Apoio do governo não se traduz em mais empresas inovadoras
Os dados de inovação no país mostram que aumentou o número de empresas que recebem suporte do governo, mas isso não resultou em mais inovação.
Segundo Fernanda de Negri, diretora de estudos setoriais do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o percentual de empresas que recebiam apoio do governo para inovação subiu de 19%, em 2000, para 46%, em 2014. Mas o número de inovadoras no setor industrial (o único cuja evolução é acompanhada desde o início da pesquisa) subiu menos, de 31,5% para 36,4%.
"Aprendemos com isso que só política pública não funciona. É preciso ter dinheiro público, em todos os países do mundo se faz isso. Mas talvez nós não tenhamos conseguido gerar condições competitivas para que as empresas sejam levadas a inovar."
Investimentos em pesquisa e desenvolvimento -
Segundo ela, o mercado doméstico protegido contra concorrentes estrangeiros em muitos setores e dificuldades de entrada a novos empreendedores são barreiras que desestimulam a competição e minam a vontade de inovar.
"O ambiente de negócios muito complexo, em que é difícil conseguir licenças para operar, alvarás etc., cria uma série de barreiras à entrada de novos empreendedores, que desestimula a competição."
As políticas desenvolvidas pelo governo também precisam de revisão, como o Inovar-Auto e a Lei de Informática, segundo a especialista. Os incentivos que dão desconto no imposto devido, afirma De Negri, poderiam ser concedidos apenas sobre a parcela adicional de investimento em Pesquisa e Desenvolvimento das empresas.
Taxa de inovação por setor - Número de empresas inovadoras em relação ao total, em %
COMPARAÇÃO
"Se comparar o Brasil com outros países em desenvolvimento, não gastamos tão pouco assim [em recursos públicos] em inovação."
Levantamento da OCDE com dados de 2013 (mais recentes) mostra que o Brasil aplica o equivalente a cerca de 0,15% do PIB em recursos públicos para financiar ações de inovação no setor privado, mais do que Austrália e até do que a Alemanha.
Isso inclui incentivos fiscais (desconto de impostos) e subvenção para empresas (crédito a fundo perdido). O investimento privado é que é pequeno no Brasil se comparado com outros países, observa De Negri.
Segundo o IBGE, o investimento das empresas (com recursos próprios e públicos) em pesquisa e desenvolvimento foi de 0,61% do PIB em 2014.
Diante da limitação orçamentária do governo, De Negri prevê que os recursos públicos dedicados à inovação devem se escassear, após um período de aumento do suporte público às empresas.
O teto de gastos do governo, que entra em vigor neste ano e fixa um limite de crescimento das despesas, deverá restringir recursos, diz De Negri, imaginando que o setor perca na disputa por verba.
"Não adianta termos investido até razoavelmente e agora não termos dinheiro nenhum para inovação. Tem que ter continuidade", diz.
A série "Marcas da Crise" mostra os impactos provocados pela recessão, talvez a mais profunda da história do país. Alguns dos efeitos podem afetar a capacidade de reação da economia. Veja as outras reportagens da série em folha.com/marcasdacrise
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Calculadoras
O Brasil que dá certo
s.o.s. consumidor
folhainvest
Indicadores
Atualizado em 23/04/2024 | Fonte: CMA | ||
Bovespa | -0,33% | 125.148 | (17h33) |
Dolar Com. | -0,77% | R$ 5,1290 | (17h00) |
Euro | -0,33% | R$ 5,5224 | (17h31) |