Indústria tem em maio a 3º queda seguida e já recua 1,6% no ano
A crise da indústria parece estar longe de seu fim.
Após a queda de 0,5% na produção em abril (dado revisado), a produção do setor manteve a tendência e recuou 0,6% em maio, na comparação livre de efeitos típicos de cada período. Os dados foram divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira (2).
O resultado ficou quase em linha com a previsão do mercado, que previa recuo de 0,5%.
Na comparação com maio de 2013, a indústria registrou uma perda de 3,2%. Já no acumulado do ano, considerando os dados de janeiro a maio, a produção registra uma queda de 1,6%.
O índice acumulado em 12 meses acumula alta de apenas 0,2%. Em abril, o índice em 12 meses havia sido de alta de 0,7% (dado também revisado).
Os dados de maio mostram que a indústria segue fraca no segundo trimestre deste ano.
O setor completou três meses consecutivos de retração na comparação com o mês imediatamente anterior. Maio também teve a maior perda mensal desde dezembro, quando o recuo foi de 3,6%. Tal cenário configura um padrão diferente do de 2013, quando o movimento era de alternâncias entre taxas positivas e negativas.
Segundo André Macedo, gerente da pesquisa industrial do IBGE, a sequência de quedas resultou uma perda de ritmo na taxa em 12 meses. As perdas contínuas se intensificaram em abril e foram mais espalhadas dentre os setores, segundo ele.
"Alguns setores importantes estão com estoques elevados. Há ainda a maior concorrência com produtos importados e o consumo mais fraco, com a inadimplência em níveis elevados, o que compromete a renda das famílias. Outro fator é o encarecimento e maior seletividade do crédito, com juros mais altos", disse Macedo.
SETORES
De abril para maio, o fraco desempenho da indústria foi determinado especialmente pela queda de importantes setores como refino de petróleo e fabricação de álcool (recuo de 3,8%), veículos (queda de 3,9%), metalurgia (queda de 4%) e equipamentos de informática e eletrônicos (recuo de 5%).
No caso de veículos, esta é a terceira retração consecutiva. As montadoras já anunciaram férias coletivas em algumas unidades por conta da demanda reduzida –o que fez o governo prorrogar, mais uma vez, a alíquota reduzida de IPI para alguns modelos, além de móveis.
A perda da indústria foi disseminada entre as atividades: 15 dos 24 ramos pesquisados pelo IBGE mostraram retração.
Dentre as altas, destacam-se apenas alimentos (2,5%) e a indústria extrativa (1,4%) –esta, graças ao avanço da extração de petróleo em maio, mês no qual voltou a subir, ainda que de modo discreto.
Na comparação anual, a queda foi registrada em 18 de 26 atividades*.
DESEMPENHO EM MAIO/2014 CONTRA MAIO/2013
SETOR* | DESEMPENHO (em %) |
---|---|
Veículos automotores, reboques e carrocerias | -20,1 |
Impressão e reprodução de gravações | -13,4 |
Metalurgia | -10,5 |
Produtos diversos | -10,5 |
Móveis | -10,3 |
Produtos de metal | -9,5 |
Outros produtos químicos | -5,7 |
Produtos de madeira | -4,2 |
Produtos têxteis | -4,2 |
Produtos de borracha e de material plástico | -3,6 |
Confecção de artigos do vestuário e acessórios | -3,4 |
Couro, artigos de viagem e calçados | -3,1 |
Máquinas e equipamentos | -3,1 |
Produtos de minerais não-metálicos | -2,9 |
Coque, prods. deriv. do petróleo e biocombustível | -2,4 |
Máquinas, aparelhos e materiais elétricos | -1,8 |
Celulos, papel e produtos de papel | -1,5 |
Outros equipamentos de transporte | -1,2 |
Produtos do fumo | 0,1 |
Produtos alimentícios | 2,1 |
Bebidas | 2,9 |
Perfumaria, sabões e produtos de limpeza | 5,7 |
Indústrias extrativas | 7,6 |
Equips. de informática, prods. eletrônicos e ópticos | 7,8 |
Produtos farmoquímicos e farmacêuticos | 8,1 |
Manut., reparação e instalação de máqs. e equips | 9,6 |
INDÚSTRIA GERAL | -3,2 |
Fonte: IBGE
* Na última revisão metodológica, o IBGE incluiu dois novos setores que não possuem série histórica suficientemente longa para fazer o ajuste sazonal, que elimina os efeitos típicos de cada período e permite a comparação com o mês imediatamente anterior; os ramos incluídos, que aparecem apenas na comparação contra o mesmo mês do ano anterior, são manutenção e instalação de máquinas industriais e impressão e reprodução de gravações
ANO EM QUEDA
Após a forte retração de abril, consultorias, que esperavam uma discreta alta da produção neste ano, refizeram suas contas e passaram a projetar uma perda entre 0,5% e 0,8% do setor em 2014.
Afetam o setor –o mais dinâmico da economia por seus "altos e baixos" e com importante encadeamento com os serviços e a agropecuária (como fornecedor ou "cliente") –juros maiores, crédito restrito, inflação elevada e especialmente empresários com menos disposição a investir neste ano eleitoral.
Além disso, os consumidores estão mais cautelosos diante de um mercado de trabalho já não tão vigoroso como antes e do menor crescimento da renda.
Segundo o Ministério do Trabalho, o recuo da indústria já causou o corte de quase 30 mil vagas de trabalho somente em maio.
PIB
A piora da indústria também mexeu com as previsões para o PIB.
Segundo o Boletim Focus do Banco Central –que colhe projeções entre cerca de cem instituições– divulgado nesta segunda-feira (30), a previsão do mercado para o crescimento da economia passou de 1,16%, na semana anterior, para 1,10%. É o quinto recuo seguido.
A paralisação para férias coletivas de alguns ramos, como o automobilístico, e os feriados decretados em algumas cidades por conta da Copa também prejudicam o setor.
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