Empregar pessoas com down melhora a saúde das empresas
José Fernando de Souza Puglisi, 42 anos, trabalhou seis anos no Pizza Hut até ser "roubado" pela rival McDonald's, há quase um ano.
Sua maior qualidade: o sorriso e a afetividade que melhoram o ambiente de trabalho. E também as vendas de cafezinho e sorvete.
"Fico no pós-venda e tem dia que vendo 40 cafezinhos", diz Fernando, que tem síndrome de Down e sonha chegar a instrutor. "O ambiente parece uma festa, os funcionários são legais, é divertido trabalhar."
A inclusão de pessoas com deficiência intelectual no mercado de trabalho ainda é marginal no país, mas vem crescendo devido à necessidade das empresas de cumprir as cotas exigidas por lei, de 2% a 5% do quadro funcional, para empresas com mais de cem funcionários.
Com a dificuldade de encontrar deficientes físicos ou sensoriais (visual ou auditivo) qualificados -os primeiros grupos a serem incluídos a partir da entrada em vigor da lei-, algumas empresas deram início a programas de inclusão de deficientes intelectuais e encontraram, no processo, grandes benefícios.
O valor que as pessoas com down podem trazer às empresas foi comprovado por uma pesquisa inédita encomendada pelo Instituto Alana e realizada pela consultoria McKinsey. Utilizando uma metodologia própria para medir a saúde das organizações, a McKinsey constatou que a inclusão de pessoas com síndrome de Down costuma gerar impacto positivo em 5 de 9 dimensões: liderança, satisfação do cliente, cultura e clima, motivação da equipe e coordenação e controle.
Foram feitas entrevistas com 2.000 funcionários que trabalham com pessoas com down, além de conversas mais aprofundadas com empresas no Brasil, na Espanha, nos EUA e no Canadá.
Na pesquisa quantitativa, 83% dos entrevistados disseram acreditar que a presença de uma pessoa com down fez com que o líder direto se tornasse mais apto a resolver e administrar conflitos.
"O down possui características que aumentam o desafio à sua inclusão, mas também trazem benefícios adicionais", diz Marcus Frank, sócio da McKinsey e um dos responsáveis pelo estudo.
Enquanto para pessoas com deficiência física as principais barreiras estão relacionadas à infraestrutura, para as com deficiência intelectual as barreiras são de atitude, com a necessidade de adaptação de treinamento e também de preparo da equipe.
Entre as empresas que mais empregam deficientes intelectuais no país estão Raia Drogasil, McDonald's, Carrefour e Pão de Açúcar.
Estudos da McKinsey mostram que empresas com nível alto de saúde possuem, em média, maior probabilidade de apresentar margem de lucro acima da média.
Daniel Guimarães/Folhapress |
Eric Tamutis Pereira ( à esquerda) e Fernando Puglisi, que têm deficiência intelectual e trabalham no McDonald's |
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