Ações da Suzano disparam e as da Fibria despencam após anúncio de fusão

Acordo pode criar gigante com 16% do mercado global de celulose

Plantio de brotos de eucalipto na unidade da Fibria em Jacareí (SP)
Plantio de brotos de eucalipto na unidade da Fibria em Jacareí (SP) - Julio Bittencourt/Folhapress
São Paulo | Reuters

As ações da Suzano Papel e Celulose dispararam no início das negociações na Bolsa brasileira nesta sexta-feira (16), após a empresa anunciar fusão com a Fibria Celulose.  As ações da Fibria, por sua vez, despencavam.

A união das duas formará a maior produtora de celulose do mundo, com 16% do mercado.

O anúncio conclui anos de especulações do mercado em torno da união das duas companhias brasileiras que vinham nos últimos tempos, assim como outros rivais, investindo bilhões de reais em contínuo aumento de capacidade, causando constantes preocupações de analistas sobre um futuro problema de excesso de oferta global.

A Suzano, cujas ações dispararam 25% no início da manhã e mantinham forte alta de 19% por volta das 12h15 desta sexta, venceu a disputa com a Paper Excellence e comprou a participação do BNDESPar na Fibria.

Os papéis da Fibria, por sua vez, despencavam mais de 9% na maior parte da manhã. Os acionistas da empresa dividirão cerca de R$ 29 bilhões e 255 milhões de novas ações da Suzano pelo negócio.

A proposta total da Suzano, aprovada pelos controladores Votorantim Participações e BNDESPar, foi avaliada em R$ 35 bilhões de reais. Cada acionista receberá R$ 52,50 —com reajuste pelo CDI até a data do pagamento— mais 0,4611 ação ordinária da Suzano em troca de cada papel da Fibria.

Como os papéis da Fibria fecharam em R$ 71,56 na quinta (15), o mercado faz o ajuste nesta sexta, para que os valores se emparelhem, considerando a relação de troca.

“As ações da Suzano fecharam o pregão de quinta cotadas a R$ 23,40. Ou seja, os acionistas da Fibria receberiam o equivalente a R$ 10,78974 em ações da Suzano, além dos R$ 52,50, totalizando R$ 63,28974 (pelo fechamento de quinta)”, diz relatório da corretora Coinvalores. 

Detentores de ADRs (American Depositary Receipts, recibos de ações negociadas nos EUA) da Fibria receberão a mesma classe de papéis da Suzano, e na mesma proporção.

Após a conclusão da operação, as ações e ADRs da Fibria deixarão de ser negociadas na B3 e na Bolsa de Nova York.

A Suzano revelou ainda, em fato relevante, que garantiu junto a instituições financeiras internacionais um financiamento de US$ 9,2 bilhões para a realização do negócio.

CONCORRÊNCIA

A oferta que selou o negócio foi menor que os R$ 40 bilhões oferecidos pela holandesa Paper Excellence, controlada pela gigante asiática APP, que chegou a incrementar sua proposta nos momentos finais das negociações nesta semana.

A empresa holandesa havia proposto R$ 71,50 reais por ação da Fibria.

Segundo a diretora de mercado de capitais do BNDES, Eliane Lustosa, o banco decidiu aceitar a oferta da Suzano pois era a única proposta concreta sobre a mesa de negociação.

"A proposta da Suzano era a única que a gente tinha de fato na mesa, que nós entendemos que tinha todos os elementos para concluir uma operação e é uma excelente operação para BNDESPar e para a Fibria", disse Lustosa.

"No caso da Suzano, tivemos toda a análise de crédito para a operação, bancos, commitment, negociamos acordo que traz regras de governança. A única operação que temos foi essa. A outra foi apenas uma manifestação de intenção", acrescentou.

A diretora comentou ainda que o BNDESPar terá participação de 11% na empresa resultante da fusão entre Fibria e Suzano e não descartou possibilidade do banco de fomento decidir vender essa fatia no futuro.

SINERGIAS

Analistas do Credit Suisse estimaram que as sinergias das companhias devem alcançar R$ 12 bilhões e que, à primeira vista, a transação é mais favorável aos acionistas minoritários da Suzano, incluindo o próprio BNDES, que possui 7% de participação na empresa.

A Fibria já é a maior produtora de celulose de eucalipto do mundo, com uma capacidade de cerca de 7 milhões de toneladas anuais. Com a Suzano, a nova companhia poderá atingir capacidade de 11 milhões de toneladas, se autoridades de defesa da concorrência no Brasil, nos Estados Unidos, na União Europeia e na China, maior compradora mundial de celulose, não fizerem exigências de venda de ativos das empresas para aprovar o negócio.

O BNDESPar, que possui 29,1% da Fibria, receberá R$ 8,5 bilhões em dinheiro e ações da nova companhia. O braço de participações do banco seguirá com participação relevante na empresa resultante da fusão, mas será minoritário, afirmou em comunicado.

Segundo o banco estatal, a oferta da Suzano "garante fortalecimento do mercado de capitais e manteve uma empresa aberta no mercado brasileiro".

Além disso, entre os motivos citados pelo BNDES para aceitar a oferta menor da Suzano está avaliação de que "a companhia resultante deverá manter, no mínimo, o mesmo padrão de responsabilidade socioambiental em que as duas empresas [Fibria e Suzano] já eram referência".

"O processo negocial também assegurou que os acionistas minoritários recebam dinheiro e ações nas mesmas condições dos controladores", acrescentou o BNDES.

O BNDES solicitou que a Paper Excellence, que já havia feito no ano passado proposta vencedora de compra da Eldorado Brasil por R$ 15 bilhões, comprovasse como sua oferta seria financiada com documentos bancários. A oferta do grupo de pagar uma multa de US$ 1,2 bilhão caso não obtivesse o financiamento não convenceu o banco.

O acordo fechado com a Suzano prevê multa de R$ 750 milhões em favor da Fibria se a fusão não se materializar em função de restrições muito onerosas por parte de autoridades concorrenciais no Brasil e no exterior. 

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