Vencedor 'provisório' da PPP de luz em SP quer desclassificar concorrente

O recurso adiou em mais cinco dias úteis a análise das garantias dos consórcios

Funcionários substituem lâmpadas em poste no viaduto do Chá no centro de São Paulo
Funcionários substituem lâmpadas em poste no viaduto do Chá no centro de São Paulo - Edilson Dantas/Folhapress
Taís Hirata
São Paulo

A PPP de iluminação pública em São Paulo --um contrato de R$ 7,2 bilhões em vinte anos-- ganha um novo capítulo para o imbróglio jurídico em torno da concorrência, que já dura dois anos. 

O consórcio Walks, vencedor provisório da PPP de iluminação pública em São Paulo, apresentou, nesta terça (6), um recurso administrativo questionando uma das garantias de sua concorrente, a FM Rodrigues, e pedindo sua desclassificação. 

Com isso, a entrega da documentação e a análise das garantias dos consórcios, que ocorreria nesta tarde, foi adiada em cinco dias úteis. 

Até então, a expectativa era que o consórcio Walks tivesse sua documentação colocada em xeque, e não sua concorrente.

O grupo vencedor é formado por empresas indiretamente envolvidas na Lava Jato: a WPR Participações (subsidiária do grupo WTorre) e a Quaatro (controladora da Alumini).

A própria Prefeitura de São Paulo afirma que as garantias da Walks são insuficientes. A gestão tentou barrar judicialmente a participação do grupo no certame, mas não teve sucesso, e este saiu em primeiro lugar na etapa de tomada de preços. A dúvida, agora, era se o consórcio passaria pela fase de habilitação. 

No entanto, o recurso apresentado nesta terça dá outra perspectiva ao caso: se o questionamento for aceito, e o consórcio liderado pela FM Rodrigues seja de fato eliminado da concorrência, uma eventual desclassificação da Walks deixaria a licitação sem concorrentes válidos.

"Independente da nossa vitória ou não, o sujeito [a FM Rodrigues] tem que estar válido dentro das regras do edital. Se não, tem que ser desclassificado. No máximo, se a gente for inabilitado, não tem nenhum outro competidor e teria que cancelar a licitação. Essa é a realidade", afirmou Bruno Aurélio, advogado da Walks e sócio do escritório Tauil & Chequer Advogados.

O argumento é que a FM Rodrigues não apresentou um documento --referente à representação legal do banco que ratificou a proposta. 

Para representantes ligados ao consórcio da FM Rodrigues, o recurso é apenas uma estratégia da Walks para ganhar tempo, para conseguir uma certidão importante, que só deve sair nas próximas semanas --o que o grupo nega.

A Comissão de Licitação, que julgará o recurso, afirmou que não vai comentar, e que uma nova data para a análise das habilitações será marcada após o prazo de cinco dias para o julgamento.

Hoje, o gasto mensal médio da prefeitura com energia é de R$ 13 milhões --com a PPP, o valor cairia 30%. 

IMBRÓGLIO

A abertura dos envelopes, realizada na última semana, ocorreu em meio a uma briga judicial, em que Prefeitura e FM Rodrigues tentavam barrar a participação da Walks.

O anúncio das ofertas só foi feito por determinação da Justiça de São Paulo --nela a Walks saiu vencedora, com proposta de de R$ 23,25 milhões por mês, contra R$ 30,158 milhões ofertados pelo concorrente FM Rodrigues.

A FM Rodrigues, empresa que lidera o consórcio concorrente da Walks, critica a participação de uma das empresas no consórcio, a Quaatro, que detém 99,9% das ações da Alumini --empresa declarada inidônea para firmar contratos com a gestão pública.

A Alumini inclusive chegou a dividir a prestação de serviços de luz com a FM Rodrigues até março de 2017, quando foi barrada pela CGU (Controladoria-Geral da União).

A Secrataria dos Serviços e Obras chegou a dizer que a participação da Quaatro era uma espécie de "maquiagem" para a atuação Alumini.

Para o advogado da Walks, existe uma formatação jurídica que distingue controladas e controladoras, e que essa diferenciação seria uma "prática de mercado".

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