DE SÃO PAULO

As ações da Embraer sobem nesta terça-feira (2), impulsionadas pela notícia de que a proposta da Boeing de combinar negócios com a Embraer não se restringe à área de aviação comercial e incluiria a divisão de defesa da fabricante brasileira.

A informação foi apurada pela Folha nesta terça junto a pessoas próximas da negociação.

De acordo com dados preliminares. as ações da Embraer subiram 2,60%, para R$ 20,52. O Ibovespa, índice das ações mais negociadas, teve alta de 1,95%, para 77.891 pontos, recorde nominal.

A intenção da americana de estender as conversas sobre a divisão de defesa da Embraer deve complicar as negociações, pois o governo brasileiro já indicou que vetará a perda de controle nacional da empresa devido à sua importância estratégica na área militar.

No dia do anúncio das conversas, em 21 de dezembro, as ações da Embraer subiram 22,5%, para R$ 20,20, e lideraram as altas do Ibovespa, o índice das ações mais negociadas da Bolsa. Desde então, os papéis acumulam valorização de 21,3%.

A notícia envolvendo a combinação dos negócios com a Boeing foi divulgada inicialmente pelo jornal americano "The Wall Street Journal", que informou que a americana tinha interesse em adquirir o controle da empresa brasileira. A Embraer confirmou a negociação na tarde do mesmo dia, via fato relevante.

"Não há garantia de que qualquer transação resultará dessas discussões. Boeing e Embraer não pretendem fazer comentários adicionais sobre essas discussões", afirmou a fabricante de aviões.

Para analistas, a combinação dos negócios deve tornar as duas companhias mais competitivas perante a joint-venture formada em outubro por suas duas principais rivais, a europeia Airbus e a canadense Bombardier. Em outubro, a Airbus anunciou que compraria uma participação majoritária no programa de jatos CSeries da Bombardier, dando um poderoso impulso para a fabricante canadense de aeronaves e trens em sua custosa disputa comercial com a Boeing.

O acordo seria uma resposta aos recentes sinais de crescimento do segmento de aviões de cem lugares em mercados como a China, onde recentes mudanças regulatórias animaram fabricantes de aviões médios, que são o carro-chefe da Embraer.

No ano passado, para estimular a aviação regional, que requer aeronaves menores, o governo chinês definiu que as companhias aéreas começassem a investir em frotas com aviões de até cem lugares antes de partirem para comprar jatos maiores -mercado disputado pelas gigantes Airbus e Boeing.

"A gente via uma oportunidade tanto para Embraer quanto para a Boeing. É uma combinação muito mais forte entre Boeing e Embraer do que entre Bombardier e Airbus. Só me pergunto como funcionaria a questão regulatória. Porque entra OMC (Organização Mundial do Comércio), vários órgãos para validar essa eventual operação", diz afirma Adeodato Netto, estrategista da Eleven Financial.

O fato de o governo brasileiro deter uma golden share –ação preferencial, que dá ao governo voz ativa em qualquer decisão estratégica da companhia– não deve ser um empecilho, na avaliação do especialista.

"Não deixa de ser um aval muito relevante ao Brasil e ao momento de virada do país. A gente conseguiu resgatar um pouco de credibilidade e de confiança nas instituições no que diz respeito aos contratos. Não fosse isso, uma empresa na qual o governo brasileiro detém golden share sequer seria cogitada para uma operação como essa", ressalta.

O presidente Michel Temer chegou a afirmar que a venda da Embraer estava 'fora de cogitação'.

"Não adianta tentar avaliar a decisão do governo pelas primeiras palavras. Ainda temos uma relevância desproporcional de alguns agentes, por exemplo, sindicatos. Se o negócio andar, acredito que este governo costure uma solução que viabilize a transação", afirma Netto. "Tem uma janela para transferência de tecnologia e seria positivo para nossa posição global e para a indústria nacional", ressalta.

Na última quarta (27), a gestora de investimentos americana Brandes anunciou que reduziu sua participação na Embraer para 14%, ou 106,6 milhões de ações.

Antes, a fatia da Brandes na Embraer era de 15%. Os maiores sócios privados depois dela são Mondrian (10,1%), BNDESPar (5,4%) e Blackrock (5%).

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