CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

A principal sessão no dia do encerramento dos fóruns de Davos chama-se "Panorama Econômico Mundial". Mas, a deste ano, deveria chamar-se "Panorama Econômico Mundial, fora o Brasil", que parece ter caído do mundo.

De fato, a palavra Brasil não foi mencionada uma única vez ao longo dos 62 minutos em que seis especialistas debateram as perspectivas para o futuro imediato. Tampouco América Latina apareceu.

Nem mesmo quando um nigeriano perguntou aos debatedores o que tinham a dizer sobre África (igualmente omitida) e América Latina, Christine Lagarde, a diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), teve a caridade de referir-se à América Latina.

Falou ligeiramente sobre a África, mas permanece o fato de que as duas regiões não estão precisamente no radar das elites econômicas que, todo janeiro, reúnem-se em Davos.

É compreensível que assim seja: o mundo vai bem, tanto que, pela primeira vez em seis anos, o FMI não se viu obrigado a revisar para baixo as perspectivas de crescimento.

Manteve-as em 3,4% para este ano e em 3,6% em 2018.

No caso do Brasil, o sinal é invertido: menos 3,5% no ano passado. Neste ano, a projeção é de um magérrimo 0,2% —positivo, por fim, mas insuficiente para compensar dois anos de brutal retrocesso.

TRUMP E O MUNDO

Quanto ao resto do mundo, Davos, pelo menos no debate final, mostrou razoável otimismo, a ponto de Martin Wolf, principal colunista do "Financial Times" e mediador do debate, ter resumido a conversa com uma frase cautelosa: "Talvez a revolução em Washington não seja tão devastadora quando muitos esperam."

Alusão, como é óbvio, ao mistério que é a administração Donald Trump, que nem havia tomado posse quando Davos-2017 terminava.

A mesma torcida benevolente veio de Wolfgang Schäuble, o todo poderoso ministro alemão de Finanças: "Não posso realmente imaginar um grande dano para o livre comércio. Não creio que os Estados Unidos delegarão à defesa do livre comércio à China."

Refere-se às seguintes ameaças do candidato Trump, reafirmadas depois da vitória, de impor medidas protecionistas. Trump acenou também com um formidável pacote de estímulos para a economia norte-americana, na contramão da ortodoxia, que manda acima de tudo controlar os gastos públicos.

Lagarde vê nessa combinação de estímulo fiscal com medidas na área comercial "um balanço líquido não positivo".

Laurence Fink, único empresário à mesa, executivo-chefe da BlackRock, a maior gestora de ativos do planeta, também manifestou suas dúvidas ainda que, no geral, tenha se mostrado simpático ao novo presidente. "Há uma incerteza sobre como se vai pagar pelo pacote de estímulo", disse.

Sugeriu, a propósito, ser agradável com os credores norte-americanos, o maior dos quais é o Japão, seguido pela China, justamente o país que Trump mais tem atacado.

Em meio às muitas concordâncias, uma se destacou: o dólar forte veio para ficar no futuro imediato. Azar dos países e das empresas que têm dívidas em dólar.

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