Dani Rodrik não perde tempo em chegar à questão central de seu novo livro: "Os economistas são responsáveis pela chocante vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos?" é a frase de abertura de "Straight Talk  On Trade" (algo como "Papo reto sobre o comércio"), ainda sem tradução para o português.

A pergunta é uma crítica de Rodrik a seus colegas economistas. Ele os acusa de terem abandonado princípios centrais da profissão, dos anos 1980 para cá, e se tornado "cheerleaders" acríticos da globalização --ainda que, em muitos lugares, os benefícios viessem com carnificina econômica e reação política.

Rodrik, nascido na Turquia e professor da Universidade Harvard, critica há muito tempo a adesão dos governos ao livre-comércio e ao que ele vê como uma tomada de controle da agenda econômica de muitos países ricos pelas grandes empresas.

Ele diz em seu livro que, há anos, seus colegas expressam desdém por suas ideias, por medo de que ele alimentasse a fogueira do protecionismo.

Rodrik não é protecionista. A melhor definição para sua posição é "pragmatismo comercial".

Mas ele também é um crítico erudito de sua profissão e é isso (e o momento histórico que estamos vivendo) que torna seu livro interessante.

O leitor não precisa concordar com a visão cética de Rodrik sobre a globalização. Ainda assim, é importante considerar a acusação que ele faz a muitos economistas, que, segundo ele, nos últimos anos agiram mais como ideólogos do livre-comércio do que como os cientistas sociais ponderados que deveriam ser —bem como sua conclusão de que o resultado disso foram políticas públicas errôneas, desigualdade cada vez maior e Trump na Presidência.

MANIFESTO

Às vezes, Rodrik parece ideológico em sua escrita. Há momentos em que a obra pode ser interpretada como um polido manifesto acadêmico em favor do nacionalismo econômico ao modo Trump.

Ele critica os esforços de governança mundial e a OMC. A busca de integração econômica pela União Europeia e seus proponentes é retratada como ameaça ao Estado-Nação e à soberania nacional, de uma forma que atrairia aplausos de muitos dos proponentes da saída britânica da UE.

Rodrik alerta há anos sobre o risco político dos erros cometidos na globalização. Agora, alerta para risco que os líderes correm de responder incorretamente à atual crise.

Entre as ideias mais famosas de Rodrik está o que ele define como trilema da economia global moderna. Nele, democracia, soberania nacional e globalização são incompatíveis. Em teoria, a eleição de Trump e o "brexit" provam que ele está certo.

É preciso considerar, porém, se esse trilema não é de transição. O livro ignora que, nos últimos anos, surgiu uma reação à reação que a globalização havia despertado originalmente, e também ignora as divisões geracionais expostas em 2016.

A probabilidade de que os eleitores mais jovens sejam participantes confortáveis da economia digital desordenadora e de que eles aceitem com facilidade seu escopo mundial é bastante elevada. Pesquisas de opinião publica também demonstram que a maioria dos americanos hoje aprovam o comércio internacional e os acordos de comércio internacional.

As questões políticas relacionadas ao comércio internacional continuam, portanto, tão complicadas quanto sempre foram.

GUERRAS

Rodrik encerra o livro com outro apelo por mudança. A ascensão de governos autoritários, na Alemanha e em outros países, por causa das calamidades econômicas dos anos 1930, resultou não só em guerra mas nos acordos de Bretton Woods e em imensas respostas estruturais.

Rodrik deseja algo parecido. "Sem ideias maiores, mais ousadas, poderemos vir a descobrir que as boas coisas que o consenso atual produziu --a ordem liberal democrática, especialmente-- estão sendo destruídas pela reação que os excessos cometidos em nome dele causaram."

_{Tradução de PAULO MIGLIACCI}