Devolução integral ao Tesouro pode prejudicar desembolsos do BNDES

Crédito: Nacho Doce/Reuters Presidente do BNDES afirma que o banco tem condições de devolver recursos ao Tesouro neste ano
Presidente do BNDES afirma que o banco tem condições de devolver recursos ao Tesouro neste ano

FLAVIA LIMA
DE SÃO PAULO

O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, disse nesta terça (30) que o banco tem condições de devolver recursos ao Tesouro neste ano e que está fazendo uma força "indômita" para isso.

Ele afirmou, porém, que a devolução integral dos R$ 130 bilhões requeridos pelo governo, somada ao que o banco já devolveu ao Tesouro, pode prejudicar os desembolsos.

"[Num cenário de devolução integral] seria como se, em vez de o acionista capitalizar o banco, o banco capitalizasse o acionista. A tarefa de fomentar o investimento pode ficar prejudicada", disse.

O BNDES, disse ele, não é o responsável por fechar a regra de ouro –a regra fiscal que impede que o governo capte recursos para pagar despesas com pessoal. "O banco é mero coadjuvante".

Para a devolução antecipada se concretizar, afirmou, o BNDES poderia ser autorizado a emitir títulos, como letras de crédito imobiliário e letras de crédito agrícola, além de ser autorizado a recolher menos tributos, como IOF e Imposto de Renda.

O BNDES tem uma dívida de mais de R$ 400 bilhões com o Tesouro. O banco já devolveu R$ 180 bilhões nos últimos anos e o governo quer mais R$ 130 bilhões neste ano para ajudá-lo a cumprir a regra de ouro.

DESEMBOLSOS DO BANCO

A meta de desembolsos (empréstimos) do banco para 2018, disse Rabello de Castro, é superar os R$ 90 bilhões. Desembolsos próximos a R$ 100 bilhões, disse ele, estariam próximos do potencial brasileiro em termos de investimento.

Recentemente, o diretor da área Financeira e Internacional do banco, Carlos Thadeu de Freitas, afirmou que o BNDES tem condições de devolver os recursos ao Tesouro no segundo semestre do ano sob algumas condições. Entre elas, estaria a necessidade de os desembolsosnão passarem de R$ 90 bilhões neste ano –justamente a meta citada por Rabello de Castro.

7 Como adiantado pela Folha, o BNDES desembolsou R$ 70,8 bilhões em 2017, uma queda de 20% sobre 2016 –o terceiro ano de queda.

Empresas com faturamento acima de R$ 300 milhões receberam 58% dos desembolsos (R$ 41 bilhões).

Já as micro, pequenas e médias empresas receberam R$ 29,7 bilhões. Esse grupo inclui empresas com faturamento anual de R$ 360 mil a R$ 300 milhões.

Os empréstimos feitos para os segmentos de infraestrutura –que ficam com 38% dos desembolsos– registraram o melhor desempenho no ano passado, alta de 4% para R$ 26,9 bilhões.

Segundo Rabello de Castro, não é possível saber se esse movimento vai se manter neste ano porque a nova taxa de longo prazo do banco pode "roubar" desempenho do setor.

Em 2017, o braço de participações do banco, a BNDESPar vendeu R$ 6,61 bilhões em participações acionárias em cerca de 20 empresas, em meio a uma carteira total de R$ 68 bilhões.

EMBRAER

Rabello de Castro evitou falar sobre a possibilidade de compra da Embraer, empresa da qual o BNDES é acionista, pela americana Boeing.

O executivo disse, contudo, que o negócio entre Bombardier (principal concorrente da Embraer) e Airbus "foi como trazer o Neymar para jogar na série B" e é isso que motivou a movimentação da Boeing sobre a Embraer.

"Eles querem jogar no mesmo time, então isso não pode ser considerado invasão", diz.

Rabello de Castro falou também que a ideia de que a Embraer deixaria de ser brasileira justamente no momento em que ficou grande não procede. "Seria a prova inequívoca do sucesso do Brasil".

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