Cadeia de loja de brinquedos Toys R Us vai fechar ou vender todas as lojas nos EUA

Empresa, que perdeu mercado com comércio eletrônico e smartphones, pode eliminar 30 mil empregos

Consumidores à frente de loja da Toys R Us em  Emeryville, California
Consumidores à frente de loja da Toys R Us em Emeryville, California - Justin Sullivan - 15.mar.18/Getty Images/AFP
Nova York | The New York Times

A cadeia de varejo Toys R Us, que durante gerações vendeu jogos e brinquedos para as crianças americanas, vai fechar suas lojas nos Estados Unidos.

Depois de pedir concordata em setembro e de sofrer com uma temporada de festas ruim, a empresa decidiu que fechará ou venderá todas as suas lojas restantes, depois de uma reunião entre seus executivos e credores que durou o dia inteiro, disseram três pessoas informadas sobre as discussões.

Há mais de 30 mil empregos em risco nos Estados Unidos, agora que a empresa decidiu fechar suas lojas. É uma queda colossal para a empresa, que surgiu em 1948 como uma pequena loja em Washington que vendia berços, carrinhos e outros produtos para bebês.

A companhia se expandiu e chegou a ter mais de 2.000 lojas, com um amplo estoque que a tornava um dos destinos prediletos para as visitas das crianças.

O jingle publicitário da companhia —"não quero crescer, sou uma criança Toys R Us"— está gravado na memória dos americanos. A sede da emblemática companhia, em Wayne, Nova Jersey, fica em Geoffrey Way, rua que leva o nome da girafa Geoffrey, o antes onipresente mascote da Toys R Us.

Mas, na era do varejo via internet, o modelo de vendas antiquado da Toys R Us não foi capaz de acompanhar a Amazon e o Walmart, e a empresa estava sobrecarregada de dívidas em razão de uma aquisição alavancada em 2005.

"Eles estavam na interseção de muitas tendências desafiadoras e se viram mal posicionados quanto a cada uma delas", disse Michael Dart, especialista em varejo e sócio da consultoria A. T. Kearney.

"A confluência de todas essas forças fundamentalmente os empurrou despenhadeiro abaixo."

Nos próximos meses, as cerca de 880 lojas Toys R Us e Babies R Us operadas pela empresa em todo o território dos Estados Unidos realizarão promoções de queima de estoque.

A companhia sinalizou que o fim estava chegando ao anunciar na manhã da quarta-feira (14) que fecharia todas as suas lojas no Reino Unido.

À tarde, os executivos informaram ao pessoal da sede da companhia, em Wayne, sobre a decisão de fechar as lojas nos Estados Unidos.

Unidade da Toys R Us em Coventry; empresa fechará também no Reino Unido
Unidade da Toys R Us em Coventry; empresa fechará também no Reino Unido - REUTERS - 13.mar.18/Reuters

TABLETS E SMARTPHONES

O setor mundial de brinquedos está envolvido em uma batalha complicada pela atenção das crianças, obcecadas por smartphones e tablets. As vendas mundiais de brinquedos vêm crescendo ligeiramente a cada ano, mas em ritmo inferior ao dos produtos eletrônicos e videogames.

Além disso, as vendas online de brinquedos cresceram mais de 55% nos dois últimos anos, para US$ 17 bilhões, nos EUA, e a receita do segmento de brinquedos nas empresas de comércio eletrônico superou a das lojas físicas em algumas partes da Europa, de acordo com a Clavis Insight, que pesquisa sobre comércio eletrônico.

Depois de pedir concordata, a Toys R Us planejava reduzir ao menos em parte sua carga de dívidas e atualizar suas operações.

Mas, após uma temporada de festas com vendas lânguidas, os credores da companhia passaram a expressar preocupação, questionando se os executivos da Toys R Us estavam tomando medidas de reestruturação drásticas o suficiente para permitir que ela voltasse a se tornar competitiva em longo prazo, de acordo com pessoas informadas sobre a questão.

Nas últimas semanas, os credores começaram a perder a paciência com os dirigentes da companhia e com os esforços de recuperação que eles estavam conduzindo, disseram essas fontes.

Em janeiro, a empresa anunciou que fecharia 182 lojas deficitárias nos Estados Unidos, e a liquidação desses locais já foi iniciada.

No entanto, os credores calcularam que o fechamento e a queima total de estoques em todas as operações americanas da empresa permitiria que eles recuperassem mais dinheiro do que seria o caso se as lojas fossem mantidas abertas.

A companhia foi adquirida em 2005 pelos grupos de capital privado Bain Capital e Kohlberg Kravis Roberts e pela companhia de investimento imobiliário Vornado Realty Trust.

Sobrecarregada pela dívida que seus proprietários criaram para a empresa ao adquiri-la, a Toys R Us não investiu adequadamente em suas lojas decadentes e em suas operações de comércio eletrônico. Incapaz de concorrer com outros grupos de varejo, ela perdeu mercado para outras lojas de brinquedos dotadas de capitalização melhor.

A Toys R Us controlava 13,6% do mercado de brinquedos dos Estados Unidos em 2016, de acordo com pesquisas da IBISWorld, ante 29,4% para o Walmart, 16,3% para a Amazon e 13,9% para a GameStop.

Para muitos analistas, a Toys R Us representa um exemplo perfeito quanto ao desordenamento causado pelo varejo via internet - uma gigante que no passado parecia invencível mas cuja vantagem desapareceu quando os consumidores começaram a buscar seleção mais ampla de produtos, preços mais baixos e a facilidade de comprar com um só clique, online.

Mesmo antes do anúncio da quarta-feira, o colapso financeiro da companhia havia causado problemas para trabalhadores como Dyann Rosales, que conseguiu um emprego sazonal na loja da Toys R Us em Pittsburg, Califórnia, antes do Natal, e depois foi efetivada.

"Era uma chance de eu sair do buraco em que eu estava", disse Rosales, 48, que tem uma filha de oito anos. "Seria minha plataforma para subir."

Mas no começo de fevereiro ela foi informada via carta de que sua loja seria uma das 182 que a empresa fecharia em definitivo.

A empresa havia anunciado inicialmente que pretendia pagar indenizações rescisórias a muitos dos trabalhadores demitidos, disse Rosales. Mas, quando ela foi informada de que isso provavelmente não acontecerá, "me vi de novo no fundo do poço", afirmou.

A OUR, uma organização trabalhista cujo foco são os trabalhadores do varejo norte-americano, vinha tentando ajudar os empregados da Toys R Us a receber indenizações rescisórias e encontrar novos empregos.

Rosales disse que os fregueses ficaram tristes com o fechamento da loja. Ela falou de um menino de oito anos que foi à loja no dia de seu aniversário.

A tradição da Toys R Us era que o gerente da loja anunciasse pelo alto-falante a presença de um aniversariante na loja e tocasse uma canção especial de aniversário para ele.

"Quando a mãe dele ouviu sobre o fechamento, me olhou e disse que eram coisas como aquela que fariam falta", disse Rosales.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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