Facebook vira alvo de processos nos EUA

Pelo menos quatro ações contra a empresa foram iniciadas nos últimos dias 

O presidente-executivo e cofundador do Facebook, Mark Zuckerberg - Jim Watson-21.mar.2018 / AFP
Silas Martí
Nova York

Os problemas do Facebook estão bem longe do fim. Enquanto autoridades americanas e europeias cobram explicações dos donos da firma sobre o desvio de dados de 50 milhões de pessoas, vários de seus acionistas e grupos de usuários já estão abrindo processos contra a rede social.

Na ressaca do escândalo envolvendo a consultoria política Cambridge Analytica, que teve acesso a informações pessoais de clientes do Facebook para manipular a última eleição presidencial americana a favor de Donald Trump, pelo menos quatro ações contra a empresa foram iniciadas nos últimos dias.
Uma delas, movida pelo acionista Jeremiah Hallisey, reclama que a alta cúpula da rede social faltou com suas obrigações, fracassando ao evitar o mau uso de dados e não avisando os mercados e   usuários sobre o problema.

O processo em questão tem como réus Mark Zuckerberg, presidente e cofundador da empresa, a diretora de operações Sheryl Sandberg e de outros executivos no comando da gigante do Vale do Silício.
Na visão dos advogados de Hallisey, diretores do Facebook tentaram “minimizar preocupações sobre o acesso a informações de seus usuários” ao continuar insistindo em comunicados a investidores que a firma tinha “controles internos e sistemas para detectar atividade suspeita”.

O documento diz ainda que esses sistemas de controle e a política de privacidade de usuários da plataforma eram inadequados e que diretores da empresa sabiam que isso representava “um risco substancial para seus negócios”. 

Advogados também acusam os executivos da empresa que sabiam da gravidade do problema, entre eles Zuckerberg e Sandberg, de terem vendido parte de suas ações para evitar perdas, configurando uso ilegal de informação privilegiada –o processo diz que até R$ 5 bilhões em papéis foram vendidos semanas antes do escândalo.

Outros dois acionistas, Fan Yuan e Robert Casey, abriram processos com o mesmo teor, afirmando que a empresa mentiu sobre como gerenciava dados de usuários e não explicou a real gravidade da situação a seus investidores, o que causou prejuízo com a queda no valor de suas ações.

Desde o início do escândalo envolvendo a Cambridge Analytica, o Facebook perdeu mais de R$ 160 bilhões em valor de mercado e sofreu dias seguidos de recuos na Bolsa de Nova York, amargando a pior retração em quatro anos.

Outra ação movida por um grupo de usuários da plataforma exige reparação por terem seus dados pessoais vazados para fins indevidos –executivos do Facebook argumentam, em sua defesa, que foram enganados por um pesquisador que repassou essas informações à consultoria sem permissão da rede social.

Mas essa ação aberta por Lauren Price em nome dos 50 milhões de usuários afetados pelo problema acusa a rede social de agir com “absoluta negligência” ao permitir que ao longo das eleições americanas de 2016 os clientes da plataforma fossem “alvejados por propagandas políticas”. 
Tanto o Facebook quanto a Cambridge Analytica são citados como réus nessa ação.

Outro ponto que pode constranger ainda mais o Facebook é o fato de Peter Thiel, o fundador do PayPal e um dos executivos mais poderosos do Facebook, ter doado dinheiro à campanha de Donald Trump à Casa Branca, que então repassou parte do valor à Cambridge Analytica, expondo o elo entre a consultoria política e a rede social. 

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