Fraude em emissões faz Volkswagen ter 1º prejuízo trimestral em 15 anos
A Volkswagen divulgou nesta quarta-feira (28) o primeiro prejuízo trimestral em pelo menos 15 anos. Os resultados foram impactados por provisões relacionadas ao escândalo de fraude em testes de emissões de poluentes de motores a diesel. A empresa ainda reduziu a estimativa de lucro para o ano.
O grupo alemão teve prejuízo operacional de terceiro trimestre de € 3,48 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões, segundo cotação de 27 de outubro), em linha com expectativa de prejuízo de € 3,47 bilhões da Reuters.
A companhia confirmou que o prejuízo divulgado nesta quarta-feira é o primeiro resultado trimestral negativo em pelo menos 15 anos, mas, por causa de mudanças contábeis, a empresa não pode especificar quando o último prejuízo ocorreu.
A Volkswagen reservou € 6,7 bilhões (R$ 28,9 bilhões) no trimestre para cobrir custos relacionados à fraude que envolveu 11 milhões de carros da marca no mundo, ligeira alta ante os 6,5 bilhões (R$ 28 bilhões) anunciados na semana em que o escândalo veio a público, em 18 de setembro.
Como resultado, a companhia espera que o lucro operacional do ano fique "significativamente abaixo" do recorde atingido em 2014, de € 12,7 bilhões (R$ 54,9 bilhões).
Excluindo custos com a fraude, a montadora ainda espera ter margem de lucro operacional de entre 5,5% e 6,5% neste ano, depois de registrar 6,3% em 2014.
A Volkswagen planeja cortar os investimentos em € 1 bilhão (R$ 4,3 bilhões) por ano em sua principal divisão, responsável por cinco milhões de carros que serão alvo de recall. A divisão de luxo Audi, fonte de cerca de 40% do lucro do grupo, também planeja cortes nos investimentos.
As vendas do grupo, que também incluem a marca Porsche, caíram 1,5% em setembro, para 885.300 carros e recuaram 3,4% no terceiro trimestre, para 2,39 milhões de unidades.
Com isso, a montadora alemã ficou atrás da japonesa Toyota na liderança das vendas mundiais nos acumulado dos nove primeiros meses deste ano após ter assumido a primeira posição três meses antes.
ENTENDA O CASO
A Volkswagen admitiu ter instalado em 11 milhões de veículos a diesel pelo mundo um sistema que fraudava testes de detecção de poluentes em várias marcas.
O escândalo veio à tona em 18 de setembro, quando a Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA acusou a empresa de usar um software que faz com que os carros com motorização TDI (turbodiesel), como o Golf, o Passat o Jetta, pareçam menos prejudiciais ao meio ambiente do que de fato são.
Isso levou o governo americano a obrigar a Volkswagen a realizar um recall de quase meio milhão de carros.
De acordo com reportagem do jornal alemão "Bild am Sonntag", a fraude ocorre desde 2008. Por não encontrarem uma fórmula que os permitisse cumprir ao mesmo tempo os limites de emissões de poluentes como o de custos, engenheiros teriam recorrido naquele ano ao software para evitar que um projeto que era de grande importância para a companhia tivesse que ser paralisado.
O motor teria começado a ser produzido em série não só para o mercado americano, mas para o mundial.
No Brasil, o único modelo com motorização semelhante à envolvida na fraude global é picape média Amarok, que é produzida na Argentina e tem motor 2.0 turbodiesel. Mais de 17 mil unidades, produzidas entre 2011 e 2012, possuem o dispositivo que otimiza artificialmente os números medidos em laboratórios, segundo a empresa.
No fim do mês passado, o Ibama informou que abriu uma investigação para saber se a fraude também ocorreu no mercado brasileiro.
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