Recessão faz setor de produtos para animais de estimação ter dias de cão
Keiny Andrade/Folhapress | ||
Ana Tancredi, responsável por abrigo cujas doações despencaram |
A indústria de produtos para animais de estimação teve dias de cão em 2016. Patinou no mercado interno e fechou o ano com queda nas exportações, segundo a Abinpet, a associação do setor. Também foi osso para veterinários, tosadores e até para os bichos que aguardam adoções.
"O animal tem o custo de ração, vacina e banho. Depois que as pessoas perdem o emprego, fica pesado", diz Claudia Demarchi, presidente da ONG Clube dos Vira-Latas, que cuida de 600 animais vítimas de maus-tratos.
O número de doações feitas pelo abrigo caiu de 400 até 2014 para menos de 300 no ano passado. "É preciso ter consciência ao adotar. É melhor não pegar se não tiver condições, porque o animal acaba indo parar na rua", diz.
Daniela Bochi, gerente de marketing da Cobasi, descreve uma mudança no comportamento do consumidor que atingiu a demanda por serviços de prevenção em clínicas veterinárias. Uma parte dos clientes passou a usar produtos antipulga só quando o parasita aparece, em vez de usar o tratamento de rotina.
"As pessoas não deixam de atender o animal de estimação, mas o banho e tosa caiu muito. Mesmo na alimentação, houve alguma migração para produtos de qualidade inferior", diz José Edson Galvão de França, presidente-executivo da Abinpet.
A crise também levou parte dos doadores que ajudam a manter a Vira Lata é Dez, diz Ana Tancredi, responsável pelo abrigo, que tem hoje cerca de mil animais.
"Não podemos mais receber animais porque está caro mantê-los. Nosso custo mensal chega a R$ 100 mil."
O setor teve, em 2016, crescimento de cerca de 2,5% no volume de negócios no mercado interno, metade do registrado nos anos anteriores.
Serviços e produtos considerados mais supérfluos sentiram o impacto. Mas o mercado pet é resiliente; donos de animais de estimação não deixam de alimentá-los.
Além disso, mesmo atravessando um período difícil, o setor ainda é expressivo. No Brasil há mais de 130 milhões de animais de estimação, de acordo com o IBGE.
A rede Petz viu o crescimento desacelerar de 25% para 12% em 2016 na base mesmas lojas, mas não abandonou seu plano de expansão. "Quem trocava a caminha do animal todo mês, por exemplo, diminuiu a frequência", diz Sergio Zimerman, presidente da empresa.
Já nas exportações, a despeito da desvalorização do real, a indústria teve queda de US$ 450 milhões em 2014 para US$ 236 milhões no ano passado, o pior resultado em seis anos, segundo a Abinpet.
"Foram barreiras comerciais. A China se fechou para o mercado brasileiro de alimento para animais de estimação em 2015 e só reabriu em 2016. Mas estamos recuperando", afirma França.
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