Auditoria deve assinar balanço da Petrobras com ressalvas sobre investigação, diz analista
A auditoria PwC, antiga PriceWaterhouse&Coopers, está em uma situação delicadíssima e não tem mais como assinar as contas da Petrobras com parecer sem ressalvas, conforme aparecem provas de desvios na estatal. A avaliação é de Fabio Fuzetti, gestor da Antares Capital e conselheiro da ANA (Associação Nacional de Proteção dos Acionistas Minoritários), cujos relatórios tem ajudado o grupo de acionistas minoritários a contestar a contabilidade dentro do conselho de administração da estatal.
Fuzetti fez dois relatórios sobre a má gestão na estatal, que chegaram ao conselho da Petrobras e à CVM (Comissão de Valores Mobiliários). O primeiro aponta uma perda de mais de R$ 130 bilhões de geração de caixa devido a defasagem nos preços das combustíveis desde 2002, quando a estatal passou a adotar a política de suavizar o repasse de custos internacionais ao mercado interno. O segundo contabiliza entre R$ 40 bilhões e R$ 48 bilhões o valor destruído do acionista nas refinarias Abreu Lima e Comperj, devido aos atrasos e superfaturamento nas obras.
Folha - Como fica a credibilidade da Petrobras após o atraso da divulgação do balanço e com a auditoria se recusando a assinar as contas da empresa?
Fabio Fuzetti - A credibilidade da Petrobras já estava arranhada havia muito tempo. A defasagem dos preços dos combustíveis queimou mais de R$ 130 bilhões da empresa desde 2002. É mais do que a capitalização da empresa em 2010. Fizemos contas que mostram que os atrasos e os aumentos de custo nas obras das refinarias tiveram um perda adicional entre R$ 40 bilhões e R$ 48 bilhões. Todos esses números foram apresentados ao conselho da Petrobras e à CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
Por que a Price não deve ter assinado o balanço da Petrobras?
O momento da Petrobras, com as investigações da operação Lava Jato, é muito perigoso para a Price. Estão sendo produzidas provas de que tem coisa errada lá. Sabendo dessas coisas, ela não poderia assinar. Os R$ 10 bilhões em propinas da operação Lava Jato teriam que entrar como despesa no balanço, por exemplo, e não capitalizadas no ativo. A Price também deve estar olhando esse write-off (baixa contábil, que significa assumir como prejuízo) de até R$ 48 bilhões no custo das obras das refinarias. Esse é o teor dos depoimentos do Paulo Roberto Costa [ex-diretor de Abastecimento, que aceitou fazer delação premiada]. Se isso acontecer, a empresa pode perder o grau de investimento [selo de bom pagador da dívida]. Provavelmente, a Price deve estar querendo ser trocada como auditora da Petrobras.
Até onde as investigações da SEC (CVM dos EUA) e do Departamento de Justiça dos EUA podem chegar e quais as consequências para a empresas e os gestores? E no Brasil?
O foco inicial deles é saber se alguma empresa americana colaborou com a corrupção no Brasil. Não vão sossegar até chegar a isso. Essas investigações podem levar a multas –muito mais pesadas do que na CVM brasileira– e até a suspensão das negociações dos papéis da empresa. No Brasil, os diretores e conselheiros podem ficar com os bens indisponíveis.
Como a empresa pode suprir a necessidade de capital para cumprir seu plano de investimento?
A Petrobras precisa e vai precisar de muito capital. Será muito difícil captar recursos no mercado de capitais aos juros atuais, especialmente se a empresa perder o grau de investimento. Uma capitalização por venda de ações como foi em 2010 é inviável; todo o dinheiro captado foi perdido com a defasagem nos preços dos combustíveis. A Petrobras destruiu valor dos acionistas.
Quais medidas a empresa poderia tomar para recuperar a credibilidade?
Não vejo empenho dos atuais gestores e deste governo neste sentido. Por isso, vendi as ações da empresa após a eleição. Primeiro, ela teria que cumprir a Lei das S.A. e Lei do Petróleo, que preveem que a empresa atue segundo as regras de livre mercado. Subsidiar o preço de combustíveis para controlar a inflação, como afirma o ministro Guido Mantega, é contra essas duas leis.
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