Novas tecnologias aceleram vendas no comércio eletrônico

Reconhecimento de imagem e pagamento via selfie estão no pacote

júlia zaremba
São Paulo

Inovações tecnológicas em curso permitirão em breve que as compras on-line sejam feitas a qualquer hora e em qualquer lugar, de forma quase automática.

"O e-commerce se flexibilizou, começa a existir uma venda que é a mistura do digital com o físico", diz Luciana Stein, pesquisadora de tendências da TrendWatching. As pessoas não vão mais comprar na frente da tela do computador.

Uma das novidades é a compra por meio de reconhecimento de imagem. Isso permitirá ao consumidor, por exemplo, apontar o celular para algo desejado, obter todas as informações a respeito e comprar naquele mesmo momento um objeto igual ao que chamou sua atenção, tenha sido ele visto na rua, com um desconhecido, ou na vitrine de uma loja, diz Stein.

A tecnologia de reconhecimento também deverá ser usada para identificar o rosto do comprador e facilitar as transações. Em vez de o consumidor perder tempo com a digitação de dados, poderá comprar a partir de uma selfie. Esse mecanismo já é usado hoje, por exemplo, para o check-in em voos da Gol.

O pagamento mais automatizado, contudo, pode levar a pessoa a comprar quase que sem sentir --uma experiência já vivida por quem usa aplicativos de transporte como Uber e Cabify.

"Você poderá sair de um estabelecimento sem pagar no caixa, já que o produto será cobrado de forma automática", afirma a pesquisadora da TrendWatching.

A solução é prática, mas vai estimular ainda mais o consumo desenfreado. Para Stein, com o tempo, algumas empresas deverão optar por seguir na contramão da tendência, desautomatizando o processo "para que o consumidor volte a sentir o peso social, financeiro e ambiental da compra que faz."

Luciana Stein, pesquisadora de tendências da TrendWatching
Luciana Stein, pesquisadora de tendências da TrendWatching - Edu Andrade - 09.jan.2015/Folhapress

RAIO-X

A sofisticação de bancos de dados com informações sobre clientes é outra tendência para o comércio eletrônico, diz Gabriel Lima, presidente da Enext, empresa de consultoria de e-commerce do grupo WPP.

A ficha mais completa vai incluir dos últimos itens comprados pela pessoa às lojas em que ela esteve. Com isso, o site consegue sugerir ofertas adequadas e, na loja física, o atendente é capaz de personalizar o atendimento.

"O papel do vendedor está mudando. Deixa de ser um cara que pega o produto no estoque para assumir uma postura de consultor", diz Lima. "O eletrônico não acabará com o varejo físico, os dois universos vão conversar."

Quem quiser ficar só no ambiente on-line poderá contar com assistentes virtuais exclusivos, disponíveis 24 horas por dia para ajudar os internautas, segundo Stein.

Para além de itens palpáveis, a venda de conhecimento e serviços a distância também deve ganhar espaço nos próximos anos, diz Diego Smorigo, do Sebrae-SP. Videoaulas e consultoria on-line são alguns exemplos.

Outra tendência são canais de streaming voltados exclusivamente para venda, aponta Stein. Por meio deles, influenciadores digitais anunciam produtos, espécie de ligue já elaborado, misturando conteúdo e propaganda.

ALÉM DA MODA

Hoje, o setor de moda e acessórios lidera a posição no ranking de comércio on-line, representando 14,8% das vendas, de acordo com o relatório Webshoppers, feito pelo Ebit, que pesquisa o mercado virtual.

É seguido pelas categorias de saúde e cosméticos (12,2%), casa e decoração (10,6%), eletrodomésticos (10,3%) e telefonia (9,5%).

Em volume de faturamento, telefonia (22,3%) e eletrodomésticos (18,8%) lideram.

O faturamento no setor de compras on-line deve crescer de 12% a 15% em 2018, fechando o ano com cerca de R$ 58 bilhões, segundo estimativa da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, associação que promove a economia digital.

No primeiro semestre de 2017, chegou a R$ 21 bilhões, crescimento de 7,5% em relação ao ano anterior, de acordo com o Webshoppers.

"O brasileiro está perdendo o medo de comprar pela internet e, agora, também adquire produtos mais caros", afirma Smorigo, do Sebrae. "É um bom momento para quem pretende investir no comércio on-line."

ÚLTIMAS FERRAMENTAS

Reconhecimento de imagem

O consumidor aponta o celular para o produto desejado, descobre suas informações e pode comprá-lo na hora. Outra tendência é o reconhecimento facial com apenas uma selfie será possível realizar transações financeiras ou preencher dados sem ter que digitar

Inteligência de dados

Bancos de informações com preferências e histórico de compras dos clientes ficarão sofisticados, permitindo um atendimento mais personalizado, on-line e presencial. Experiência em loja física ainda será valorizada, com vendedor assumindo função de consultor

Compras automáticas

O consumidor vai comprar cada vez mais sem sentir com as novas tecnologias que buscam facilitar pagamentos. No futuro, será possível sair de uma loja com o produto desejado sem ter que passar no caixa, já que será pago de forma automática. A solução, contudo, pode estimular o consumo desenfreado

Canais de streaming

Plataformas digitais voltadas só para a venda de mercadorias, uma espécie de ligue já mais sofisticado, vão ganhar espaço. Nelas, influenciadores digitais e outros famosos protagonizam vídeos que mesclam conteúdo com publicidade. A tecnologia já é usada na China

Venda de conhecimento

Cursos e serviços a distância, como consultoria, serão cada vez mais oferecidos em plataformas digitais. Hoje, o setor de moda e acessórios lidera o ranking de comércio on-line, seguido pelo de saúde e cosméticos, casa e decoração e eletrodomésticos

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