Descrição de chapéu Donald Trump

EUA vão impor tarifas de 25% ao aço e de 10% ao alumínio, diz Trump

Comitiva brasileira foi a Washington para conversas bilaterais

Caldeirão em aciaria da CSN, onde é feita a transformação de ferro líquido em aço líquido
Aciaria da CSN, onde é feita a transformação de ferro líquido em aço líquido, em Volta Redonda (RJ) - Antônio Gaudério/Folhapress
Estelita Hass Carazzai
Washington

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta quinta-feira que seu governo vai impor tarifas de importação para aço e alumínio de 25% e 10%, respectivamente, na próxima semana.

O Brasil está entre os países que mais devem ser afetados pela medida: é o segundo maior exportador de aço aos EUA, atrás apenas do Canadá. No ano passado, a receita gerada com vendas aos norte-americanos somou US$ 2,63 bilhões (cerca de R$ 8,5 bilhões).

O mandatário não deu mais detalhes sobre as tarifas, afirmando apenas que elas durarão “bastante tempo”. A ordem oficial deve ser assinada na semana que vem.

O governo brasileiro recebeu a notícia com “enorme preocupação” e disse que não descarta ações multilaterais para preservar os interesses do país, segundo o ministério da Indústria e Comércio Exterior.

“É uma loucura; é uma tarifa extremamente alta e, com certeza, inviabiliza nossas exportações para lá”, afirmou à Folha Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil. 

A decisão de Trump intensifica a política de “América em primeiro lugar”, mas foi criticada por parte da indústria americana que depende das importações e pode gerar retaliações de parceiros comerciais. Ao longo do dia, as Bolsas de Valores dos EUA caíram entre 1% e 2%, refletindo a insatisfação de investidores com a medida.

O presidente fez críticas à maneira “injusta” com que outros países vêm tratando as indústrias norte-americanas, que enfrentariam uma concorrência desleal há décadas.

“Eles destruíram nossa indústria de alumínio, de aço e outras indústrias, francamente. Vejam as fábricas de carros que mudaram para o México por razão nenhuma”, afirmou o republicano, durante reunião com representantes da indústria americana.

“Nós não somos protecionistas; nós queremos jogar em um campo nivelado”, declarou Dave Burritt, presidente da United States Steel Corporation, uma das maiores siderúrgicas americanas.

O empresário comparou a entrada do aço estrangeiro no país a um jogo de “Whac-A-Mole”, brinquedo popular nos Estados Unidos, em que o jogador martela toupeiras para que voltem ao seu buraco. “Já passou da hora de termos justiça.”

BRASIL

No início desta semana, o ministro brasileiro da Indústria e Comércio Exterior, Marcos Jorge de Lima, viajou a Washington para conversar com o secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross.

A imposição de tarifas ao aço e alumínio fora sugerida pelo Departamento de Comércio no mês passado, em estudo encaminhado à Casa Branca. Na ocasião, foram expostas três opções para o aço: taxação mínima de 24% a todos os países; taxação de 53% aos maiores exportadores do produto aos EUA, incluindo o Brasil (o que teria efeitos significativos sobre a indústria nacional); ou estabelecer uma cota à importação equivalente a 63% das importações do produto em 2017.

Aparentemente, a Casa Branca escolheu a primeira opção, mas os detalhes ainda não foram revelados. No caso do alumínio, a proposta era uma tarifa global de 7,7%, ou 23,6% aos maiores exportadores.

O ministro Lima disse que o governo brasileiro esperava “obter uma sinalização positiva por parte dos americanos”, e que saiu da reunião desta semana confiante. Os Estados Unidos são o principal destino das exportações da indústria siderúrgica brasileira.

A estratégia da comitiva era defender que o aço exportado para os EUA não concorre com o produto feito naquele país. Segundo o ministério, 80% das exportações aos norte-americanos são produtos semimanufaturados, que sofrem novo processo de industrialização quando chegam ao país. O argumento é que as indústrias são complementares.

Além disso, a produção local americana não daria conta de abastecer as siderúrgicas com esse tipo de aço, que é uma matéria-prima. Por causa disso, parte da indústria dos EUA se opôs à imposição de tarifas ao material importado, afirmando que isso encareceria seu custo de produção.

A decisão da Casa Branca, porém, entende que o problema é uma questão de “segurança nacional”, como afirmou um relatório recente do Departamento de Comércio.

O documento, divulgado no mês passado, destaca que as importações de aço dos EUA cresceram 30% acima do consumo doméstico, e já são quatro vezes maiores que as exportações. Segundo o relatório, indústrias de equipamentos de defesa no país são criticamente dependentes do aço e do alumínio importado –e, por isso, as tarifas foram recomendadas.

Ainda não foram divulgados detalhes sobre quais alíquotas seriam aplicadas a quais países, nem por quanto tempo. Na reunião com o ministro brasileiro nesta semana, Ross afirmou que ainda haveria a possibilidade de recurso contra as tarifas.

O governo brasileiro informou que espera “trabalhar construtivamente com os Estados Unidos” para evitar a aplicação da sobretaxa, que traria “prejuízos significativos aos produtores e consumidores de ambos os países”.

Na reunião desta quinta, Trump ainda criticou antecessores por não tomarem medidas mais duras em relação ao comércio exterior, e prometeu reconstruir os setores de siderurgia e alumínio do país. A meta é que a atual capacidade industrial ociosa no EUA caia dos atuais 27% para cerca de 20%, taxa mínima necessária para que a indústria seja viável em um longo prazo.

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