Aos 15, garota sustentou família por cinco anos com fábrica de chinelos

Crédito: Ricardo Borges/Folhapress Rio de Janeiro, Rj, BRASIL. 07/12/2017; Retrato de Fernanda Pupe Colaço, que criou no colégio uma fábrica de havaianas recobertas de tecido colorido, em 2003, e com o sucesso do produto conseguiu sustentar sua família durante cinco anos.( Foto: Ricardo Borges/Folhapress)
Fernanda Pupe Colaço, que usou aprendizado em curso de empreendedorismo para sustentar família por cinco anos

ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
DE SÃO PAULO

Fernanda Colaço tinha 12 anos quando a empresa de seu pai foi destruída por um incêndio. O fogo começou no prédio vizinho, e o seguro não cobria danos a terceiros.

Aos 62 anos de idade, com dois filhos do atual casamento e uma terceira mais velha, ele precisou mudar Fernanda para um colégio mais barato.

Ainda era particular e ainda ficava em Humaitá, bairro de classe média alta do Rio, mas a vida era apertada enquanto o pai tentava reerguer a empresa e a mãe sustentava o grosso das contas.

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Mas o emprego da mãe se foi em 2006, quando Fernanda fez 15 anos. O que parecia uma péssima notícia acabou sendo a mão na roda de que a garota precisava para dar escala a um projeto que desenvolvia na escola.

Com sandálias de borracha recobertas de tecido colorido —numa época em que não existiam ainda Havaianas estampadas—, Fernanda sustentou a família por cinco anos.

A façanha só foi possível porque o colégio havia feito parceria com a entidade Junior Achievement, cujo objetivo é ensinar na prática estudantes do Ensino Médio a empreender.

Dado no contraturno da escola, o curso dura 15 semanas nas quais os alunos passam por todas as etapas de criar uma empresa: sugerem produtos, pesquisam mercado, fazem planos de negócio, vendem ações da empreitada, prototipam, produzem, vendem, auferem lucros e distribuem dividendos.

Fernanda e três amigas compravam os chinelos lisos, arrancavam as fitas, fatiavam a sola no meio, colavam o tecido na parte de cima e remontavam a sandália.

Foram tantas encomendas que passaram a trabalhar de segunda a sexta. Ao final do ano, ganharam o prêmio de melhor rentabilidade.

Eleita a gerente de marketing, Fernanda mandava em cada pacote um cartãozinho com seus contatos, para facilitar trocas ou reclamações.

Quando o curso acabou e a empresa escolar se encerrou, os telefonemas com pedidos continuaram a chegar –e foi aqui que a mãe da garota virou a peça-chave do negócio. Com tempo livre, dedicou-se 100% ao empreendimento da filha.

Por ser maior de idade, ela podia comprar algo proibido à filha: cola de sapateiro, que agilizava muito a produção.

Ela melhorou o acabamento, contatou as amigas e em algumas semanas mãe e filha se viram atendendo a pedidos tão grandes quanto 300 pares para um casamento.

Chegaram a exportar para um hotel na Grécia e uma loja na Costa Rica e faturavam R$ 6.000 por mês.

A ideia de Fernanda permitiu que ela cursasse a PUC-RJ, onde se formou em 2013, em design. Trabalhou por algum tempo numa consultoria e ajudou seu pai, hoje com 77 anos, a terminar de reconstruir a Recigases, que regenera gás de refrigeração.

No próximo ano, embarca para um MBA na América do Norte. Só falta escolher entre os EUA ou o Canadá.

Crédito: Ricardo Borges/Folhapress Rio de Janeiro, Rj, BRASIL. 07/12/2017; Retrato de Fernanda Pupe Colaço, que criou no colégio uma fábrica de havaianas recobertas de tecido colorido, em 2003, e com o sucesso do produto conseguiu sustentar sua família durante cinco anos.( Foto: Ricardo Borges/Folhapress)
Fernanda Colaço mostra algumas das sandálias que produziu –e sua mãe continua a fabricar

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