Descrição de chapéu Operação Carne Fraca

Governo suspende temporariamente exportações de carne de aves da BRF à Europa

Entidade do setor reage e diz que decisão comprometeria milhares de empregos

Caminhões transportam pintos entre os granjeiros e frigorífico da BRF
Caminhões transportam pintos entre os granjeiros e frigorífico da BRF - Adriano Vizoni/Folhapress
Maeli Prado
Brasília | Reuters

 O Ministério da Agricultura decidiu interromper temporariamente a produção e certificação sanitária de produtos de aves da BRF exportados do Brasil para a União Europeia a partir desta sexta-feira (16), em mais um revés para a maior exportadora de carne de frango do mundo.

A suspensão ocorre depois de a BRF ter sido alvo de uma nova fase da operação Carne Fraca da Polícia Federal, no início do mês e em meio a discussões sobre mudança de gestão da companhia.

As ações da BRF chegaram a cair mais de 3%, mas fecharam o dia em queda de 1,07%. A JBS recuou 1,84%, a Marfrig e a Minerva, fora do Ibovespa, ficaram estáveis. 

A medida afeta 10 fábricas da companhia nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Paraná e Goiás. A BRF tem no Brasil 35 unidades produtivas.

Segundo a BRF, os produtos já alocados na União Europeia ou produzidos e embarcados antes de 16 março podem ser comercializados e utilizados sem restrições na UE.

Técnicos do Ministério da Agricultura vão se reunir na próxima semana em Bruxelas com as autoridades sanitárias das União Europeia para prestar esclarecimentos técnicos. Após a reunião, a medida será reavaliada, disse a BRF.

No mercado há avaliações de que se trata de uma medida para evitar ações mais drásticas e duradouras pela União Europeia, até que o Brasil e o bloco se reúnam na próxima semana. A decisão, contudo, pode fazer a empresa redirecionar produtos para outras regiões e se demorar para ser suspensa poderá desequilibrar a relação de oferta e demanda de aves nesses mercados.

A BRF informou que embarcou 278 mil toneladas de aves e produtos processados para a Europa no ano passado. A companhia não detalhou quanto desse total teve origem nas fábricas brasileiras.

De acordo com um analista de uma grande corretora do país, em termos de volume, a suspensão afeta menos do que 5% do volume total da BRF, assim não teria um impacto expressivo na companhia, mas vem em um momento em que a BRF tem necessidade de expandir margens e reduzir endividamento.

REPERCUSSÃO

Em nota divulgada nesta sexta-feira, a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) condenou a suspensão, pela União Europeia, das importações de frango da BRF.

A decisão da União Europeia foi noticiada pelo jornal Valor, que informou que o bloco europeu teria avisado o ministério de que pretende suspender importações da BRF por causa da Operação Trapaça, fase da Carne Fraca que investiga supostas irregularidades em frigoríficos da empresa.

A entidade declarou que confia que a pasta vai solucionar a questão, e lembrou que, enquanto o setor gera 4,1 milhões de empregos diretos e indiretos, somente a BRF gera 100 mil empregos diretos.

“O governo brasileiro precisa e deve esclarecer rapidamente a questão. O país não pode ceder às ameaças que colocam em risco milhares de empregos e as empresas do nosso setor”, diz o texto.

A nota diz ainda que o Brasil é parceiro de longa data da UE, e nunca houve qualquer registro de problemas de saúde pública nota.

“Não há, portanto, motivos concretos para impor embargos a qualquer empresa de nosso setor, especialmente tratando de fatos passados e que já foram corrigidos”, diz o texto, que afirma que, na prática, a presença de salmonela não traz risco à saúde pública.

“Ao longo de sua história, a avicultura brasileira construiu uma trajetória sólida pautada pela preservação de seu status sanitário e da qualidade de seus produtos. Nada mudou.”

OPERAÇÃO TRAPAÇA

As investigações da Polícia Federal demonstraram que setores de análises do grupo e cinco laboratórios credenciados pelo Ministério da Agricultura fraudavam resultados de exames em amostras do processo industrial, informando dados fictícios ao Serviço de Inspeção Federal.

O objetivo era diminuir os níveis da bactéria salmonela, que impediriam a exportação dos produtos para mercados externos de controle mais rígido.

Pedro Faria, ex-presidente do grupo BRF, chegou a ser preso durante a operação, mas foi solto posteriormente. Ele teria tentado acobertar as fraudes, reveladas na petição inicial da ação trabalhista de uma ex-funcionária do grupo. 

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