BRF negocia contrato com ex-vice que deixou empresa após ser condenado
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Unidade da BRF, empresa que terá novo presidente escolhido até o fim deste ano |
A BRF negocia a contratação de um ex-executivo da empresa que foi forçado a renunciar por ter sido condenado à prisão por fraude.
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários), xerife do mercado acionário, apura o caso a partir de denúncia de que ele ganharia R$ 6 milhões por 18 meses de trabalho.
José Roberto Pernomian Rodrigues deixou a maior processadora de alimentos do Brasil em agosto, depois de a Folha revelar que ele havia sido sentenciado em segunda instância em um processo de importação de computadores sem relação com a BRF, do qual ele recorre alegando inocência.
A BRF afirma que não foi notificada sobre o caso. Pessoas ligadas à empresa confirmam as tratativas, mas sugerem que os valores envolvidos são bem menores. JR ainda frequenta a BRF.
O caso não passou despercebido pelos acionistas minoritários da empresa e por outros interessados. Um advogado cotista do fundo de pensão da BRF, Edison Peixoto, enviou denúncia à CVM, que abriu processo como é praxe.
"Não faz sentido pagar isso, assim como não faz sentido pagar ao bônus de R$ 20 milhões que deram ao presidente que está demissionário após deixar a empresa no chão", disse Peixoto, que trabalhou por 34 anos na Sadia, marca pertencente à BRF, e deixou a empresa em 2011.
Ele se refere a Pedro Faria, diretor-presidente da BRF que irá deixar o cargo no fim do ano. Ele saiu após o agravamento da crise na empresa, com R$ 925 milhões de dívidas acumuladas desde 2016 e a disputa interna evidenciada pela saída de JR.
O ex-vice era o braço direito do presidente do Conselho de Administração da BRF, Abilio Diniz. Sua queda e o anúncio da demissão de Faria quatro semanas depois acentuaram o rearranjo de poder dentro da empresa, que busca o novo nome para comandá-la globalmente fora de seus quadros.
Abilio e Faria negam crise, e atribuem o mau desempenho da BRF à recessão e ao impacto em sua imagem pela Operação Carne Fraca da Polícia Federal, que desde março apura irregularidades na área de frigoríficos.
A BRF sustenta que a condenação de JR, além do fato de ele ser investigado em outros processos judiciais, em nada afetaram seu desempenho na empresa.
Trazido por Abilio, a quem já havia assessorado na disputa perdida pelo Pão de Açúcar, ele começou na BRF em 2013 e chegou a vice de Integridade em 2016.
Os acionistas minoritários reclamam também de decisões de gestão Abílio, iniciada em 2013, e Faria, de 2014. O endividamento da BRF subiu de residual para 4,9 vezes o Ebitda (lucro antes de pagamento de juros, impostos, depreciação e amortizações). A ação da empresa, que chegou a R$ 70 sob Abílio/Faria, está em R$ 45,80.
OUTRO LADO
A BRF não quis comentar a negociação para contratação de José Roberto Pernomian Rodrigues, conhecido como JR.
Sobre o processo eletrônico 19957.009598/2017-88 da CVM, aberto após denúncia feita pelo advogado Edison Peixoto em 13 de setembro, a empresa afirma que não recebeu nenhuma citação sobre o caso.
"Como de costume, caso venha a ser notificada pelo órgão regulador, prestará as eventuais informações e esclarecimentos cabíveis", disse, em nota.
Sobre a outra queixa de Peixoto, acerca dos supostos R$ 20 milhões a que o presidente demissionário Pedro Faria teria direito como bônus, a BRF diz que "respeita os limites de remuneração globais estabelecidos pelos acionistas nas Assembleias Gerais Ordinárias, realizadas anualmente, as subsequentes deliberações do Conselho de Administração a respeito do assunto e o que prevê a regulamentação vigente a respeito da divulgação de tais informações."
A Folha procurou JR por meio do seu advogado, mas ele não se manifestou.
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