Seguro ainda é luxo para empreendedor

Apenas 30% dos micro e pequenos negócios no país têm cobertura patrimonial

WAGNER OLIVEIRA
Colaboração para a Folha

Caso a regra fosse seguida à risca, empreendedores precisariam contratar seguro para abrir suas empresas. A exigência está prevista em lei, que foi promulgada há 52 anos. Contudo, apenas 30% dos cerca de 10 milhões de pequenos negócios do país têm algum tipo de cobertura em caso de acidente.

O dado foi divulgado pela consultoria PWC, que, ao longo de 2017, elaborou um estudo sobre a oferta de seguros para pequenas empresas.

"No Brasil, o desafio nesse mercado está no fato de os pequenos e médios empreendedores exigirem planos com a complexidade de uma grande empresa, mas com flexibilidade e capacidade de pagamento de uma pessoa física", afirma Luis Ruivo, sócio da PWC no Brasil.

O trabalho mostra que a implementação de canais digitais para cotação e fechamento de contrato deve reduzir custos para as empresas e aumentar o interesse pelas coberturas oferecidas no mercado, principalmente entre os novos negócios.

"Com as facilidades e a rapidez dos serviços digitais, as seguradoras podem ganhar escala e criar planos flexíveis com valores que caibam no orçamento de um maior número de pequenos empreendedores", diz Ruivo.

Negócios mais antigos, porém, preferem o contato direto com o corretor. De acordo com a PWC, apenas 37% das empresas com atuação entre 11 e 20 anos no mercado vão fazer, no futuro, a opção pelo seguro digital.

Na eventualidade de um sinistro, é melhor ter a ajuda de uma pessoa que você conhece, passa muito mais confiança, diz o empresário Wilson Bastos, 63, proprietário da Rutil Comércio de Máquinas, que sempre contratou a proteção contra acidentes.

O empresário Wilson Bastos na sede da Rutil Comércio de Máquinas, em Atibaia (a 64 quilômetros de São Paulo)
O empresário Wilson Bastos na sede da Rutil Comércio de Máquinas, em Atibaia (a 64 quilômetros de São Paulo) - Eduardo Anizelli/Folhapress

MEDO DO PREÇO

Para quem comercializa contratos de seguros, o desafio é conquistar parte dos 70% de empreendedores que não têm nenhum tipo de cobertura e têm medo de se deparar com custos altos na hora de cotar uma apólice.

"Se em um carro o seguro chega a até 10% do valor do bem, quanto será uma apólice de um negócio que vale R$ 700 mil, R$ 1 milhão? É essa indagação que mais ouço, mas o cálculo é totalmente diferente, por envolver outros tipos de riscos", diz Mariana Santos, proprietária da Fontane Corretora de Seguros.

A empresária afirma que há apólices no mercado com valor de R$ 800 por ano para alguns tipos de cobertura.

CONSCIENTIZAÇÃO

Em 2017, o ramo de coberturas empresariais movimentou R$ 1,9 bilhão no país, de acordo com dados da Susep (Superintendência de Seguros Privados). No mesmo período, seguros de veículos somaram R$ 34 bilhões, enquanto a modalidade residencial chegou a R$ 16 bilhões.

"Temos feito palestras, mas precisamos de campanhas mais intensas para conscientizar o pequeno empresariado sobre a necessidade de proteger o patrimônio e os recursos humanos", diz Ezaqueu Antonio Bueno, da Comissão de Riscos Empresariais do Sincor-SP (Sindicato dos Corretores de Seguro no Estado de São Paulo).

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