Descrição de chapéu Mark Zuckerberg Facebook

Facebook remove auditores da Cambridge Analytica após pedido de autoridades

Agência de proteção de dados do Reino Unido planeja revista no escritório nesta terça

Pedestres caminham por edifício da Cambridge Analytica no centro de Londres
Pedestres caminham por edifício da Cambridge Analytica no centro de Londres - Daniel Leal-Olivas/AFP
Financial Times

A agência de proteção à privacidade de dados do Reino Unido instruiu o Facebook a remover seus auditores dos escritórios da Cambridge Analytica nesta segunda-feira (19), por estar preocupada com a possibilidade de que eles prejudicassem a "integridade" de uma revista planejada para esta terça (20) pelas autoridades.

Elizabeth Denham, a comissária da Informação britânica, anunciou nesta terça que a agência regulatória também estava investigando a companhia de mídia social para determinar se ela havia "protegido e salvaguardado" os dados de 50 milhões de usuários e "agido de forma robusta" ao descobrir o vazamento.

"A essa altura, a presença do Facebook [nos escritórios da Cambridge Analytica] gera preocupações quanto à integridade de nossas buscas", ela declarou. "Também estamos investigando o Facebook, no momento, e por isso aconselhamos o Facebook a se afastar".

O Facebook atendeu ao pedido e removeu a equipe de auditores forenses que havia enviado aos escritórios da Cambridge Analytica na tarde da segunda, disse Denham.

A rede de mídia social não respondeu a um pedido de comentários sobre a questão.

O Escritório do Comissário de Informação britânico está solicitando um mandado de busca para enviar seu pessoal aos escritórios da empresa nesta terça, a fim de analisar seus bancos de dados e servidores.

Uma comissão parlamentar britânica convocou o presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, para falar sobre o suposto uso ilegal de informações pessoais dos usuários da rede social pela consultoria Cambridge Analytica.

No sábado (17), o jornal The New York Times revelou que a Cambridge Analytica, que participou da campanha de Donald Trump, obteve dados sigilosos de 50 milhões de usuários do Facebook e usou as informações para ajudar a eleger o presidente americano em 2016.

Segundo o jornal, os dados foram obtidos através do aplicativo thisisyourdigitallife, da empresa GSR (Global ScienceResearch), que pagava usuários para responderem uma série de perguntas e, em troca, a pessoa consentia que o programa tivesse acesso às suas informações no Facebook, como localização e “likes”.

O aplicativo, porém, não avisava que além dos dados dos usuários, também captava as informações de todos os amigos, chegando ao total de 50 milhões de pessoas. Esses dados foram vendidos então pela GSR para a Cambridge Analytica. 

Os detalhes do esquema foram revelados por um ex-funcionário da Cambridge Analytica, e o uso ilegal de dados teria acontecido entre 2014 e 2015.

LIMITES 

A declaração pública de Denham sobre a investigação intensificou a pressão sobre o governo britânico por uma ampliação dos poderes da comissária de informação para investigar violações da segurança de dados e impor penalidades mais severas.

Liam Byrne, ministro da Cultura no gabinete paralelo da oposição trabalhista, disse ao programa Today, da BBC, que "a comissária da informação se tornou uma xerife importante para o policiamento desse novo oeste selvagem. Está claro que a comissária não tem os poderes necessários a emitir mandados de busca digitais que possam ser aplicados de maneira rápida e discreta a fim de descobrirmos o que está acontecendo".

"O fato de que a comissária da informação tenha dito ao mundo que recorreria aos tribunais deu à Cambridge Analytica e potencialmente a outros um aviso prévio que permite que disfarcem e escondam dados, informações e registros que podem ser necessários para a investigação", disse Byrne.

Dominic Grieve, antigo secretário da Justiça britânica, disse que existia um descompasso entre o potencial lucro a ser extraído e as penalidades que podem ser aplicadas pelo uso indevido de dados públicos, as quais, segundo ele, são em geral multas "relativamente baixas".

Grieve disse que "eu favoreceria dar a ela [a comissária da informação] um regime regulatório muito poderoso, caso ela decida necessitar dele".

"Se considerarmos a extensão daquilo que vem acontecendo e as acusações que vêm sendo feitas, creio que precisamos pensar com seriedade em aumentar as penas com respeito a isso, especialmente para os indivíduos envolvidos", ele disse.

Denham disse que estava empregando os instrumentos de que dispõe no momento.

O secretário da Cultura britânico Matt Hancock declarou na segunda que o projeto de lei do governo para a proteção de dados seria usado como veículo para garantir que o regime regulatório britânico tenha a capacidade necessária para enfrentar os novos riscos. 

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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