio, alguma categoria importante que tenha tido menos que inflação mais dois por cento, num ano em que a economia cresceu pouco mais que 1%, sem ganho de produtividade que justificasse o aumento. Tem uma pressão aí.
Quer dizer que o trabalho está rendendo mais que várias aplicações financeiras?
Risos. De certa forma, sim. Esse é um desafio, estamos chegando um pouco àquele momento da economia em que nada mais parecido com o que todo o mundo já mais desenvolvido, que é crescimento econômico se baseia fundamentalmente em ganho de produtividade. Quando se atinge o pleno emprego, criação de riqueza vem de ganho de produtividade. Nesse sentido que acho que o governo tem essa percepção. Já vi a presidente Dilma falando várias vezes sobre ganho de produtividade, e acho que tem toda a razão. Sem isso, com o nível que já atingimos de emprego, não é nada sozinho que fará crescer sem tiver ganho de produtividade.
Como se dá esse ganho?
Aí vem a importância do investimento. Inevitavelmente, qualquer atividade tem que investir. Em infraestrutura, tecnologia, organização. Cada um faz a sua parte, para ficar mais produtivo na sua atividade, a infraestrutura é importante para todos, logística, energia, comunicações.
A produtividade terá que ser um driver muito importante daqui pra frente, não vamos ter mais preço de commodities e crédito puxando a demanda, num país que tinha uma situação de emprego com grande folga, grande oferta de mão de obra. Esses motores puxaram muito bem a economia até esse nível de emprego. Daqui para a frente, sem investimentos para ganhar produtividade, não conseguimos criar riqueza e crescer.
Podemos então esperar uma pressão de produtividade baixa por mais cinco anos pelo menos?
Se você for numa economia desenvolvida, nos Estados Unidos, há medições todo ano de quanto se ganhou de produtividade todo ano. Isso será parte da nossa agenda permanente. Os EUA estão na fronteira da tecnologia em todos os setores, então, para ganhar produtividade, só com inovação. A inovação é o grande fator de produtividade para quem já está na fronteira. Nós não estamos, então temos muito a ganhar com as técnicas conhecidas. A inovação para nós é importante, mas o mais importante é atualizar nossa capacidade existente, num nível de produtividade de benchmarking mundial.
Para os bancos, que oportunidades aparecem nesse novo cenário, de juros baixos e pleno emprego?
A atividade bancária vive a economia em todos os seus momentos, os bons e os ruins, e está presente em todos os setores. Nesse momento, por exemplo, há uma atividade como construção civil que continua expressiva, estamos presentes nessa atividade, muitos recursos estão sendo direcionados para a construção de imóveis, já tivemos um crescimento enorme no financiamento de automóveis.
Quando se olha para a frente, se fala muito mais em recursos que vão para investimentos. Temos participado intensamente no financiamento de fundos de energia, Jirau, termoelétricas, energia eólica, há muita necessidade de investimento nessa área. Em portos, aeroportos, na construção de novos aeroportos, empréstimos paralelos aos BNDES, empréstimos ponte, muitos empréstimos ponte porque o BNDES tem uma certa burocracia para aprovar o projeto em seus mínimos detalhes e a empresa quer começar ontem a sua atividade, há um ponte, e na segunda etapa participamos também como o BNDES de financiamentos de longo prazo.
Já existe um volume de demanda de financiamento hoje no Brasil que é bastante relevante.
É uma mudança recente?
A gente vive a economia em cada um desses aspectos, e tenho a certeza de que estamos aumentando o volume de financiamento de investimentos.
Na sua visão estratégica, essa será uma das fronteiras de investimento?
Sim, assim como o setor de óleo e gás. E aí não é só financiar a Petrobras, mas os estaleiros, toda a cadeia de empresas que vai construir as plataformas, os equipamentos que vão na plataforma. É uma cadeia de investimentos que já está andando, com suas dificuldades, seus problemas.
A burocracia, a carga tributária, ou, mais que a carga, a complexidade tributária...
Eu diria os dois, a carga e a complexidade. O Brasil é um país com muita burocracia, muita regulamentação e processos lentos de forma geral. Tudo isso para mim pode virar ganho de produtividade. A quantidade de impostos que há no Brasil, as empresas precisam de uma quantidade de pessoas enorme para controlar, ficamos muito sujeitos a essa burocracia toda.
Tem muito o que melhorar.
Daria para dizer que o país já está num patamar de formalização...
Aumentou muito. Hoje já é de um nível muito maior que há dez anos. Uma coisa que não tem se falado muito, mas que terá um impacto muito significativo na formalização, é a lei nova de lavagem de dinheiro. A lei anterior definia crimes que precediam a lavagem de dinheiro. A nova lei diz que qualquer crime pode ser precedente de lavagem de dinheiro, o que inclui sonegação fiscal. A sonegação fiscal no Brasil, que foi sempre um problema, embora venha melhorando sem dúvida, a economia informal vai enfrentar um problema muito grande, porque qualquer intermediário ou pessoa envolvida, que de alguma forma tenha a percepção de questões fiscais de uma empresa poderá ser envolvida numa eventual ação criminal. Advogados tributaristas, corretores de venda de imóveis, corretor que vende arte, bancos, todos fazem parte disso, estão próximos. Isso vai exigir uma formalização muito maior.
Afeta inclusive os bancos?
Sim, neste momento na Febraban estamos fazendo um trabalho de alinhar os entendimentos da nova lei, para que todos os bancos tenham a mesma interpretação sobre a lei, ouvindo Ministério Público, Coaf, Receita Federal, para balizar.
De um lado temos um papel a cumprir de acordo com a nova lei, mas de outro lado eles não querem que a gente os entulhe com um monte de informação.
Haverá um impacto muito grande na formalização das empresas, principalmente nas pequenas empresas.
Isso abriria uma janela para mexer no sistema tributário?
Há vários aspectos. Uma economia, quanto mais formalizada, mais produtiva se torna.
Por quê?
Ela tem mais controles, planejamento.
Mas os controles não trazem necessariamente planejamento.
Não, mas sem controle não há planejamento. Há vários estudos que mostram que a formalização aumenta a produtividade.
Alessandro Shinoda/Folhapress |
Roberto Setubal, em frente a uma tela do pintor francês Matisse, na sala de espera da presidência do Itaú |
É difícil avaliar o impacto tributário da nova formalização, mas já houve um avanço enorme. Esse impacto deve ser menor, mas haverá, e de certa forma abre espaço para o governo reduzir a tributação de quem já estava formal.
A inflação preocupa?
Tem que estar sempre atento. Não preocupa no sentido de que vá sair do controle, mas tem que manter uma atenção permanente.
Não deveríamos estar satisfeitos com 5,5% de inflação. Deveríamos estar de fato buscando inflações menores. Entendo que o Brasil ainda tem algumas dificuldades de indexação da economia, alguns processos mais complicados, mas uma inflação menor tornaria a economia brasileira mais produtiva, mais competitiva. Inclusive com um evidente benefício para o trabalhador.
Toda incerteza é ruim do ponto de vista da economia. Quanto mais certezas o empresário tem em relação ao cenário, mais capacidade ele tem de planejar, de tomar decisão. Quanto mais estabilidade no cenário macroeconômico, quanto mais certeza sobre as regras do jogo, melhor para tomada de decisão, porque reduz o risco.
Gera mais eficiência?
E reduz o custo de capital, o prêmio de risco do investimento se reduz. E vice-versa, quando se tem incertezas sobre as regras do jogo, a questão tributária, como a inflação vai se comportar, a própria taxa de juros, isso tudo gera um prêmio de risco no cálculo do empresário, quando ele tem que decidir se vai fazer ou não um investimento.
O sr. já disse que um dos papeis do Itaú agora é estar presente agora no financiamento de infraestrutura, de óleo e gás. Mas, do ponto de vista mais "filosófico", qual o papel dos bancos no desenvolvimento de um país como o Brasil.
Eles têm vários papeis. Primeiro, o mais simples, mas muito importante, de ter um sistema de pagamentos organizado. Nesse sentido o Brasil é extraordinário, você faz um pagamento de qualquer lugar para qualquer lugar, de uma cidade pequena do interior do Amazonas para o Rio Grande do Sul, online, em real time. Todo os sistema de pagamentos e recebimentos funciona bem, é muito seguro, rápido e muito eficiente.
O outro papel é o de intermediação financeira, entre quem tem depósitos no banco e quem precisa de empréstimos, quer seja para o consumidor financiar um automóvel, uma casa, quer seja um capital de giro ou um grande investimento do governo ou de uma empresa.
Portanto, é um papel superrelevante na economia. A primeira condição para que ele faça isso bem feito é que seja eficiente, bem capitalizado, saudável.
Vimos agora na crise na Europa e nos Estados Unidos, o sistema financeiro colapsou e a economia parou, pois a intermediação financeira entre quem poupa e quem precisa do dinheiro para.
Essa saúde vem do sistema regulatório?
Ele é essencial, mas vem também da qualidade da administração dos bancos, da capacidade de conseguir levantar capital para fazer essa função, já que a intermediação é extremamente capital-intensiva. Se você olhar o tamanho dos bancos, eles são muito grandes porque a atividade exige muito capital. E Basileia 3 vai se tornar cada vez mais global, e, em função da crise, e para reduzir o risco de crise no futuro, está havendo uma enorme demanda de capital no setor bancário.
Mas o Brasil já era menos alavancado, não?
O Brasil já pedia mais capital que outros países, mas o capital necessário vai mudar muito, não só a quantidade, mas principalmente a qualidade do capital necessário. Há exigências bastante rigorosos.
O sr. prevê algum impacto no setor bancário?
Não teve ainda. O cronograma é longo porque a quantidade de capital pedida é bastante substancial. Já têm entrado em vigor regras que já estão demandando mais capital no Brasil, e vai aumentar muito fortemente a partir de 2014.
Em termos de qualidade, qual é o desafio?
Capital em banco era composto em parte pelo capital próprio, o patrimônio líquido, e parte em dívidas com prazo muito longo. Os bancos podiam, com certa flexibilidade, contar essas dívidas como capital. Reduziu-se substancialmente a possibilidade de usar essa parte, tem que ser capital próprio mesmo.
Então a gente pode esperar mais concentração do setor nos próximos anos?
Você pode esperar uma mudança... veja, é um desafio para o sistema financeiro, porque vamos precisar remunerar mais capital, um volume maior, o que cria desafios muito grandes de como fazer isso. Porque, se for fazer do mesmo jeito que é hoje, tem muita atividade inviável, teria que subir o preço para viabilizar. Há uma discussão no mundo sobre o modelo de operação dos bancos, especialmente fora do Brasil, mas no Brasil também. Uma série de atividades ficaram impossíveis de serem remuneradas, algumas até proibidas, e instituições financeiras vão ter que mudar sua atividade, a forma de atividade.
No Brasil, isso se soma a juros mais baixos, há um desafio muito grande de produtividade, de administração de risco dos bancos, que vai mudar bastante a operação.
O Itaú faz gestão de reputação, então deve ter informações precisas sobre a imagem dos bancos hoje no Brasil. Como está essa imagem?
De forma geral, no mundo inteiro, o banco tem o papel chato de alocar o dinheiro, e tem que dizer não muitas vezes, é um papel difícil, gera uma percepção de um poder exagerado. Quando o banco tenta fazer isso de forma profissional, ele impõe ao tomador uma disciplina, decide quem pode tomar empréstimo, quem não, pode, é um papel difícil.
Os bancos também são muito grandes, e a sociedade tem uma certa resist... não resistência, mas ela é vista como muito poderosa, vai um pouco contra o espírito de liberdade que as pessoas têm e querem ter.
O interessante é que quando se desce e pergunta sobre o seu banco, começa a mudar. Sai da concepção arquetípica e começa a cair numa realidade mais visível. Você faz a imagem do seu banco, ele passa a ser visto como confiável, moderno, ter atributos positivos. Se você desce e pergunta do gerente, some a ideia do poderoso, é seu gerente, a resposta é "eu adoro ele". Conforme vai materializando, caindo na relação real, a imagem é muito positiva.
Então é bom para os bancos tentar fingir que não são bancos...
É mostrar o banco como muito mais humano, mais próximo da pessoa. As propagandas do banco induzem a isso, a sair do teórico e ir mais próximo à realidade.
Pensando na imagem dos bancos como muito ricos, muito poderosos, houve um embate, uma comunicação conflitiva, no começo deste ano, quando o governo pressionou o banco para pressionar a taxa de juros. O que restou disso? Ficaram mágoas? Ou a comunicação já está azeitada?
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O Brasil tem várias questões, muitos problemas, pontos que às vezes são muito diferentes de como é lá fora. Quanto mais normal o Brasil vai ficando, e evoluímos muito nos últimos anos, quanto mais as pessoas viajam para fora e têm mais referências, mais se compara o país com outros. Isso é mais barato aqui, isso é mais barato lá fora. É evidente que no Brasil, quando se fala de spread, a taxa de juros, mesmo com toda a queda, ainda é muito alta comparada com a lá de fora. Há uma série de razões para isso.
O sistema financeiro está totalmente aberto a dialogar, encontrar soluções, construir o que for necessário, razoável, vamos trabalhar para isso. Sou o primeiro da fila para isso. Mas o sistema financeiro é uma coisa complexa, embora os preços sejam relativamente elevados no Brasil, posso te afirmar com muita segurança que o retorno que os bancos têm no país não são altos comparados com o resto do mundo, comparados com o custo de capital, por uma série de razões.
Mas os bancos são empresas muito grandes. Fora as estatais e talvez a Vale do Rio Doce, os bancos são as maiores empresas do país, os números são muito grandes. O lucro do Itaú, R$ 14 bilhões, são números muito grandes, reconheço. Mas isso não quer dizer que a lucratividade seja grande. E naturalmente as pessoas têm uma certa dificuldade de entender termos como custo de capital, retorno sobre patrimônio líquido. Em sendo grande, tudo será grande, mas o que é grande? O que é pequeno? O que é razoável? Os bancos estão abertos a discutir isso dentro da racionalidade. O spread bancário tem que cobrir três coisas: o custo operacional, e aí nós como qualquer empresa temos que buscar eficiência, reduzir custos, melhorar, e estamos todos procurando fazer a lição de casa para ganhar produtividade. O segundo aspecto que o spread tem que cobrir é a perda de crédito. Quando fazemos um empréstimo, sei que uma parte não vai pagar, mas preciso ter mais capacidade de perder menos. Aí entra o cadastro positivo, questões ligadas a como recuperar uma garantia...
Falta um arcabouço microeconômico?
O Brasil está distante de muitos países. Há muito em que evoluir.
Isso reduziria muito o custo?
O crédito consignado é um exemplo marcante disso. Um empréstimo pessoal com a garantia do salário, muito forte, tem um spread baixinho. Um empréstimo pessoal sem garantia tem um spread enorme porque o risco aumenta enormemente. As perdas são muito maiores. E o Brasil é um país que trabalha pouco as garantias. As ações em relação à garantia, os colaterais, são frágeis. Há muito o que evoluir. No mundo inteiro há uma garantia amplamente usada, a imobiliária. Se você dá a sua casa como garantia, vai levar muito a sério sua necessidade de pagar o empréstimo, todo mundo fica muito mais disciplinado, muda o jogo. O spread vai lá para baixo. É algo que precisa mudar no Brasil, as garantias, a administração do risco. Um exemplo bem visível é um diretor de riscos que trouxemos da Austrália. Lá, a probabilidade máxima de "default" (entrar em atraso de mais de 90 dias) é de 2%. Se o cliente tiver mais risco que isso ele não aceita. No Brasil, já chegamos a operar com mais de 10%, com 12%. Agora reduziu.
Para quanto?
No máximo 7%. Mas ainda é o triplo do limite máximo da Austrália. Se quiser operar com 2%, o spread é mais alto e menos gente vai conseguir empréstimo.
Baixar os spreads fez com que os bancos aumentassem as exigências?
Sim. Nos automóveis, estamos pedindo mais entrada. Já chegamos a financiar 100% do automóvel. Hoje, acho que nenhum banco faz mais isso, financiamos 70% do valor do automóvel. O cliente tem uma poupança dele ali, os 30% da entrada, então a disciplina de pagamento aumenta muito, pois, se ele não pagar, eu vou ficar com a poupança dele.
Mas houve um efeito de contração de crédito?
Aí tem a terceira parte do spread, que é a remuneração do capital. A cada empréstimo que eu faço, o Banco Central exige uma quantidade de capital. Para cada 100 que eu empresto, tenho que ter 11 de capital. Só posso emprestar se conseguir esses 11. E como eu levanto esses 11 se não remunerar esse capital? E, se não conseguir levantar, como vou dar mais crédito? Se eu quero crescer 10% a carteira de empréstimo, preciso de 10% mais capital.
Essas três coisas têm que caber no spread. Se o custo de capital reduz, a perda reduz e eu fico mais eficiente, o spread pode ficar menor. É o que estamos tentando fazer no Brasil.
Ainda tentando? Não se chegou a essa acomodação?
Estamos trabalhando. Aumentando a eficiência, pedindo mais garantias, administrando mais o risco, reduzindo o custo de capital, tudo isso leva a diminuir o spread. É uma mudança que tem o seu ajuste.
Mas não há contração de crédito. Neste ano, mesmo com a economia desaquecida, o sistema financeiro como um todo cresceu 16%, 18%. Os bancos privados cresceram em torno de 10%.
Mas, para crescer o crédito de forma sustentável, precisa atender esses três parâmetros. Aos bancos cabe trabalhar firme na eficiência. Com o governo, podemos trabalhar em perdas, garantias, compulsórios, como criar melhores condições para isso. O custo de capital é um dado de mercado.
Esperava-se que os bancos ganhassem eficiência compartilhando serviços que não são core, não são a função principal. Caixas eletrônicos, por exemplo.
Está em discussão, os bancos estão considerando compartilhar segurança, transporte, transporte de numerário, já começaram discussões. Caixas eletrônicos também. Já há hoje o Banco 24 Horas, estamos discutindo uma ampliação, para que todos os bancos coloquem mais caixas dentro desse compartilhamento.
Sob a sua gestão, o Itaú passou a ser um dos dez maiores bancos do mundo. Qual é a estratégia agora? Crescer mais por aquisições, se expandir globalmente? Como o sr. vê o futuro do Itaú?
Todo sonho tem que ter uma base. Se o sonho é grande, a base tem que ser sólida, se não não vai longe. Base, hoje, é um desafio de curto prazo, um, dois anos, que é adaptar o banco ao cenário de juros mais baixos, margens menores, capital maior em função de Basiléia 3. Tem ajustes necessários para tornar o banco bastante competitivo, sólido, rentável, com uma base sólida para uma expansão maior no exterior. Já ganhamos eficiência e estamos fazendo ajustes da política de risco aos preços e taxas de juros mais baixos, nos quais estamos bem encaminhados, temos que implementar uma séria de medidas
Ainda pode haver mudanças nesse ajuste de preços?
Aí é uma questão de mercado. O grande ajuste para este momento foi feito, mas, na medida em que o mercado vai se adaptando, a gente vai mudando. E tem toda a questão de administrar a geração de capital. Estamos bem encaminhados para criar essa base sólida, supernecessária, importante para pensar num sonho maior do que somos hoje, que já não é pouco. A gente olha para o Itaú daqui a dez anos como uma empresa mais internacional. Já somos um banco de patamar top no mundo, queremos continuar sendo, não só pelo tamanho que temos no Brasil, mas pela presença que queremos ter em outros mercados. Principalmente na América Latina, onde queremos expandir no próprio varejo, não só em investimentos ou no mercado corporate.
Isso seria por aquisições?
Sim, tipicamente no varejo não se constrói do zero, pois a escala é fundamental. A gente imagina isso sendo feito através de aquisições, e para conseguir comprar alguém precisa querer vender, senão não tem negócio. De forma geral, na América Latina, os bancos estão bem, os mercados estão dinâmicos, tem que ter paciência para aguardar a oportunidade certa.
Tem algum país que interessa mais?
Nós já estamos no Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai. Acabamos de abrir Colômbia numa operação corporate. Não conseguimos comprar nada a curto prazo no varejo. É um mercado que achamos importante. Estamos começando no corporate que, por sinal, vai muito bem. É impressionante como há muita oportunidade, um país muito organizado, muito investimento em infraestrutura, estamos participando de financiamentos de infraestrutura, e aí você vê a velocidade com que as coisas acontecem. Entre você aprovar na comissão de crédito e o dinheiro ser liberado, e comparar com o Brasil, é uma diferença brutal. O Chile tem um mercado financeiro superinteressante, com retornos muito atraentes, embora com spreads muito baixos. No Chile, a gente opera com spread de 2%, 3% na média, e não é por isso que estamos infelizes, lá. Pelo contrário, o banco vai de vento em popa. É pequeno, mas mais que dobramos nossa participação nos últimos anos. O IR para banco é 20%, aqui é 40%. Isso está no preço. O spread tem que comportar o imposto também.
É mais difícil ser o líder ou o vice?
O líder. Quando você está em segundo, seu objetivo é passar o primeiro. Você vê o que o outro faz, se tiver que copiar copia, o que acha que está errado já faz diferente. O primeiro tem que estar inventando coisas novas, desbravando outros mercados. Mas é mais divertido ser o primeiro.
Que mercados vocês vão desbravar?
Os bancos no Brasil já são muito grandes, universais. Já estamos praticamente em todos os mercados. Claro que há produtos em que podemos melhorar a presença, compramos a Redecard neste ano, entramos forte em empréstimos consignados. Há oportunidades, mas não é como há 15, 10 anos atrás, quando esse processo de consolidação começou, logo depois do plano real. Havia um mercado de oportunidades.
Seguro saúde é uma área em que realmente não pretendem entrar?
Não, mas seria eventualmente uma oportunidade.
No seu currículo, a formação em engenharia é normal, muita gente em banco fez engenharia, mas me chamou a minha atenção que seu mestrado foi também em engenharia. Você já disse que não pensava em dirigir o banco, mas qual era a sua expectativa, qual foi a sua especialização?
Engenharia de produção, que é muito mais voltada para indústria, que está muito ligada a produtividade. Eu não me imaginava no banco, me imaginava mais numa área industrial. Sou muito metódico, racional, tenho uma formação de engenheiro que está muito presente na minha atuação de executivo. Gosto de ser da engenharia, gostei do curso, tanto que fiz a pós-graduação também nisso, na área de engenharia de produção.
Mas vim para o banco, acabei me apaixonando pela atividade. Olhando de fora parece muito árida, mas é uma atividade em que se tem muitas oportunidades, a dinâmica é muito grande, é preciso se adaptar, se mover numa velocidade incrível porque os mercados se ajustam constantemente. Se você for competente, consegue se adaptar rapidamente, saindo na frente dos concorrentes, o que te dá uma vantagem. Essa agilidade faz uma diferença enorme. Ao mesmo, você está vendo toda a economia. Como um banco grande, você vê todos os movimentos da economia, que setores estão mais e menos dinâmicos, conversa com pessoas de vários segmentos, vê como a classe C está crescendo, o financiamento para a classe C vira uma oportunidade, tem uma presença muito interessante, o que torna o dia a dia bastante fascinante.
Tem que ser bom de gerenciar processos também, não?
É interessante, o Itaú é muito visto como banco de engenheiros, porque somos muito focados em ter processos de qualidade. Numa empresa com a quantidade de produtos que a gente tem, nos Estados Unidos eles não têm metade dos produtos e serviços que a gente oferece, serviço, corretora, banco de investimento, fundos, cartão de crédito, tudo numa instituição só.
Em alguns países os bancos nem podem operar em vários setores, não é?
Isso vem mudando. Nos Estados Unidos, até pouco tempo, os bancos não podiam nem cruzar a fronteira do seu Estado. Nós somos bancos muito mais completos e complexos do ponto de vista de prestação de serviços. Aqui você vai a uma agência, senta na frente do gerente e ele vai poder ter oferecer uma enormidade de serviços, seu relacionamento com o banco vai estar todo consolidado numa única tela, mesmo sendo várias empresas por trás disso. A complexidade que tem por trás disso é enorme. E o Brasil de fato tem um sistema financeiro muito evoluído, o Banco Central faz um papel muito bom de supervisão e regulamentação bancária e é muito reconhecido por isso. Temos um bom sistema financeiro, em parte pela administração e pela competição também. No Brasil, embora nem sempre visto desta forma, a competição é superintensa, é enorme. Há dois gigantes privados nacionais, dois gigantes estrangeiros e dois gigantes públicos. E posso te dizer que a briga é intensa e a cada vitória a grandes comemorações, a cada derrota juras de vingança (risos).
Qual foi a última grande vitória e a grande derrota?
Ah, não vou falar disso, mas é isso que faz o sistema forte, essa permanente briga de ocupar posições, e ser melhor, ser mais competitivo. Isso faz o sistema muito forte.
Você já pensou em ter função pública como seu pai teve?
Não.
Mesmo que não num cargo político?
Não. Meu pai foi prefeito de São Paulo e ministro num outro Brasil. Hoje, especialmente para quem vem do sistema financeiro, do sistema privado, não dá para participar do setor público. O que não quer dizer que eu não tenha uma visão do país como um todo. Mas minha contribuição para o país pode ser enorme estando no sistema privado e contribuindo não só para ajudar a fazer um banco competente, eficiente, seguro, mas também por ter uma permanente disposição de construir um sistema financeiro melhor para o Brasil.
Quando o sr. tiver que deixar a presidência daqui a dois anos, além de ficar no conselho, pensa em alguma outra atividade?
Não pensei ainda muito no tema. Vou continuar no conselho e certamente terei uma presença ainda importante no banco.
Como evitar que a competição natural do seus possíveis sucessores atrapalhe a gestão do banco?
De forma geral, temos um ambiente muito bom entre os executivos, e todos entendem claramente a importância, a responsabilidade que cada um tem, e que em algum momento essa escolha terá que ser feita, e que é natural, e todo mundo é maduro o suficiente para saber levar isso dentro do profissionalismo e com a responsabilidade necessária. Além disso todos confiam que o banco tem uma governança ponderada, que saberá fazer isso acima de tudo pensando no que é bom para o banco.
Com que antecedência será feita a sucessão?
Evidentemente que não vamos chegar no último dia e falar olha, então, a solução é esta, mas ainda tem bastante tempo.
O Itaú faz muita questão de dizer que não comprou o Unibanco, mas que houve uma fusão, embora o Itaú seja muito maior e sua marca tenha prevalecido. A mensagem por trás disso é que não se trata de um negócio financeiro, mas de um movimento estratégico?
Exatamente.
E o que o Unibanco trouxe?
Primeiro, os controladores do banco ficaram no negócio, portanto não foi uma compra, foi uma fusão. E, ao ficar no negócio, também têm influência, continuam influenciando os destinos do banco. O Unibanco, embora parecido com o Itaú em muitas coisas, tinha diferenças importantes e trouxe contribuições bastante relevantes, na área de pessoas, principalmente. O Itaú era mais processos e o Unibanco era mais pessoas.
Hoje é o dia do fim do mundo...
Risos Para quem acredita nessas coisas.
Se o mundo acabasse hoje, qual seria sua maior realização?
Acho que morreria em paz. Risos. Missão cumprida.
Estudos indicam que a profecia foi mal interpretada, indicava na verdade o começo do novo ciclo. Se fosse obrigado a começar um novo ciclo, não pudesse mais ser o presidente do Itaú, o que faria?
Eu gosto muito do que eu faço... Preciso pensar... Tendo feito tudo o que eu fiz em banco, não seria em banco que eu iria trabalhar. A essa altura da vida, faria coisas diferentes, bem diferentes, até.
Acho que, se tivesse que fazer algo totalmente não ligado a bancos, eu teria muita vontade de construir uma faculdade. Uma grande faculdade, de ponta, de grande nível, que pudesse educar grandes profissionais. Provavelmente eu começaria por uma faculdade de engenharia.
Estou vendo ali a camiseta do Santos com a faixa de campeão da Libertadores-2011. Foi muito doído ver o Corinthians conseguir o que o Santos não conseguiu?
Não. Não tenho nenhum problema em torcer para outros times brasileiros em partidas internacionais. E particularmente no caso do Corinthians, na faculdade tive amigos muito corintianos, fui muito a jogos do Corinthians na vida, e a gente acaba adquirindo uma simpatia natural. Não tenho aquele ódio de outras torcidas.
E ainda arrisca um futebol?
Não, já passei dessa idade, a essa altura isso é um perigo (risos).
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