Analistas veem espaço para a volta dos investimentos e do consumo

Virada do PIB no ano passado abre espaço retomada do consumo em 2018 

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Carrinhos de supermercados
PIB de 2017 cresceu 1%, abaixo das projeções de economistas - www.fotoarena.com.br
São Paulo e Rio de Janeiro

As expectativas para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2018 convergem para uma expansão ao redor de 3%, muito marcada pela alta do consumo e dos investimentos. 

Há quem avalie que a economia pode crescer até mesmo acima disso, a depender da reação esperada para o investimento, que volta a dar as caras após um tombo de quase 30% desde 2014. 

Olhando a economia como um todo, as projeções se aceleram após um último trimestre frustrante, que fez com que o PIB encerrasse 2017 em alta de 1% —a primeira após dois anos de queda. 

“Não é pouco. A saída de recessões como essa em geral aponta para crescimentos fortes em um primeiro momento, o que já aconteceu em 2017 quando deixamos um PIB negativo de 3,5% em 2016 para alta de 1% em 2017. Foi uma virada de 4,5 pontos percentuais”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.

Para o investimento, a expectativa é de alta em torno de 5%, embora um grupo menor veja espaço para um número mais próximo de 10%. Neste caso, a surpresa positiva com relação ao PIB poderia ser maior. 

A MB Associados, por exemplo, prevê avanço de 3,3% para o PIB deste ano, com alta de 3,6% para o consumo das famílias e de 8% para o investimento. Para o Banco Fibra, que está na ponta mais otimista com previsão de alta de 4% para o PIB, o investimento sobe um pouco acima de 7%.

No grupo dos mais comedidos, Bráulio Borges, economista sênior da LCA Consultores, diz que os investimentos sobem 5% neste ano, ajudado, entre outros fatores, também por gasto público. 

Segundo Borges, o investimento público sobe em todo ano de eleições desde 1998, mas havia uma expectativa de que isso pudesse não se repetir neste ano em razão dos sinais do governo de que manteria o processo de consolidação fiscal.

Algumas variáveis mudaram esse quadro, como o espaço de quase R$ 80 bilhões existente para atingir o teto de gastos e a meta fiscal bastante folgada— que prevê para o governo um déficit primário de R$ 159 bilhões neste ano, estabelecido quando as expectativas de recuperação da economia eram bem mais incertas.  

Diante disso, Borges diz que existe espaço para elevar os gastos em investimento entre R$ 30 bilhões e R$ 40 bilhões neste ano, o que equivaleria algo próximo a 0,5 ponto do PIB. “A maior dúvida não é se o governo quer gastar essa folga, mas se ele terá tempo”, diz. 

Artur Passos, economista do Itaú Unibanco, afirma que o grosso da alta de 5% prevista para a formação bruta virá de investimentos privados.   

Segundo ele, juros menores devem ajudar a recompor o balanço das empresas, que terão espaço para ir atrás de oportunidades mais rentáveis de investimento. 

Sinais de descontrole de gastos e falta de compromisso com as reformas por parte do governo, diz Passos, podem assustar o empresário.

O cenário poderia levar à depreciação da moeda e à elevação dos juros, deslocando recursos dos investimentos para os títulos públicos. 

Mercado mira em 90 milhões de empregados

Outro motor importante da recuperação econômica em 2018 será o consumo das famílias, cuja participação no PIB fica ao redor de 65%. 

Ninguém discorda que o crescimento ficará entre 3,5% e 4% em 2018. Analistas dizem que é possível apostar na “volta ao shopping” do consumidor, como qualificou o BNP Paribas, mesmo diante de um contingente de 12 milhões de desempregados.

Alessandra Ribeiro, sócia diretora da Tendências Consultoria, diz que a expectativa de uma taxa média de desemprego ainda alta em 2018 —de 12,4% ante 12,7% no ano passado— esconde alguns movimentos importantes.  

“Muitas pessoas que deixaram o mercado de trabalho por falta de expectativa vão voltar. Por isso que a taxa de desemprego cai devagar”, diz Ribeiro, que prevê a criação de 2,1 milhões de postos de trabalho formais e informais neste ano. “É isso que está por trás de um consumo ainda melhor”, diz ela.  

De fato, o grupo dos que desistiram de procurar uma vaga de trabalho —chamados pelo IBGE de desalentados— dobrou nos últimos cinco anos, chegando a 4,3 milhões de pessoas no fim de 2017.

No geral, o Brasil encerrou o ano passado com 26,4 milhões de subempregados, que são desocupados, subocupados que trabalham menos de 40 horas semanais e os que fazem parte da força de trabalho potencial.

Mas não é só o que ocorre entre os desempregados que deve explicar um consumo mais robusto neste ano. 

Para Borges, da LCA, o comportamento dos 90 milhões de empregados deve ditar com mais força a reação. O grupo, que até meados do ano passado, ainda tinha medo de perder o emprego, deve voltar às compras. 

Além da queda importante da inflação, diz o economista, o comprometimento da renda com dívidas em um nível mais baixo em anos devem incrementar a demanda por crédito. 

Segundo Borges, a melhora das condições de crédito passou a valer mesmo no fim de 2017 e deve ficar mais clara ao longo de 2018. 

Na oferta de crédito, diz Borges, a principal variável a favorecer os empréstimos será a queda da inadimplência da pessoa física. 

Para o economista, o crédito deve pesar mais no impulso ao  consumo do que a renda, já que o reajuste do salário mínimo, de 1,8% neste ano, ficará abaixo da inflação. É a segunda vez desde 1996 que isso acontece. A primeira foi em 2015. 

Nível pré-crise volta só em 2020, diz economista

O PIB de 2017 cresceu 1%, abaixo da projeção central dos economistas (1,1%).

Apesar do primeiro número positivo após dois anos de queda, a economia brasileira ainda está rodando no mesmo patamar que estava do início de 2011, de acordo com o IBGE. 

Segundo cálculos do economista Marcelo Kfoury, da FGV-SP, feitos a pedido da Folha, se o país mantiver o crescimento previsto pelos analistas do mercado financeiro (2,9% neste ano e 3% em 2019), o patamar pré-recessão de 2014 só será recuperado em 2020. O PIB per capita, só em 2022.

O PIB per capita avançou 0,2%, em termos reais (descontando a inflação) em 2017, alcançando R$ 31.587.

À frente, economistas dizem que o cenário interno será muito mais determinante em uma possível reversão do cenário positivo do que o quadro internacional. 

“A plataforma econômica de um candidato em favor da  não continuidade das reformas pode afetar especialmente os níveis de confiança”, diz Alessandra Ribeiro, da Tendências. Ela lembra que as questões fiscais, que envolvem “barganhas difíceis”, como a regra do teto no próximo ano e a reforma da Previdência, estão longe de ser resolvidas. 

“Se isso não for encaminhado, é possível que o mercado comece a discutir a insolvência do Estado”, diz. 
Para Bráulio Borges, da LCA, o temor seria “um repeteco de 2002”, que poderia minar a recuperação do investimento, com bancos ainda mais temerosos de emprestar.  

“O risco não é externo, mas interno: o quadro político doméstico e suas implicações. E não adianta fazer como alguns candidatos, que estão tentando comprar credibilidade com nomes que agradem ao mercado”, diz. 

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