Ex-presidente quis sanear BRF, diz executivo

Ordem de Pedro Faria para fazer algo drástico significava mudar gestão

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Fábrica da BRF em Chapecó, Santa Catarina
Fábrica da BRF em Chapecó, Santa Catarina - AFP
São Paulo

O ex-presidente da BRF Pedro Faria queria sanear os problemas de gestão na planta da empresa em Rio Verde (GO), em vez de esconder as irregularidades. 

A afirmação consta de depoimento de Hélio Rubens Mendes dos Santos, ex-vice-presidente de suprimentos da empresa, prestado nesta quarta-feira (7), em Curitiba, à PF (Polícia Federal) e obtido pela reportagem.

Faria, Santos e outros funcionários da gigante de alimentos, formada pela fusão de Sadia e Perdigão, estão presos desde segunda-feira (5), acusados na Operação Trapaça de encobrir fraudes em exames laboratoriais.

Os investigadores questionaram Hélio dos Santos sobre o significado de uma troca de mensagens entre ele e Faria. Os emails são a principal justificativa da prisão de ambos.

No texto, Faria diz que “sempre levamos bucha nos mesmos lugares” e pede ao subordinado Santos que, “por favor, avalie algo drástico por lá”. Santos responde: “Vamos juntos eliminar todas as exposições”.

O Ministério Público e a Polícia Federal interpretaram as frases como uma admissão de que a planta de Rio Verde tinha problemas reiterados de fraude e que o então presidente da BRF estava determinando a ocultação de crimes.

Santos nega essa versão. Ele diz que, ao ordenar “algo drástico”, Faria estava solicitando sanar os problemas de gestão da unidade. Afirma ainda que, naquele momento, havia uma incidência maior de diversas reclamações sobre aquela fábrica, o que estava aborrecendo os dirigentes da empresa.

Desdobramento

O caso surgiu a partir de uma ação trabalhista movida por Adriana Marques Carvalho, ex-supervisora de qualidade de Rio Verde. No processo, a ex-funcionária acusa superiores de obrigá-la a falsificar resultados de testes.

Segundo Adriana, entre 40% e 70% das amostras mensais testadas de produtos pela BRF davam positivo para a presença da bactéria salmonela, enquanto o máximo aceitável pelo governo brasileiro é de 20%. Por isso, os laudos eram alterados.

O tipo de salmonela encontrada nas amostras não provoca dano à saúde humana, mas, como afeta as aves, pode trazer prejuízos à empresa, como fechamento de mercados importadores que não toleram a presença da bactéria.

Santos também foi questionado pela PF se tomou providências para averiguar as denúncias feitas por Adriana.

Ele disse que pediu à área de produção para fazer uma auditoria e verificar as acusações, mas que não se recorda se teve retorno sobre o que foi apurado.

O ex-gerente da unidade da BRF de Carambeí (PR) Luiz Augusto Fossati negou também em depoimento à Polícia Federal que aves contaminadas pela salmonela tenham sido exportadas.

Centralização

Como uma resposta às denúncias, o governo emitiu uma portaria que centraliza em Brasília a fiscalização de frigoríficos. 

A centralização visa a reduzir as possibilidades de interferência político-partidária sobre a fiscalização. A fiscalização será coordenada pelo Dipoa (Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal), em Brasília.

Erramos: o texto foi alterado

O limite de 20% de amostras mensais de produtos com a presença da bactéria salmonela é o máximo aceitável pelo governo, e não o mínimo.

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