Inovação não virá de isenção fiscal, diz CNI

Indústria terá menos proteção do governo em meio à crise nas contas públicas e problemas na OMC

Para a CNI, a transição 4.0 será feita por uma ‘nata’, e Brasil precisa encontrar nichos para inovar
Para a CNI, a transição 4.0 será feita por uma ‘nata’, e Brasil precisa encontrar nichos para inovar - Carlos Junior/Folhapress
Taís Hirata
São Paulo

A transição para a Indústria 4.0 não será impulsionada por incentivos fiscais, mas pela competição entre as empresas, que terão de evoluir para garantir a sua sobrevivência no mercado, afirma José Augusto Fernandes, diretor de Políticas e Estratégia da CNI.

Com a crise fiscal e a recente condenação de políticas industriais brasileiras na OMC (Organização Mundial do Comércio), a entidade considera que a indústria deverá se preparar para uma nova realidade, com menos proteção do governo.

“Haverá mais atenção ao uso de recursos fiscais e em relação a custo-benefício das políticas. Isso afeta o Estado e a forma como as empresas olham para o setor público.”

A análise faz parte do mapa estratégico da associação, que traça tendências globais e nacionais até 2022. O estudo será divulgado em março.

Nos últimos cinco anos —quando o último relatório do gênero foi elaborado pela entidade—, a indústria brasileira viu seus principais desafios mudarem: o Brasil perdeu destaque no cenário internacional, e a crise mostrou às empresas a necessidade de ir além do mercado doméstico.

NÃO É PARA TODOS

Um dos principais destaques do estudo é o aumento da pressão por inovação, com a chegada da indústria 4.0 —conceito que engloba novas tecnologias de automação e armazenamento de dados.

Para Fernandes, a pesquisa e o desenvolvimento serão uma missão para uma “nata de empresas”, e o Brasil terá de encontrar nichos para garantir que participará desse grupo inovador.

“Uma parte expressiva da evolução 4.0 não vai se dar dentro da empresa, mas pela compra de equipamentos e softwares”, diz ele.

Se há risco de o Brasil perder competitividade ao delegar a inovação a terceiros, potencialmente estrangeiros? “Sim, há riscos, mas há mais oportunidades do que riscos”, diz o diretor da entidade.

“Não vejo problema. Não que inovação não seja importante, mas pesquisa e desenvolvimento não é todo o mundo que faz, é uma nata de empresas, grandes ou menores.”

Após uma crise que reduziu o fôlego das empresas nacionais para investir, o maior potencial do Brasil para ganhar espaço será o investimento em setores nos quais o país já tem vantagens competitivas naturais —como óleo e gás, papel e celulose, energia e o uso da biodiversidade em cosméticos e produtos de saúde, afirma.

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