Agronegócio sofre com falta de definições e de crédito

MAURO ZAFALON
COLUNISTA DA FOLHA

O Brasil está no caminho certo quando se trata de agronegócio. É líder mundial em uma dezena de produtos. Em alguns, lidera a produção; em outros, as exportações. No café, no suco de laranja e no açúcar, está à frente tanto na produção como nas exportações mundiais.

Parece muito, mas é pouco. A extensão territorial, as condições climáticas e a diversidade de solos permitiriam avanços em várias outras frentes. Frutas, legumes, leite e até peixes deveriam ter maior destaque na pauta de produção e de exportação brasileiras –são itens altamente rentáveis.

O país deverá produzir 240 milhões de toneladas de grãos neste ano. Um volume jamais atingido, mas concentrado em soja e milho. Juntos, representam 89% da produção total brasileira. Se houver qualquer problema com um deles, grande parte dos produtores ficará sem renda.

Outro item de destaque são as carnes. O Brasil passou de importador a um dos principais exportadores mundiais em pouco tempo –com grande participação no mercado tanto na carne bovina como na de frango. Começa também a aprender o caminho externo da carne suína.

Produz-se muito e com qualidade, mas, mesmo com essa liderança em proteínas, o país não tem um mercado considerado seguro. Basta olhar para as crises vividas no primeiro semestre deste ano, quando várias das principais empresas do setor se viram envolvidas em práticas pouco recomendáveis.

A cada crise, o país precisa fazer um grande esforço de recuperação externa. Mercados custosamente conquistados adotam medidas de retaliação comercial, que devolvem o país aos primórdios das negociações.

FORA DA PORTEIRA

Outro ponto favorável para o agronegócio brasileiro é a grande quantidade de terra e de água à disposição. Vantagens muitas vezes anuladas, no entanto, por deficiências fora da porteira –como a dificuldade logística.

O volume produzido aumenta, mas a logística continua deficitária e cara, fazendo o produtor brasileiro perder competitividade externa.

Um dos exemplos é a falta de armazenagem para os volumes recordes de produção de soja e de milho neste ano.

Boa parte do milho acaba estocada fora dos armazéns, sofrendo os efeitos do clima, o que acarreta perda de qualidade. Já a agropecuária sofre pela falta de políticas de longo prazo, incluídos programas de renda e de seguro.

A soja não tem interferência do governo –nem demanda isso. O apetite da China se encarrega da oleaginosa.

O agronegócio precisa não de subsídios, mas de definições políticas e de crédito que garantam a sobrevivência dos que quiserem ficar fora da dobradinha soja e milho.

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