Descrição de chapéu Donald Trump embraer

Até Embraer será citada contra taxa do aço nos EUA

Estratégia é lembrar parcerias em várias áreas; siderúrgicas contratam escritório de lobby 

Mariana Carneiro
Brasília
Presidente durante assinatura de ato, na quinta-feira (8), que elevou as taxas do aço e do alumínio para 25% e 10% - Leah Millis - 8.mar.2018/Reuters

Siderúrgicas brasileiras contrataram um escritório de lobby em Washington para tentar convencer congressistas e autoridades do governo americano a livrar o aço do Brasil das sobretaxas impostas pelo presidente Donald Trump. Nas negociações, o governo Michel Temer pode ser pressionado a colocar na mesa até o negócio entre Embraer e Boeing.


As autoridades brasileiras pretendem usar os próximos 15 dias para dissuadir os Estados Unidos das barreiras impostas ao insumo exportado. Para reverter a decisão de Trump, já começaram uma campanha de mobilização em favor do país no Congresso e de aproximação de empresários americanos.

A ideia é evitar a palavra retaliação em um primeiro momento e tentar o caminho do diálogo para retirar o Brasil da lista de afetados. Nesta semana, o escritório de lobby começa em Washington a representar as siderúrgicas. Neste momento, serão dois os caminhos de atuação.

No primeiro, na USTr (agência de comércio americana, na sigla em inglês), o setor privado brasileiro vai pedir a compradores americanos que defendam a exclusão de produtos “made in Brazil” da lista de Trump.
Pelo decreto, os empresários americanos podem apresentar ressalvas à medida de proteção, alegando que terão prejuízos com a sobretaxa.

Além das siderúrgicas que compram o produto fabricado no Brasil, empresários brasileiros estão em contato com os produtores de carvão americano —o Brasil é o maior comprador de carvão dos EUA, combustível usado na produção de aço. Sem as exportações aos EUA, as compras de carvão deverão ser afetadas.

O presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, afirma que o setor privado trabalha para mostrar aos empresários americanos que o Brasil é um “parceiro diferente”.

“Os EUA sempre tiveram superávit no comércio siderúrgico com o Brasil, e, em segundo lugar, 80% do aço que vendemos é insumo para as siderúrgicas americanas.”

O segundo caminho trilhado será por meio do Departamento de Comércio dos EUA, em uma negociação entre autoridades dos dois países.

O ministro da Indústria e Comércio brasileiro, Marcos Jorge de Lima, já apresentou argumentos em defesa da exclusão do Brasil ao secretário americano, Wilbur Ross, em reunião no início do mês em Washington.

Na sexta-feira (9), ele disse que vai recorrer aos canais abertos pelo próprio governo Trump.

“Nós vamos recorrer dentro do processo nos EUA. Nosso primeiro recurso será no âmbito bilateral. Dito isso, caso necessário, não descartamos nenhuma possibilidade, até mesmo de recorrer no âmbito multilateral”, afirmou.

Ao fixar tarifa extra de 25% a todo aço importado, Trump deu prazo de 15 dias para os países apresentarem sua defesa, o que abriu um balcão de negócios em Washington.

Fonte ouvida pela Folha, que participa da negociação, disse que todos os argumentos serão necessários em defesa do Brasil, desde as características do aço vendido até assuntos de interesse dos americanos, como a possível venda da Embraer para a americana Boeing. 

Congressistas das comissões de constitucionalidade e representantes de regiões carvoeiras já foram contatados. O argumento mais imediato em favor do Brasil é que o aço brasileiro fará falta. 

Entre os maiores fornecedores dos Estados Unidos, o Brasil é o único que vende o produto semiacabado, ou seja, placas de aço que ainda serão industrializadas em solo americano.

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