Ação contra taxa de Trump divide siderúrgicas do país

Com produção nos EUA, Gerdau e ArcelorMittal não participam de negociações com governo americano

Aço derretido é fundido na Gerdau Ameristeel em Konxville, no Tenesse, nos EUA - Dennis Ivy / Divulgação
Mariana Carneiro Taís Hirata
Brasília e São Paulo

A defesa contra a barreira levantada pelo governo americano ao aço importado está dividindo as siderúrgicas brasileiras e multinacionais que atuam no Brasil.

Gerdau e ArcelorMittal, com parte importante da sua produção nos EUA, optaram por não participar da pressão empresarial em prol do aço fabricado no Brasil.

Isso desagradou a executivos do setor siderúrgico e integrantes do governo, que dizem acreditar que as empresas deveriam "jogar junto" contra a barreira como forma de ganhar força.

Empresários brasileiros organizaram duas missões aos EUA, uma em agosto do ano passado e outra em fevereiro, com o objetivo de sensibilizar funcionários do governo e parlamentares. As duas empresas preferiram não endossar o movimento.

Em nota, a Gerdau afirma que a barreira levantada por Trump é positiva para a empresa, a segunda maior fabricante de aços longos do mercado americano. Cerca de um terço de sua produção está nas unidades instaladas nos EUA.

"Estamos acompanhando com muita atenção o desenvolvimento desse tema. Nossa avaliação é que ele é positivo para a Gerdau e nossa operação está totalmente pronta para atender ao crescimento da demanda interna [dos EUA]."

Já a ArcelorMittal diz "compreender o desejo dos governos em apoiar as respectivas indústrias nacionais", mas afirma acredita que a maior necessidade do setor é enfrentar o excesso de capacidade global.

Acompanhando o esforço de negociação com os EUA, Gabriel Petrus, diretor-executivo da ICC (Câmara Internacional de Comércio), afirma que as siderúrgicas têm lógicas comerciais distintas, o que faz com que atuem cada uma à sua maneira.

"Os interesses das siderúrgicas são divergentes porque o nível de internacionalização de cada uma é muito diverso. Essas diferenças fazem com que as empresas tenham estratégias diferentes", diz.

Com isso, algumas empresas já estudam traçar caminhos próprios de defesa nos EUA, como é o caso da CSN. A siderúrgica exporta aço laminado a quente para o mercado americano, o que é considerado um produto acabado pelos seus concorrentes.

A defesa brasileira tem usado como argumentação a venda prioritariamente de produtos semiacabados aos EUA. Ou seja, placas de aço que serão reprocessadas em solo americano, o que preservaria as empresas e os empregos locais que a política de Trump visa poupar. Isso, porém, deixa de fora a produção da CSN.

Marco Polo de Mello, presidente do Instituto Aço Brasil, afirma que o pleito brasileiro contempla o aço acabado. "Estamos pedindo a exclusão de toda a produção do Brasil da sobretaxa. Até porque a venda de aço acabado é pequena, não os afeta."

Petrus afirma que estratégias individuais de tentar retirar determinados produtos da lista de taxação são pouco eficazes. "O melhor é que isso seja tratado no âmbito das organizações e nas negociações de governo", afirma o diretor-executivo do ICC.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.