Concentração e juros altos favorecem lucros de bancos

Com queda da taxa básica, porém, instituições terão de conceder mais empréstimos para manter desempenho

Fila em agência na zona leste de São Paulo
Fila em agência na zona leste de São Paulo - Tercio Teixeira -10.out.2013/Folhapress
Danielle Brant
São Paulo

A queda da Selic, a taxa básica de juros, para o seu menor nível histórico não impediu o aumento de dois dígitos no lucro dos quatro maiores bancos do país no ano passado. O desempenho, dizem especialistas, é reflexo da forte concentração bancária e das taxas de juros cobradas dos clientes, que não acompanham a redução da Selic na mesma velocidade.

No Brasil, os quatro maiores bancos —Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Brasil-- detêm 60,3% dos ativos totais de todo o sistema financeiro.

Estudo feito pela consultoria Accenture para a Febraban (Federação Brasileira de bancos) mostra o Brasil no 5º lugar entre 13 países analisados no que diz respeito à concentração bancária.

A mesma pesquisa mostra que, em 2016, numa lista de 13 países, o Brasil tinha o maior spread (diferença entre o preço pago pelos bancos para captar recursos numa ponta e emprestar na outra).

No ano passado, enquanto a taxa básica Selic caiu de 13,75% ao ano para 7%, o juro médio nas operações de crédito com recursos livres —que excluem financiamento imobiliário e do BNDES— recuou de 73,2% para 55,1%, níveis muito mais elevados.

A diferença entre as taxas é, em parte, explicada pela concentração bancária, afirma Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating.

"Eles têm condições de não abaixar tão rapidamente o juro, porque não há tantos bancos ofertando crédito. As fintechs [start-ups financeira] surgem como opção para tentar reduzir os juros, mas ainda não fazem cócegas nos bancos", diz.

João Augusto Salles, economista da consultoria Lopes Filho, tem avaliação parecida. "Se um cliente for a cada um desses bancos, vai encontrar taxas de juros semelhantes. A baixa concorrência não permite que os juros caiam a uma velocidade maior."

Salles lembra que a argumentação para manter o spread elevado é de que o risco do sistema permanece elevado, porque embute inadimplência. "Mas o risco está diminuindo, tanto é que as provisões contra devedores duvidosos caíram", diz ele.

AJUSTES

A quena na provisão contra calotes acompanhou a melhora nos índices de inadimplência e ajudou a impulsionar o desempenho dos bancos no ano passado. No Itaú, o corte chegou a 27%, ou R$ 7,1 bilhões. No Banco do Brasil, a diminuição foi de 19,9% (quase R$ 6,3 bilhões).

"Os bancos fizeram fortes ajustes nas carteiras de crédito. Como tinham provisões robustas contra calotes em 2016, reverteram uma cifra volumosa nos balanços de 2017", diz Salles.

Ao longo do ano passado, as instituições também controlaram custos. Além disso, buscaram diversificar a fonte das receitas para compensar a queda nos empréstimos.

Neste ano, porém, os bancos precisam emprestar, diz Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da casa de análise Levante. Segundo ele, a queda da Selic força os bancos elevar concessões para manter o ganho com o crédito."

Eles vão ter que dar crédito, o que pode impulsionar a economia. Com o desemprego caindo, há espaço para que sejam mais agressivos."

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