Com parecer desfavorável, Kroton e Estácio ficam pessimistas sobre fusão
Ricardo Moraes - 30.jun.16/Reuters | ||
Prédio da Estácio, que negocia fusão com a Kroton |
Kroton e Estácio receberam um duro parecer da Superintendência-geral do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), nesta sexta-feira (3), contra o negócio que pretende formar um gigante do ensino superior.
Após avaliar o documento, executivos das duas maiores empresas do setor começaram a considerar a possibilidade de que a fusão entre elas não se concretize.
No documento, a Superintendência identificou problemas graves de concentração de mercado com a operação e decidiu não aprová-la da forma como foi apresentada.
Nos próximos dias, o caso será remetido ao tribunal do Cade. Os conselheiros avaliarão então as soluções oferecidas pelas empresas e decidirão se o projeto poderá seguir adiante.
O texto afirma que se trata de "uma operação que não pode ser aprovada sem restrição" e que "mesmo com alguma eventual restrição" talvez não seja possível.
A união formaria um gigante de 1,5 milhão de alunos e 25% de participação mercado de ensino superior privado.
Após ser informada, a Kroton divulgou comunicado dizendo que as "companhias buscarão uma solução negociada junto ao tribunal do Cade para afastar preocupações concorrenciais identificadas e obter a aprovação".
Internamente, porém, a partir da leitura do documento, a avaliação das partes foi a de que o texto é forte e que será "muito difícil encontrar um remédio cabível para concretizar o negócio", segundo a Folha apurou.
Enquanto estudavam o relatório de 194 páginas, na tarde desta sexta, alguns executivos ainda tentavam fazer avaliações esperançosas, lembrando que, há cerca de três anos, a Superintendência fez observações semelhantes na ocasião da junção entre Anhanguera e Kroton.
"Kroton e Anhanguera são as principais concorrentes e também as mais eficientes, o que torna ainda mais indesejável a unificação completa de suas atividades", dizia o texto da Superintendência em dezembro de 2013.
À época, as instituições contornaram o caso mudando sua composição acionária e vendendo a Uniasselvi para buscar a aprovação do órgão.
REPERCUSSÃO
Especialistas afirmam que, agora, porém, a situação é outra: desde que o governo anunciou restrições ao Fies (crédito estudantil), em 2014, o programa nunca mais foi capaz de alavancar os negócios das gigantes do ensino superior da mesma maneira.
"O Cade sugere impugnação, mas essa publicação só adia a decisão, que deve ocorrer até 27 de julho", afirma William Klein, presidente da consultoria Hoper.
O especialista diz acreditar que as empresas ainda têm ativos que poderiam ser vendidos para satisfazer o Cade. "Minha aposta é que será a Uniderp."
Segunda maior empresa no mercado de educação a distância, a Uniderp é uma marca estratégica para a Kroton.
A Folha antecipou em novembro que uma das propostas da Kroton ao Cade era vender a UniSEB, instituição de ensino a distância da Estácio, e um centro universitário, que absorveria as outras bandeiras de EaD da Estácio. A proposta foi insuficiente.
Segundo o texto da Superintendência, permitir a fusão Kroton/Estácio seria tornar inválida a solução dada na ocasião do negócio Kroton/Anhanguera, de vender a Uniasselvi, considerando que a Estácio é hoje até maior do que a Uniasselvi.
"Recentemente, a Kroton adquiriu a Anhanguera. Aplicamos a restrição e, mesmo assim, fez um novo movimento de aquisição. Isso nos preocupou", disse Kenys Machado, superintendente-geral-adjunto do Cade.
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