Eleição afeta Tesouro Direto e renda fixa
Muito se fala do impacto das pesquisas eleitorais na Bolsa, especialmente nas ações da Petrobras, mas o estrago do sobe e desce da corrida eleitoral é também elevado nos títulos públicos negociados no Tesouro Direto, consequentemente, na maioria dos fundos de renda fixa disponíveis para aplicação.
Neste mês (até o dia 24), alguns dos papéis mais populares vendidos no site do governo chegaram a cair mais de 6%. Foi o caso da NTN-B Principal (Nota do Tesouro Nacional série B) que vence em 2035, cujo preço caiu 6,42%. No período, as ações preferenciais (sem voto) da Petrobras recuaram 13,36%, e o Ibovespa, 7,28%.
A razão, segundo analistas, é que cresceu a chance de o próximo governo conviver com inflação e juros elevados, conforme a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, se recuperou nas pesquisas.
Vale lembrar que esse mesmo papel disparou 10% no mês anterior com a perspectiva contrária, de que os juros desabariam no longo prazo devido a um BC que agiria com severidade (leia-se juros altos em curto prazo) para
trazer a inflação ao centro da meta de 4,5%, abrindo espaço para o país ter juros menores no longo prazo –visão que é vinculada a uma vitória de Marina Silva (PSB).
Editoria de Arte/Folhapress | ||
RENDA QUASE FIXA
Mas como um título de renda fixa pode variar tanto em apenas um mês? É que eles são emitidos com uma taxa de juros previamente estabelecida, digamos de 11% ao ano (juros Selic atual). Se o mercado começa a achar que os juros vão subir para 13%, esse papel (com juros de 11%) perde o apelo e encalha.
A solução é dar um desconto no preço (todo título tem um valor, veja quadro acima) para equipará-lo à nova realidade de juros de 13%.
No caso, para fazer com que um papel de R$ 100 com juros prefixados em 11% fique equivalente a outro do mesmo valor com taxa de 13%, o desconto necessário é de 1,77% –ou seja, deve vender os R$ 100 de dívida por R$ 98,23.
Quem tiver comprado esse papel receberá os R$ 111 acertados em contrato daqui um ano, mas tem em mãos um título que não vale mais R$ 100, e sim R$ 98,23 (perdeu 1,77%) –essa é a marcação a mercado. É por ela que os fundos de investimento vão remunerar o cotista no período.
Agora, quem fez essa aposta até 2035 (caso das NTN-B no exemplo acima) vai perder essa diferença, mas multiplicada por mais 20 anos. Daí a variação de 6,42% em 24 dias.
"Com as eleições se aproximando, a volatilidade dos juros cresce porque o mercado tem posição diferente para cada candidato. Essa avaliação implica sempre movimentos muitos fortes dos juros para cima ou para baixo", disse Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da TOV.
Para Mauro Halfeld, professor da UFPR, o investidor que tiver dúvida sobre o que vai acontecer com os juros (e com a eleição), o melhor é fugir dos títulos com prazos posteriores a 2020 e apostar nos papéis pós-fixados, conhecidos como LFT (Letras Financeira do Tesouro), que seguem a Selic. "Deve colocar pelos menos a metade do capital nesses papéis", disse.
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