Crescem doações de empresários e de ex-alunos a fundos de escolas de elite
Eduardo Anizelli/Folhapress | ||
José Roberto Ermírio de Moraes Filho, numa sala do Insper |
Ações de ex-alunos e contribuições de empresários têm dado impulso a fundos criados por escolas de elite do país para bancar bolsas de estudo e financiar pesquisas.
O movimento vem abrindo as portas de faculdades como o Insper e a FGV –que cobram mensalidades de R$ 3.000 a R$ 5.000– para estudantes de baixa renda e permitindo que escolas públicas como a Politécnica da USP financiem projetos com recursos privados.
O fundo criado pelo Insper para viabilizar a graduação de jovens talentosos de famílias pobres deve fechar 2016 com quase R$ 4,6 milhões, valor quatro vezes maior do que os R$ 880 mil de 2011.
O salto permitiu que o número de alunos com bolsas integrais da instituição passasse de 9 para 78 no mesmo período. As bolsas parciais, que são restituíveis, passaram de 90 para 136.
Os recursos ajudam a cobrir as mensalidades e, para bolsistas integrais –com renda per capita mensal de até 1,5 salário mínimo–, há uma ajuda de custos de R$ 1.000.
Empresários como Marcel Telles (Ambev) e Anderson Birman (Arezzo) contribuíram com mais da metade do dinheiro. Empresas e fundações deram um terço. Os ex-alunos entraram com pouco mais de 10% das doações, mas têm desempenhado um papel ativo na busca da instituição por novas contribuições.
Um dos herdeiros do grupo Votorantim e ex-aluno do Insper, José Roberto Ermírio de Moraes Filho, e seus sócios na Perfin Investimentos criaram um fundo que doa à instituição suas receitas com taxas de administração e desempenho. O Perfin Educar destina cerca de R$ 200 mil por ano ao fundo de bolsas.
"O projeto presta papel importante para a sociedade, e sem ligação com o governo. Resolvemos apoiar doando parte da nossa capacidade de gestão", diz Moraes Filho, que se formou em administração no Insper em 2007.
Birman conta que foi convencido a se tornar doador por um funcionário que estudou no Insper.
"Sempre achei que competência não escolhe berço e quis ajudar a formar ótimos profissionais", diz o chefe do conselho da Arezzo.
GERAÇÃO MILÊNIO
A geração do milênio, com gente nascida entre os anos 80 e 90, contribui para a cultura das doações em outras escolas. Foi de uma ex-aluna a ideia de criar o fundo da FGV Direito de São Paulo que também ajuda a financiar estudantes de baixa renda.
"Fui da primeira turma. O único defeito da escola era a falta de diversidade socioeconômica", afirma a advogada Luisa Moraes Ferreira.
A FGV Direito segue o modelo do Insper, em que o dinheiro captado é revertido ao fundo e gasto anualmente. Hoje, 16 alunos têm mensalidades bancadas pela FGV e ganham R$ 850 por mês para cobrir despesas.
A instituição está formando, em paralelo, um fundo como os "endowments" comuns nos Estados Unidos, em que o patrimônio é preservado e só o rendimento dos investimentos é usado. A inspiração veio do fundo Amigos da Poli, da USP.
Em 2011, antes de receber o diploma da Poli, Ricardo Milani juntou-se a outros estudantes que queriam arrecadar recursos para projetos. "Não tínhamos dinheiro nem confiança de ninguém", diz.
Eles foram ousados, enviando e-mails a empresários que tinham passado pela Poli. Entre os associados estão Luis Stuhlberger, da gestora Verde, e o banqueiro Roberto Setubal, do Itaú Unibanco.
Doações para o fundo de bolsas
BARREIRAS
As instituições de ensino superior reclamam de barreiras tributárias e regulatórias que dificultam as doações para a educação no Brasil.
Diferentemente dos EUA, onde há incentivos fiscais para contribuições na área educacional, no Brasil doações de pessoas físicas superiores a R$ 50 mil pagam imposto.
Em São Paulo, a alíquota do ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação) é de 4%. No caso de empresas, a lei permite a dedução de até 2% do valor doado sobre o lucro operacional.
"Para estimular as doações, é preciso reduzir o ônus tanto para quem doa quanto para quem administra os recursos doados", afirma Caio Mário Pereira Neto, da FGV.
Para o professor Thiago Bottino, presidente do fundo de bolsas da FGV Direito Rio, "a hegemonia do ensino superior norte-americano" se deve aos chamados "endowments". O maior desses fundos, da Universidade Harvard, soma cerca de US$ 36 bilhões.
"No Brasil, o Estado não tem a preocupação de estimular a cultura filantrópica", afirma o professor Bottino.
CONTRAPARTIDAS
Entre as universidades públicas, especialistas relatam a dificuldade de oferecer contrapartidas para doadores.
Máximo González, do Amigos da Poli, da USP, diz que o fundo quer atrair novos doadores além dos tradicionais, que em geral têm laço emocional com a universidade.
"Queremos partir para doações de empresas que aceitem contrapartidas, como placas com o nome dela na escola, o uso de uma sala ou o acesso aos currículos dos alunos para recrutamento", afirma González.
Oferecer esses benefícios, porém, não é simples. Há pouco mais de dois anos, a Justiça obrigou a USP a devolver uma doação de R$ 1 milhão à família do banqueiro Pedro Conde, que havia contribuído para a reforma de um auditório da Faculdade de Direito e queria que o local fosse batizado com seu nome.
Na mesma época, Harvard recebeu da família de um ex-aluno uma doação de US$ 350 milhões para o ensino de saúde. A contrapartida foi renomear o edifício. Em 2015, a USP publicou um programa para facilitar relações da instituição com empresas.
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