Itambé acusa Vigor de "roubar" contrato e pede ressarcimento de R$ 400 milhões

É a quarta disputa judicial entre Vigor e Itambé

Fábrica de lácteos da Itambé - Itambé-29.out.2017 / Divulgação
Raquel Landim
São Paulo

A Itambé abriu uma nova disputa contra a Vigor acusando a antiga sócia de “roubar” um contrato de venda de leite em pó para a Venezuela. A empresa mineira perde um ressarcimento de R$ 400 milhões.

A arbitragem, iniciada nesta segunda-feira (26), é mais um capítulo da guerra entre duas gigantes do setor lácteo: a francesa Lactalis, que comprou a Itambé, e a mexicana Lala, que adquiriu a Vigor.

No novo processo, a Itambé relata que passou a vender leite em pó para a Venezuela em dezembro de 2013, após a JBS, que pertence aos irmãos Joesley e Wesley Batista, fechar um contrato para fornecer carne, frango e leite para o país de Nicolas Maduro. Os Batista eram donos da Vigor.
 
O negócio foi fechado diretamente por Joesley, que recebeu uma missão da Venezuela chefiada por Diosdado Cabello, um dos homens fortes do chavismo. Joesley teria sido apresentado a Cabello pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Como a Vigor não produz leite em pó, a JBS escolheu a Itambé como fornecedora. A empresa mineira recebia diretamente do governo da Venezuela e pagava uma comissão de 3% para a JBS. A Itambé recebia US$ 5,8 mil por tonelada do produto, o equivalente a R$ 20 mil.

Em junho de 2015, o contrato com o governo venezuelano subiu de 1 mil para 6 mil toneladas por mês. A Itambé não quis correr o risco de vender um volume tão grande para a Venezuela, um país com histórico de calote. 

A Vigor passou então a coordenar o contrato, comprando leite em pó da Itambé de outros laticínios brasileiros. O problema é que o valor pago à empresa mineira caiu. A Itambé passou a receber R$ 12 mil por tonelada, o preço praticado no mercado interno.

Segundo pessoas que acompanham de perto o assunto, mas que pediram anonimato, a carga de leite em pó saía direto da fábrica da Itambé em Uberlândia (MG) para o porto de Santos (SP) e sequer passava pelas instalações da Vigor.

O contrato ainda perdurou por mais oito meses. A Itambé agora cobra da Vigor a diferença entre os preços internacional e doméstico no período, o que equivalente a cerca de R$ 400 milhões.

O argumento da empresa mineira é que lei das sociedades anônimas impede o acionista controlador de se apropriar de uma boa oportunidade de negócio da sua controlada.

GUERRA

Essa é a quarta disputa judicial entre Vigor e Itambé, que começou quando a Lala adquiriu a Vigor da J&F. 
Quando fecharam o negócio, os mexicanos também pretendiam levar a Itambé, que pertencia 50% a Vigor e 50% a CCPR (Cooperativa de Produtores Rurais de Minas Gerais).

Mas não conseguiram, porque a cooperativa exerceu seu direito de preferência, recomprou a parte dos Batista na Itambé e vendeu a empresa no dia seguinte para a Lactalis.

A Lala agora acusa a CCPR de romper o acordo de acionistas por não ter informado ao seu sócio, a Vigor, que também pretendia vender sua parte na Itambé. 

O imbróglio já rendeu uma arbitragem privada e duas disputas na Justiça, que correm em sigilo. Até agora o negócio entre a CCPR e Lactalis não foi concretizado.

Procuradas, Vigor, Itambé e J&F não se pronunciaram.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.