Executivos da Odebrecht veem Marcelo como a maior ameaça à companhia

O ex-presidente quer atingir cúpula da empresa por julgar que alguns não confessaram seus crimes

Marcelo Odebrecht, que passou dois anos e meio na prisão e vai passar prazo igual em prisão domiciliar
Marcelo Odebrecht, que passou dois anos e meio na prisão e vai passar prazo igual em prisão domiciliar - Heuler Andrey/AFP
Mario Cesar Carvalho
São Paulo

Existem dois tipos de bicho-papão a aterrorizar empresas que foram apanhadas pela Operação Lava Jato e fizeram acordos com os procuradores da força-tarefa: os bancos, que podem quebrar a companhia em razão de dívidas, e órgãos do governo, como a AGU (Advocacia-Geral da União), que podem levar à bancarrota o empresário com multas impossíveis de serem pagas.

A Odebrecht, a maior empreiteira brasileira e a que enfrenta uma das situações financeiras mais delicadas, encara um terceiro tipo de bicho-papão: o antigo dirigente que foi preso e agora quer justiça ou vingança, dependendo do ponto de vista.

Marcelo Odebrecht, ex-presidente da companhia, encarna esse papel e quer atingir a cúpula da empresa por julgar que ali há criminosos que não confessaram seus crimes.

O alvo principal de Marcelo é o futuro presidente do conselho de administração, o cargo mais elevado na organização: Newton de Souza, sucessor de Emílio Odebrecht, o pai de Marcelo, nessa função a partir de abril.

É por essa razão que Marcelo é visto por executivos e ex-executivos da Odebrecht como a principal ameaça ao futuro da companhia, mais do que bancos e órgãos do governo, segundo a Folha apurou com três desses profissionais com a condição de que seus nomes não fossem citados.

Newton de Souza virou o principal alvo de Marcelo por ser visto por ele como uma extensão do pai, com quem está brigado desde antes de ser preso na Lava Jato, em junho de 2015. Marcelo diz que seu pai preservou Souza do acordo de delação que 78 executivos assinaram para continuar mantendo a influência no negócio, enquanto ele passou dois anos e meio de prisão e vai passar prazo igual em prisão domiciliar.
Emílio apontou outra motivação em documento divulgado no fim do ano passado. Disse que visava a profissionalização da companhia ao proibir que parentes sejam presidentes de empresas.

ELE SABIA

Marcelo começou seu ataque a Souza anexando emails em processos que estão com o juiz Sergio Moro, dos quais o executivo recebia cópias. Numa das mensagens, Marcelo sugere que Souza sabia da política da empresa de pagar propina.

Um email de 2008 cita o caso de negociação de impostos no governo Lula que resultou no pagamento de um suborno de R$ 50 milhões ao PT, segundo a delação do próprio Marcelo. A mensagem também trata de propina solicitada por um intermediário de um contrato que a Odebrecht fechou na Líbia.

Souza rebate que não há nada de ilegal no email. O caso foi revelado pela Folha em 6 de março.

Numa escalada aos ataques, Marcelo enviou mensagem a executivos da Odebrecht com críticas mais diretas a Souza. No email, ele diz que a companhia não pode mais tolerar que “pessoas que optaram por omitir seus erros continuem na organização”. O teor da mensagem foi revelado pelo jornal Valor e confirmado pela Folha.

Ele afirma que é um equívoco achar que está em guerra com a empresa: “Não tenho nenhum sentimento de vingança, apenas de preservar o legado de meu avô”.

O temor dos executivos ouvidos pela Folha é que os ataques de Marcelo inviabilizem a ida de Souza para a presidência do conselho. Isso jogaria o grupo numa rota de incertezas que dificultaria ainda mais a negociação de novos empréstimos bancários.

OUTRO LADO

A Odebrecht não quis comentar o email de Marcelo. Em resposta genérica, diz que “a significativa transformação empreendida no grupo Odebrecht nos últimos anos está consolidada na nova política sobre governança, baseada nas mais avançadas referências”. A nota frisa como “decisão fundamental” a separação entre acionistas e  executivos.

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