Não conheci Hugh Hefner, mas o incomodei por uma boa causa e deu certo
Não conheci Hugh Hefner, mas o incomodei por uma boa causa e deu certo. Tão logo assumi, em 1991, a diretoria de Redação da "Playboy" brasileira, 1 das 13 edições então espalhadas pelo mundo, e a de maior sucesso tirante a matriz, nos EUA, pousou sobre minha mesa reportagem sobre sexo grupal, sem menção a preservativos, em plena epidemia de Aids.
Perguntei ao responsável se ele tinha ficado louco e soube por seu intermédio as três proibições na política de Hefner: não publicar anúncios de arma de fogo, nem de remédio contra calvície —porque o leitor da "Playboy" era um cara entre 30 e 40 anos, bonitão e cabeludo— e muito menos associar o prazer do sexo à morte.
Eu tinha clara a responsabilidade que me cabia como jornalista e, além disso, era pai de três adolescentes, a menina já suficientemente inconformada em me ver à frente de uma publicação machista, o que hoje não aceitaria, por inadequada e extemporânea.
Levei o caso aos superiores, informei que jamais publicaria matérias de sexo grupal sem falar em camisinha e sugeri que colocassem outro na função, pois eu havia assumido por causa da morte súbita do fundador, e responsável pelo sucesso da revista no Brasil, Mário Escobar de Andrade.
O texto foi para a gaveta, e Roberto Civita (1936-2013), o dono da Abril, começou a dura missão de convencer Hefner a derrubar a orientação.
Enfim, depois de três anos, ele abriu uma exceção e permitiu uma reportagem sobre camisinhas.
A encomendei para a jornalista Conceição Lemes, que não só quebrou o tabu como foi premiada pela Organização Mundial da Saúde pela reportagem. Chicago, sede da matriz, mudou então a política e passou a falar de sexo seguro.
O texto "Aids — A Distância entre Intenção e Gesto", foi selecionado para apresentação oral na 10ª Conferência Internacional de Aids, realizada em 1994 no Japão.
Hefner exercia permanente controle de qualidade sobre as edições com um profissional especialmente dedicado à tarefa pelo mundo afora, em nosso caso o indiano Haresh Shah. E entendeu que o sucesso da "Playboy" nacional tinha a ver com o fato de ser feita quase exclusivamente por jornalistas brasileiros e com mulheres nativas.
Só mesmo quando a edição americana trazia uma grande atriz na capa, ou uma entrevista com um Beatle nos curvávamos, ao "imperialismo ianque".
Hugh Hefner desaparece junto com o ocaso da revista.
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