BNDES veta reestruturação da JBS, e ações despencam nesta quarta

Renata Agostini
São Paulo

BNDES barrou a reestruturação da JBS, operação que a empresa vinha dando como certa. Com a notícia, as ações da empresa caíram 11,45% nesta quarta-feira (26), fazendo ela perder, em um só dia, quase R$ 4 bilhões do seu valor de mercado.

O presidente da JBS, Wesley Batista
O presidente da JBS, Wesley Batista - Fabio Braga/Folhapress

Anunciada em maio, a mudança seria radical: a companhia teria sede na Irlanda, domicílio fiscal no Reino Unido e ações na Bolsa de Nova York. A operação brasileira passaria a ser uma das subsidiárias da JBS Foods Internacional.

A carta com o aviso do veto à reestruturação chegou à sede da JBS, em São Paulo, na noite de terça-feira (25). O comunicado aos acionistas foi feito na manhã seguinte.

Wesley Batista, presidente e um dos donos da companhia, estava no Colorado, nos EUA. Foi de lá que, durante quase uma hora e meia, tentou acalmar os investidores. A analistas brasileiros e estrangeiros classificou a notícia como "desapontadora", mas evitou criticar o banco. Em tom tranquilo, disse que a empresa respeita a decisão e cancelará a operação.

Segundo ele, a empresa anunciará nos próximos meses alternativas ao plano barrado pelo BNDES. Uma das possibilidades é abrir o capital lá fora apenas da empresa americana, a JBS USA.

Outra é retomar os planos de lançar ações da Seara. O banco estatal não pode vetar esses tipos de operação.

DESNACIONALIZAÇÃO

O BNDES, que desde junho é comandado por Maria Silvia Marques, pouco explicou. Limitou-se a divulgar uma nota no início da noite em que dizia que a proposta implicaria na "desnacionalização da empresa" ao transferir para o exterior ativos que representam 85% de sua geração de caixa operacional.

Segundo o texto, haveria "repercussões de diversas naturezas" para os acionistas, que teriam de se submeter à legislação estrangeira. O BNDES não detalhou, contudo, quais problemas enfrentaria ou qual prejuízo teria com a reestruturação.

A decisão ocorre num momento em que o BNDES é pressionado a mudar sua política de investimentos e sofre pressão de órgãos de controle, como o TCU.

O tribunal já apontou indícios de prejuízo nas operações com a JBS –o BNDES e a empresa afirmam que houve lucro de mais de R$ 5 bilhões para o banco.

Sócio desde 2007, o BNDES chegou a ter um terço da JBS após desembolsar mais de R$ 8 bilhões –incluindo investimento do banco na Bertin, adquirida pelos Batista posteriormente. Atualmente sua fatia é de pouco mais de 20%, mas mantém direito a vetar decisões estratégicas.

A entrada do BNDES permitiu que a empresa colocasse em ação um agressivo plano de aquisições, a começar pela americana Swift Food em 2007. Com a compra da americana Pilgrim's Pride em 2009, selou de vez a entrada no mercado internacional.

A companhia, que começara como um frigorífico em Goiás na década de 50, tornava-se assim o mais bem-acabado exemplo da estratégia do governo PT de criar "campeãs nacionais". Com operação em 22 países e R$ 160 bilhões em receitas, a JBS é hoje a maior produtora de proteína animal do mundo.

SIGA O DINHEIRO

Para a cúpula da empresa, mudar a sede para o exterior era a melhor forma de aumentar o valor da companhia e ter acesso a empréstimos baratos. Apesar de ter a maior parte das receitas nos EUA, a JBS é tratada por investidores e banqueiros como empresa de mercado emergente.

O desenho apresentado –e vetado pelo BNDES– foi resultado de estudo feito pela PwC. Segundo Batista, concluiu-se que, pelos acordos bilaterais existentes, haveria mais vantagens em ter a sede na Irlanda do que nos EUA.

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