Descrição de chapéu Consumo Consciente

Concurso vai premiar projetos de mobilidade sustentável

Deslocamentos compartilhados e mais breves são desafios da iniciativa 

Mara Gama

Entre a casa e o trabalho, os brasileiros perdem até 15 dias por ano. O tempo médio do paulistano para ir e vir da atividade principal é de 2 horas por dia e a maioria dos veículos circulantes tem apenas um ocupante.

Modificar esse cenário de grande desperdício de tempo e alta pegada de carbono e organizar percursos mais inteligentes e de maior qualidade para as pessoas é o objetivo de um concurso de inovação em mobilidade.

Com inscrições até 9 de março, o InoveMob quer promover um padrão mais sustentável de deslocamento até grandes centros de atividade, como escolas, universidades, centros empresariais e esportivos, hospitais e terminais de transporte coletivo.

O concurso vai selecionar cinco projetos que incentivem transporte ativo - percursos a pé e de bicicleta- meios coletivos e maior ocupação dos veículos por meio de compartilhamento. Cada selecionado receberá cerca de R$ 60 mil (US$ 20 mil) para a implementação de um projeto piloto, entre agosto e novembro de 2018, para testes de oito semanas.

Organizado pelo WRI Brasil, entidade focada em pesquisa, estratégias e ferramentas para clima, florestas e cidades, e pela Toyota Mobility Foundation, o desafio é voltado a empreendedores, pesquisadores e empresas de serviços. 

Ele está alinhado com os 10 Princípios da mobilidade compartilhada, elaborados pelo WRI, em conjunto com diversas organizações internacionais.

Serão investidos R$ 600 mil (US$ 200 mil) em subsídios. Além da premiação, o objetivo é conectar participantes e gestores públicos. Em dezembro de 2018, o júri vai escolher o projeto vencedor, que receberá cerca de R$ 300 mil (US$ 100 mil). O responsável vai trabalhar em conjunto com os organizadores para implementar o projeto.

Especialista de Mobilidade Urbana e representante do WRI, o engenheiro Guillermo Petzhold falou à Folha sobre os desafios de mobilidade urbana.

Folha -  Como facilitar o trânsito das pessoas e diminuir o tempo dos deslocamentos diários nas cidades brasileiras?
Guillermo  Petzhold - Cidades são o polo de educação, emprego, saúde, inovação. Hoje, 86% da população brasileira é urbana, um valor muito acima do índice global de 54%. Essa concentração, contudo, também causa problemas, entre os mais sensíveis, a mobilidade. Os brasileiros perdem até 15 dias inteiros por ano apenas nos deslocamentos ao trabalho. Pesquisa da Rede Nossa São Paulo indicou que o tempo médio do paulistano para ir e vir da atividade principal é de 2 h por dia. Ainda, quando olhamos nas nossas ruas, a maioria dos veículos possui apenas um ocupante. É necessário promover um padrão mais sustentável de deslocamento, incentivando o transporte ativo (a pé e bicicleta) e coletivo e a maior ocupação dos veículos através do compartilhamento ou até mesmo, ao evitar o deslocamento em si com o teletrabalho. As inovações em mobilidade propiciam um cenário ideal para repensarmos como nos deslocamos nas nossas cidades. Mas essas inovações devem estar integradas aos sistemas tradicionais de transporte e incentivar o transporte ativo e coletivo


Folha - O que motivou a escolha do tema "Acesso aos Centros de Atividades" para o concurso?
Guillermo  Petzhold - Deslocamentos por motivo de trabalho e estudo podem representar até 80% das viagens que vemos nas nossas cidades. Um número tão expressivo indica que a responsabilidade pela mobilidade urbana não pode ser apenas de governos: a contribuição de outros setores é crucial para fomentar a mudança para hábitos mais sustentáveis de deslocamento. Universidades, escolas, torres comerciais ou áreas que concentram muitos postos de trabalho e consequentemente atraem muitas viagens ou pessoas (como a Faria Lima e a Paulista) representam esses Centros de Atividades e são o foco do InoveMob, Queremos encontrar soluções que estimulem as pessoas a experimentarem outras formas de  deslocamento a esses locais e que melhorem essa experiência.

Folha - Quais são os pilares do pensamento atual sobre mobilidade?
Guillermo  Petzhold - Quando pensamos em Nova Mobilidade, logo a associamos a aplicativos de viagens sob demanda, sistemas de compartilhamento de bicicleta ou veículos autônomos. Contudo o seu conceito vai além disso. O WRI trabalha em quatro frentes distintas:
·       Experiência de viagem: estimular aperfeiçoamento nos serviços de transporte que melhoram a experiência de viagem e ajudam as pessoas a tomar melhores decisões, como apps de planejamento de viagem;
·       Inovação de produtos: modificações ou melhoramentos de componentes, como veículos elétricos e autônomos;
·       Mobilidade compartilhada: serviços de compartilhamento de opções de transporte entre usuários, que vão de caronas e apps de viagens sob demanda aos sistemas de bicicleta compartilhada;
·       Tomada de decisão baseada em dados: serviços que usam tecnologias como sensores e GPS para fornecer informações adicionais aos motoristas e planejadores urbanos.
Todas essas quatro frentes estão se desenvolvendo rapidamente e representam diversas oportunidades. Contudo, a malha viária das cidades é um recurso finito e escasso. Para promover políticas que conduzam a metas sustentáveis e ao desenvolvimento de cidades mais organizadas, o WRI, em conjunto com diversas organizações internacionais, desenvolveu os 10 Princípios da Mobilidade Compartilhada.

Folha - O compartilhamento de transporte é um dos sinais da mudança do papel do consumidor, que passa de proprietário a usuário temporário de um bem. Quais são as experiências mais interessantes? 
Guillermo  Petzhold - A mobilidade compartilhada estimula novas formas de transporte para diversos públicos ao mesmo tempo em que reduz a ociosidade dos recursos existentes, por exemplo, o automóvel ou bicicleta estacionado 8 horas na garagem enquanto estamos trabalhando ou aqueles quatro assentos do carro vazios no deslocamento. 
Esse tipo de inovação já existe há muito tempo no setor hoteleiro ou de serviços. 
Nos Estados Unidos, país que está à frente nessas questões, o app Liquid permite que as pessoas disponibilizem suas bicicletas a terceiros enquanto elas não estão sendo usadas. Em Kansas City, o app Bridj, serviço de micro-ônibus sob demanda, fez uma parceria com o poder público para operar rotas de transporte flexíveis em determinadas áreas da cidade. 
O mesmo aconteceu entre a prefeitura de Austin e o app Via. Já em Washington D.C, o operador de metrô fez uma parceria com o Uber para subsidiar corridas até as estações da periferia a fim de atrair mais usuários.

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