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Brasil precisa modernizar estratégias de ação em Washington

Em tempos como esses, o setor privado brasileiro deveria tomar a dianteira

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Profissionais trabalham em siderúrgica da MTA Fundições, que recicla metais para produzir automóveis
Detalhe da produção de autopeças na siderúrgica MTA Fundições que recicla metais para produzir peças de automóveis - Folhapress
ANTONIO JOSINO MEIRELLES NETO
São Paulo

Donald Trump acaba de anunciar que taxará todo o aço e o alumínio importados pelos Estados Unidos. A medida é um golpe de bilhões de dólares nas exportações do Brasil. Esta não é a única guinada comercial de Trump: seu governo transformou as relações comerciais no mundo para pior.

Em questões comerciais, a Casa Branca é imprevisível. Por isso, o gasto com lobby, que ultrapassa US$ 3,2 bilhões por ano, registra seus picos mais altos. Mais de 80 startups de lobby surgiram, lideradas por ex-assessores de campanha ou pessoas da confiança de Trump que aterrissaram em Washington.

O setor privado adaptou-se à nova cena: alguns lobbies passaram a apoiar a renegociação do Nafta --acordo de livre-comércio na América do Norte-- proposta por Trump e as reformas econômicas, tirando vantagens.

Até o empresariado moderninho do Vale do Silício, base dos democratas, reconquistou espaço no Salão Oval.

O destaque é a Argentina. Com sua mensagem bem disciplinada de abertura, o governo Macri ganhou espaço político sem precedentes na Casa Branca e até recebeu apoio na sua candidatura à OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

O Brasil ficou para trás. Em 2017, o governo Temer retomou uma agenda intensa com Washington, mas os percalços vividos pela política e pela economia criam barreiras e limites à ação governamental. Em tempos como esses, o setor privado brasileiro deveria tomar a dianteira.

O empresariado brasileiro continua a delegar boa parte de sua atuação e influência internacional ao governo.

A virada para a atuação externa do setor privado brasileiro deveria focar em sua importante contribuição como investidor estrangeiro na economia americana.

Dentre os emergentes, o Brasil é o segundo maior gerador de empregos nos Estados Unidos, e tem mais de 40 grandes multinacionais investindo em mais de 150 distritos eleitorais americanos --quase um terço do Congresso americano.

A era dos eventos de "autopromoção" institucional ou agendas setoriais muito específicas precisa ficar para atrás, pois não ressoa no ambiente político extremamente competitivo de Washington.

As empresas brasileiras têm de começar a participar efetivamente das centenas de grupos consultivos e das associações de classe em Washington. Assim como as empresas americanas fazem no Brasil há décadas, nossas empresas tem de se envolver na formulação de políticas públicas americanas de forma direta.

Sem modernizar sua estratégia de ação em Washington, as empresas brasileiras perderão mercado no novo mundo da política comercial americana.

O aço é só o começo do que vem pela frente.

ANTONIO JOSINO MEIRELLES NETO é mestre em comércio internacional e ex-diretor-executivo do Brazil Industries Coalition, em Washington, D.C.

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