Despesas do governo têm de aumentar, diz artífice das 'pedaladas'
Pedro Ladeira/Folhapress | ||
O ex-secretário do Tesouro Nacional Arno Augustin durante sua última coletiva de imprensa no cargo |
Um dos principais artífices das pedaladas fiscais, motivo pelo qual Dilma Rousseff está afastada do cargo, Arno Augustin, secretário do Tesouro no primeiro mandato dela, fez críticas à política econômica adotada pela ex-chefe a partir de 2015.
Ele também não poupou a ideia de limitar os gastos públicos públicos, anunciada pelo presidente interino, Michel Temer.
"As despesas primárias devem aumentar, o contrário do que propõe o governo Temer", disse.
"Eles querem acabar com a vinculação dos gastos de saúde, educação e ciência e tecnologia, só isso, uma coisinha assim", acrescentou, com ironia, referindo-se a áreas cujos gastos são vinculados à receita do governo.
Arno fez rara aparição pública nesta quarta (15) em São Paulo, no seminário "O Brasil do Golpe: o Plano Temer sob análise", promovido pela Fundação Perseu Abramo, que é presidida pelo economista Marcio Pochmann, presidente do Ipea durante as gestões de Lula e Dilma.
"Os novos dirigentes não falam sobre como gerar crescimento econômico, eles professam sua fé", disse Arno. "Eles dizem que, se a gente gastar menos, tudo vai se acertar. Isso é uma construção política, ideológica e cultural."
Sobre a ex-chefe, ele criticou o aumento da taxa de juros em 2015. Disse que a "opção" foi tomada "em nome de uma inflação produzida pelo governo", referindo-se à correção das tarifas de energia, congeladas durante sua passagem pelo Tesouro.
Embora o congelamento tenha levado empresas à dificuldade financeira, Arno disse que o reajuste não era necessário, pois refletia um aumento temporário produzido pela seca.
Ao aumentar os juros, disse, se "optou por não gerar crescimento", mas gerar um "saldo financeiro", em benefício do sistema financeiro. "É opção política, não uma necessidade econômica."
Arno defendeu subsídios concedidos na sua gestão e criticou a ideia do governo Temer de antecipar o pagamento, pelo BNDES, de recursos que haviam sido emprestados pelo Tesouro ao banco. O BNDES devolverá R$ 100 bilhões em três anos.
"Esse dinheiro não era pedalada? Não derrubaram uma presidente por causa disso?", ironizou Arno. "Estão tirando recursos do setor real para entregar ao sistema financeiro."
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