Bancos usam aplicativos para vender investimentos a clientes

Estratégia ajuda a diminuir dependência de corretoras

Com queda de juros, instituições apostam em taxa maior para atrair investidor e captar mais - Reuters
Danielle Brant
São Paulo

A disputa por clientes travada por bancos menores em busca de diversificação de suas fontes de captação de recursos ganhou os smartphones. Para diminuir a dependência de corretoras e vender seus próprios produtos, muitos lançaram aplicativos que facilitam o investimento, principalmente para quem busca taxas melhores em aplicações na renda fixa.

 

As plataformas desenvolvidas oferecem títulos emitidos pelos bancos, como CDBs (Certificados de Depósitos Bancários), LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio), além de fundos de gestoras ligadas às instituições ou de terceiros.

Para investir, o cliente precisa abrir uma conta nos bancos, mas não costuma haver cobrança de tarifa.

Na ponta do lápis, a opção pode ser vantajosa. A taxa oferecida costuma ser mais competitiva do que a encontrada em corretoras que distribuem os mesmos títulos.

Isso ocorre porque esses intermediários embolsam parte da taxa, em vez de repassá-la integralmente aos investidores, afirma Marcia Dessen, planejadora financeira e colunista da Folha.

 

Já o banco ganha ao diversificar sua fonte de captação de clientes, mas sem criar atrito com corretoras e outros distribuidores de produtos, afirma Raquel Varela, diretora do Pine Online.

 

"Continuamos trabalhando com os intermediários. A ideia é ter uma captação complementar à que a gente já tem hoje com os distribuidores", afirma.

LIMITE BAIXO

O aplicativo do Pine, lançado em 2017, tem aplicações a partir de R$ 1.000. "Democratizando o investimento, a gente vai ter volume. Estamos tentando trazer um público em busca de mais rentabilidade para seus recursos."

Os CDBs podem ter taxa de até 116,5% do CDI, enquanto LCIs e LCAs, isentas de Imposto de Renda, têm retorno de até 96% do CDI.

O Daycoval oferece produtos de renda fixa a partir de R$ 1.000 e fundos com aplicação de R$ 500. "O objetivo é que os clientes conheçam o banco, uma forma de fidelizar esse consumidor", diz Maurício Carlos Giarrante, superintendente da captação.

Quando se fala de aplicação inicial mínima, o Sofisa Direto, braço on-line do Banco Sofisa, criou um produto bastante competitivo. O aplicativo do banco foi lançado em 2016. Lá, há CDBs com rentabilidade de 100% do CDI e liquidez diária para aplicações a partir de R$ 1.

A taxa não aumenta de acordo com o volume aplicado pelo cliente, afirma Leo Cherman, responsável pelo Sofisa Direto. Para ele, o desafio é atrair um público não familiarizado com as novas tecnologias, pois todo procedimento de abertura de conta e aplicação de recursos é feito digitalmente.

Além dos CDBs, o Sofisa Direto tem LCIs e LCAs —dependendo do lastro— e agora estuda incluir outros produtos, como fundos.

 
 

No BTG Pactual Digital, os produtos ainda são voltados ao varejo de alta renda. "A gente tem a ambição de, nos próximos três ou quatro anos, ter até 10% do market share neste mercado", diz Marcelo Flora, sócio do BTG Pactual.

PEQUENOS SE BENEFICIAM

Para Marcia Dessen, o movimento dos bancos médios, sem rede de agências, é natural. E o retorno oferecido por eles busca compensar o risco de quebra da instituição.

"É bom para o investidor, que encontra rentabilidade superior à oferecida nos grandes bancos. O risco é administrável, porque tem a garantia do FGC [Fundo Garantidor de Créditos]", diz Dessen.

A proteção é sobre o valor do resgate, e não da aplicação —por isso é importante calcular se, no vencimento do título, o valor não superaria o limite do FGC, que é de R$ 250 mil por instituição e por CPF, limitado a R$ 1 milhão por CPF durante quatro anos.

E optar por só um banco pode limitar as opções, diz Juliana Inhasz, professora de finanças do Insper. "Se o investidor aceita mais risco e quer ir para a Bolsa, pode ir para uma corretora. Quem busca diversificação também, porque as corretoras oferecem uma gama maior de produtos", diz.

Mas para o pequeno investidor, com R$ 50 mil, isso não é necessário, defende a consultora Márcia Dessen.

Para conservadores, o cardápio enxuto pode até ser melhor, afirma Alberto Ajzental, professor da escola de economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas. "Se ele tem cem opções, fica difícil saber qual a melhor. Com quatro ou cinco, a seleção é mais fácil".

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