México busca milho no Brasil diante de temor sobre acordo com EUA

País importou em 2017 10 vezes mais o que comprou no ano anterior

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Vista aérea de trator fazendo o plantio do milho safrinha em fazenda do município de Floresta, no Paraná
Vista aérea de plantio do milho safrinha em fazenda de Floresta, no Paraná - Sergio Ranalli/Folhapress
Cidade do México e Chicago | Reuters

Compradores mexicanos importaram dez vezes mais milho do Brasil no ano passado, em meio à preocupação de que as renegociações do Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte) possam prejudicar seus suprimentos provenientes dos Estados Unidos, de acordo com dados do governo e importantes comerciantes de grãos.

Os mexicanos importaram mais de 583 mil toneladas de milho brasileiro em 2017, um salto de 970% em relação a 2016, segundo dados do Serviço de Informações Agropecuárias e Pescas do México (SIAP).

Quase a totalidade das importações se concentraram nos últimos quatro meses do ano passado —e podem continuar em 2018. As compras continuaram em janeiro, chegando a 100 mil toneladas, ante zero um ano antes, de acordo com o governo mexicano e fontes comerciais.

"Nós compramos do Brasil por dois motivos", disse Edmundo Miranda, diretor comercial do Grupo Gramosa, um dos principais comerciantes de grãos do México. "Um, porque era competitivo. Dois, para ver quão prático e lucrativo era comprar do Brasil ou da Argentina, dada a possibilidade [de imposição] de tarifas comerciais devido às renegociações do Nafta."

Gramosa e sua rival doméstica, a Comercializadora Portimex, não importaram nenhum milho brasileiro em 2016, quando ainda não se discutia tão fortemente a reversão do Nafta. Já de setembro a dezembro do ano passado, quando as discussões ganharam força, adquiriram cerca de 260 mil toneladas —cerca de US$ 44 milhões a valores atuais.

Preços mais baixos para o milho brasileiro proporcionaram algumas das vendas. O país vem produzindo grãos mais baratos, que ajudam a compensar o custo do frete. Mas, em outros casos, os compradores mexicanos compraram o grão mesmo quando mais caro, afirmaram executivos e comerciantes dos EUA.

Os importadores também encontraram frequentemente, no Brasil, um produto de qualidade superior.

"Eu tenho o [milho] americano, eu tenho o brasileiro e o argentino, de quem comprei? O mais barato", disse Alfredo Castillo, gerente de marketing da Portimex. "Se eles estiverem no mesmo preço, irei para o brasileiro."

NOVO FORNECEDOR

O México, maior importador de milho dos Estados Unidos e o segundo maior comprador de soja daquele país, compra muito mais milho dos americanos do que do Brasil. Foram 14,7 milhões de toneladas em 2017, segundo dados do governo dos EUA, quase 25 vezes o volume comprado de produtores brasileiros.

Além disso, as exportações americanas para o México aumentaram em 6,6% no ano passado, apesar do fluxo maior do Brasil, porque o país precisava de importações recordes em 2017 para compensar o impacto de uma seca na produção doméstica.

Mas os mexicanos estão optando pelo Brasil para reduzir a dependência de décadas nos suprimentos dos EUA em meio às discussões do Nafta.

O presidente americano, Donald  Trump, disse que vai eliminar o Nafta se sua administração não puder negociar termos comerciais com o México e o Canadá que são mais favoráveis aos Estados Unidos. A próxima rodada de negociações será no final deste mês.

Agricultores americanos, processadores de alimentos e comerciantes de grãos passaram meses tentando impedir que as relações comerciais fiquem prejudicadas, caso o Nafta termine. Eles estão tentando proteger mais de US$ 19 bilhões em vendas para o México, desde milho e soja até laticínios e aves poedeiras.

A equipe do Conselho dos Grãos dos EUA, um grupo de comércio da indústria, reuniu-se inúmeras vezes com compradores mexicanos e funcionários do governo para reforçar a importância do comércio de grãos entre os dois países, disseram autoridades do conselho.

O fim do Nafta, dizem grupos agrícolas e comerciais, provavelmente levaria ao aumento das tarifas no comércio de grãos, prejudicando um dos círculos eleitorais que levaram Trump ao poder. Durante sua campanha, Trump prometeu às comunidades agrícolas que a agricultura se beneficiaria de sua presidência.

A porta-voz da Casa Branca, Lindsay  Walters, disse que a administração de Trump visa aumentar o acesso ao mercado para a agricultura dos EUA nas renegociações do Nafta.

O secretário do USDA, Sonny Perdue, disse nesta quinta-feira (22) que não vê o Brasil como uma ameaça às exportações norte-americanas. "Temos uma tremenda vantagem logística para vender ao México, com ferrovias indo direto das áreas produtoras para o México. Acho que será muito difícil para o Brasil competir", disse Perdue.

O USDA estima que os produtores dos Estados Unidos deverão reduzir a área plantada de milho em 2018 para 90 milhões de acres, contra 90,2 milhões no ano passado.

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