Para ala política do governo, Caixa deve manter indicações

Crédito: Samuel Costa - 26.mai.2015/Folhapress Lucro da Caixa cresce com inadimplência menor e redução da provisão para calote de clientes
Agência da Caixa Econômica Federal

MARINA DIAS
DANIEL CARVALHO
JULIO WIZIACK
DE BRASÍLIA

Se depender da ala política do governo Michel Temer, o sistema de indicações na Caixa Econômica Federal será mantido mesmo após a crise na direção do banco.

Auxiliares do presidente afirmam que as nomeações podem seguir preferências partidárias para evitar rebeliões na base aliada, especialmente durante a votação da reforma da Previdência, prevista para 19 de fevereiro.

O argumento é que, mesmo após o afastamento de quatro vice-presidentes da Caixa, partidos como PP, PR, PRB e o MDB, precisam se sentir contemplados com cargos para manter coesa a base aliada do governo.

A tese, porém, vai encontrar uma barreira prática: o novo estatuto da Caixa, que deve ser aprovado nesta sexta (19) com o objetivo de dar poder ao Conselho de Administração do banco para nomear e exonerar dirigentes –hoje essa é uma competência do presidente da República.

Os defensores da tese de que o jogo de influência se mantém, lembram que o colegiado é formado por integrantes indicados pelo próprio governo –quatro do Ministério da Fazenda, um do Planejamento, além do presidente da Caixa, Gilberto Occhi, e um representante dos funcionários do banco.

ESQUEMA

Na terça-feira (16), Temer autorizou que quatro dos doze vice-presidentes da Caixa fossem afastados –eles são suspeitos de participar de um esquema que atuava para atender a interesses de políticos e empresários em operações financeiras– e despertou a ira de alguns aliados.

Deputados começaram a pressionar o governo publicamente, como no caso do PR, responsável pela designação ao cargo de uma das vice-presidentes afastadas, Deusdina dos Reis Pereira.

O líder do partido na Câmara, José Rocha (BA), defende que, caso haja trocas, as siglas que indicaram os atuais dirigentes possam também escolher substitutos. Caso contrário, diz, haverá "descontentamento" na base de Temer. "Se não for comprovado nada contra Deusdina, ela continuará sendo uma indicação do PR", afirmou.

Desde o fim do ano passado, o governo articula para conseguir apoio de 308 dos 513 deputados para aprovar a reforma da Previdência, mas está longe disso.

O deputado justifica a preocupação do Planalto em criar uma cisão na base aliada às vésperas da votação. "Se ele [governo] for fazer mudanças [nas indicações da Caixa], acho que vai descontentar. Não tenha dúvidas".

Temer determinou o afastamento de quatro vice-presidentes da Caixa por 15 dias depois que a Folha revelou que uma recomendação que saíra do Banco Central apontava nessa direção.

CAPITALIZAÇÃO

O afastamento dos executivos da Caixa também colocou em suspense a capitalização do banco, outro assunto discutido no conselho de administração.

A maioria dos conselheiros não quer que o banco use nem recursos do Tesouro, nem do FGTS para reforçar o caixa e cumprir as exigências internacionais na solidez financeira. A preferência, segundo eles, é pela venda de parte da carteira de crédito da Caixa, uma operação que permitiria levantar pelo menos R$ 10 bilhões. O presidente Gilberto Occhi, porém, defende a renegociação de parte da dívida da Caixa com o FGTS para obter até R$ 15 bilhões, operação que depende de aval do TCU (Tribunal de Contas da União).

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