Descrição de chapéu polícia federal

Acionista nos EUA processa BRF após Operação Trapaça

Autor da denúncia alega que a empresa inflou o preço das ações, enganando acionistas

Barracão de engorda de  granjeiro que integra rede de fornecedores da BRF em Carambeí (PR)
Barracão de engorda de granjeiro que integra rede de fornecedores da BRF em Carambeí (PR) - Adriano Vizoni/Folhapres
Nova York

A companhia de alimentos BRF está sendo processada nos Estados Unidos por um acionista que acusou o maior exportador de aves do mundo de ocultar seu envolvimento em fraudes quanto à análise sanitária de produtos alimentícios, o que culminou na prisão do ex-presidente da companhia.

Uma denúncia foi apresentada na noite de segunda-feira (12) à Corte Distrital de Manhattan em nome de detentores de American Depositary Receipts (ADRs, recibo de ação negociado nos EUA) da BRF de 4 de abril de 2013 a 2 de março de 2018, e tem como objetivo uma ação coletiva contra a companhia.

O autor da denúncia, Ryo Nakamura, afirmou que a BRF, o ex-presidente Pedro Faria e outros funcionários inflaram artificialmente o preço das ações da empresa brasileira, enganando acionistas sobre suas operações e práticas de conformidade. Procurada, a BRF não comentou o assunto.

Nakamura disse que isso incluiu o pagamento de subornos a fiscais e políticos para esconder práticas não sanitárias em unidades da BRF e que o preço da ação da BRF caiu à medida que as notícias da operação Carne Fraca vieram à tona.

Os ADRs da BRF fecharam a US$ 7,59 em 5 de março, queda de 19% em um dia, após Faria ser preso e a Justiça determinar a prisão de outras 10 pessoas.

O processo visa danos não especificados. 

É comum nos Estados Unidos acionistas entrarem com ações judiciais de fraude de valores mobiliários após a revelação de suposta conduta ilícita que tenha causado queda no preço das ações de uma empresa.

Companhias não norte-americanas, como a BRF, gozam de uma proteção parcial em tais processos uma vez que a Suprema Corte dos EUA tornou, em 2010, mais difícil processos em relação a ativos financeiros vendidos ou listados fora dos Estados Unidos.

PRISÃO

As investigações da Operação Trapaça demonstraram que setores de análises do grupo BRF e cinco laboratórios credenciados pelo Ministério da Agricultura fraudavam resultados de exames em amostras do processo industrial, informando dados fictícios ao Serviço de Inspeção Federal.

O objetivo era diminuir os níveis da bactéria salmonela, que impediriam a exportação dos produtos para mercados externos de controle mais rígido. Foram identificadas, ainda, adulterações nos rótulos do composto premix.

A BRF diz que demonstra seus compromissos com a qualidade e segurança alimentar, os quais estão presentes em todas as suas operações no Brasil e no mundo.

O ex-presidente da empresa, Pedro Faria, chegou a ser preso temporariamente no dia 5 de março, mas foi solto na sexta-feira (9). O juiz federal André Wasilewski Duszczak decidiu não prorrogar a prisão temporária porque o executivo está fora do comando da empresa e, portanto, não poderia atrapalhar as investigações.

Faria foi detido por causa de um email que enviou a três vice-presidentes, depois de saber da ação trabalhista de uma ex-funcionária, que acusava a empresa de obrigá-la a adulterar os resultados de testes laboratoriais na planta de Rio Verde (GO).

No email, o executivo escreveu: - “Isso é um absurdo! Nós sempre tomamos bucha nos mesmos lugares. Hélio, por favor, avalie algo drástico por lá”.Para o Ministério Público, a mensagem demonstrava que “as fraudes eram reiteradas” na BRF e o então presidente estava pedindo ao líder do setor de suprimentos que “encobrisse o delito”.

Em seu depoimento, Faria afirmou, no entanto, que estava solicitando “remoção, demissão e outras medidas disciplinares” contra os responsáveis pela fraude ao pedir “medidas drásticas”.

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