Chinesa HNA pede dinheiro emprestado a funcionários

Conglomerado foi criticado pelo governo local por causa da dívida excessiva

Logo da HNA exibido no prédio da companhia em Beijing, na China
Logo da HNA exibido no prédio da companhia em Beijing, na China - Jason Lee/REUTERS
The New York Times

Pouco antes da data de pagamento dos salários, circulou um e-mail dos principais executivos de uma empresa aos seus trabalhadores: se vocês nos derem seu dinheiro, serão bem recompensados.

Foi um dos muitos apelos desse tipo feitos pelo HNA Group, conglomerado chinês que enfrenta dificuldades por causa de uma dívida de US$ 90 bilhões acumulada durante uma série de compras que incluiu participações em multinacionais como a Hilton Hotels e o Deutsche Bank.

A empresa que tem ações da companhia aérea brasileira Azul recorreu a mensagem de e-mail para anunciar um produto definido como tesouro para os empregados, com retorno de 8,5% para os trabalhadores que investissem mais de US$ 1.500.

Uma segunda mensagem falava em 9% de retorno. A terceira prometia até 40% para quem investisse US$ 15 mil.

Os apelos pareciam pedidos de empréstimos que renderiam juros altos, com o HNA na posição de devedora e empregados como credores e surgem em um período difícil para muitas das maiores empresas chinesas de fusões e aquisições.

O HNA é uma das companhias que foram criticadas pelo governo por realizar vistosas aquisições internacionais de hotéis, cinemas e produtoras. A dívida dos compradores mais agressivos cresceu a tal ponto que Pequim passou a encará-la como risco à economia do país.

O HNA enfrenta pressões financeiras singulares. O conglomerado viu alta acentuada em seus custos de captação no mercado mundial de títulos de dívida, indicação de que alguns investidores estão cada vez mais preocupados com a sua capacidade de honrar compromissos.

Sete empresas de capital aberto controladas pelo HNA suspenderam operações em Bolsa, sinalizando que anúncios importantes, que podem afetar alguns de seus maiores negócios, estão para ser realizados. O grupo também está começando a vender ativos.

Desafios

Em recente entrevista, Chen Feng, o presidente do conselho da empresa, admitiu problemas financeiros do grupo e prometeu superá-los.

Não se sabe quanto dinheiro o HNA pode ter conseguido de seus empregados. A companhia há muito oferece investimentos desse tipo como forma de incentivo aos funcionários e para permitir que compartilhem de seu sucesso, afirmou Thomas Clare, advogado do grupo.

O HNA jamais compreendeu a oferta desses produtos como um mecanismo de financiamento, já que os montantes contribuídos pelos empregados representam porcentagem muito pequena dos fundos arrecadados, disse.

É comum empresas permitirem que empregados comprem ações ou invistam nos negócios. Mas os apelos da HNA não dão participação acionária direta no grupo.

Os apelos vistos pela reportagem tinham os mesmos traços: oferta de altos retornos em troca de empréstimos para certas operações.

Em e-mail de 4 de janeiro, uma subsidiária do HNA informava aos empregados que precisava de US$ 8 milhões para financiar negócios de comércio duty-free, e alardeava juros anuais de 9,8%. Uma semana depois, sua divisão de mídia e entretenimento buscava empréstimos de US$ 80 milhões, prometendo fortes retornos e um plano para a expansão das operações da unidade.

Alguns e-mails pediam grandes investimentos, enquanto outros enfatizavam que os empregados precisavam investir muito pouco para obter retornos generosos. Um deles oferecia comissões a quem atraísse investimentos de amigos e parentes.

Em um período de sete dias em janeiro, um empregado do HNA recebeu sete apelos diferentes por empréstimos. Clare disse que qualquer intensificação desse tipo de esforço seria resultado de a empresa tentar incentivar mais o seu pessoal.

Companhias chinesas muitas vezes recorrem a investidores individuais ou aos seus empregados para levantar dinheiro. Mas essas atividades podem significar problema, segundo alguns especialistas em finanças chinesas.

É uma medida tomada por desespero, quando a empresa não tem outras fontes de financiamento, disse Anne Stevenson-Yang, cofundadora da J Capital Research.

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