Mercado ignora fracasso de reforma e Bolsa bate novo recorde

Eletrobras dispara após Maia criar comissão para debater privatização da estatal

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Presidente Michel Temer em reunião da CNI
Presidente Michel Temer em reunião da CNI - Marcos Corrêa/Folhapress
São Paulo

A decisão do governo de jogar a toalha sobre a reforma da Previdência e os alertas de rebaixamento das agências de classificação de risco foram desconsiderados pelos investidores nesta terça (20), dia em que a Bolsa brasileira bateu novo recorde nominal com impulso das ações da Eletrobras.

O Ibovespa, índice das ações mais negociadas, subiu 1,19%, para 85.803 pontos. O volume negociado foi de R$ 12,4 bilhões --em fevereiro, a média diária está em R$ 13,1 bilhões.

O dólar comercial subiu 0,61%, para R$ 3,256. O dólar à vista, que fecha mais cedo, teve alta de 0,51%, para R$ 3,250.

Nesta sessão, os investidores desconsideraram a notícia de que a reforma da Previdência deve ficar para depois das eleições, conforme anunciado pelo ministro Carlos Marun, da Secretaria de Governo, na noite de segunda.

"Ninguém acreditava na aprovação da reforma, não estava contemplada no nosso cenário-base. A reação positiva em meio a esse cenário externo desfavorável corrobora a percepção de que ninguém esperava", afirma Ignacio Crespo, economista da Guide Investimentos.

O plano B anunciado pela equipe econômica tampouco teve relação com a alta desta sessão, complementa. "Acho difícil que essas medidas sejam levadas adiante. Há um nível de maturação diferente", afirma. "Foi feito um anúncio às pressas para substituir a expectativa que se tinha com relação à Previdência, mas muitas não são nem novidade, já estavam na pauta". 

Aldo Moniz, analista da Um Investimentos, também considera que as medidas são difíceis de serem aprovadas. 

"Vai exigir mais trabalho dos legisladores e do Executivo para lidar com isso. Era interessante aproveitar um governo que não seria reeleito para passar medidas impopulares, mas não se pensou nisso", afirma.

Ele vê espaço para realizações de lucros na Bolsa nos próximos pregões, principalmente após as agências de classificação de risco Moody's e Fitch emitirem alertas sobre o impacto negativo da desistência da reforma na nota de crédito do país.

A Moody's afirmou que a decisão é negativa para o rating do Brasil "uma vez que restringirá fortemente a capacidade das autoridades de cumprir com o teto de gastos do governo nos próximos anos”.

Já a Fitch disse que o fracasso de votar a reforma reflete os desafios de implementar políticas corretivas em um ambiente político complicado e tendo como pano de fundo um ciclo eleitoral iminente.

"Vai ser algum tipo de gatilho para termos uma realização. Os 85 mil pontos são uma resistência do mercado, o indicador gráfico mostra uma exaustão. Pode ter uma realização nos próximos dias", diz.

AÇÕES

Das 64 ações do Ibovespa, 25 caíram e 39 subiram.

Os papéis da Eletrobras foram o destaque da sessão. As ações preferenciais dispararam 8,65% e as ordinárias subiram 6,82%, impulsionadas pela notícia de que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), vai criar uma comissão especial para debater o projeto de privatizar a estatal.


A Fibria também teve forte valorização, de 6,66%. 

O Pão de Açúcar liderou as baixas do índice, com queda de 5,27%. A EcoRodovias recuou 3,76%, e a Gerdau teve baixa de 3,47%.

As ações da Petrobras tiveram alta de quase 2%, em dia sem tendência definida para os preços do petróleo. Os papéis preferenciais da estatal subiram 1,95%, para R$ 20,44. As ações ordinárias avançaram 1,78%, para R$ 21,68.

Os papéis ordinários da mineradora Vale tiveram queda de 2,02%, para R$ 45,51, em dia de alta do minério no exterior.

Entre os bancos, o Itaú Unibanco subiram 2,46%. Os papéis preferenciais do Bradesco tiveram alta de 3,04%, e os ordinários subiram 2,42%. O Banco do Brasil, que divulga seu balanço do quarto trimestre nesta quinta (22), se valorizou 2,95%. E as units --conjunto de ações-- do Santander Brasil caíram 0,96%.

CÂMBIO

O dólar ganhou força ante 27 das 31 principais moedas do mundo, em dia em que os rendimentos dos títulos de dívida americana com vencimento em dez anos atingiram o maior nível em quatro anos.

O Banco Central vendeu a oferta de 9.500 contratos de swap cambial tradicional (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro) para rolagem dos que vencem em março. O BC já rolou US$ 3,8 bilhões dos US$ 6,154 bilhões que vencem no mês que vem.

O CDS (credit default swap, termômetro de risco-país) do Brasil subiu 2,72%, para 156,3 pontos.

No mercado de juros futuros, os contratos mais negociados tiveram queda. O contrato com vencimento em abril de 2018 recuou de 6,613% para 6,610%. Já o contrato para janeiro de 2019 caiu de 6,590% para 6,570%.

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