Fala de Temer sobre o aço não tem base oficial

Governo americano não enviou nenhuma comunicação oficial à embaixada do Brasil em Washington

Presidente Michel Temer durante reunião do Conselhão em Brasília - Ueslei Marcelino / Reuters
Patrícia Campos Mello Talita Fernandes
Brasília e São Paulo

O presidente Michel Temer anunciou que os Estados Unidos iriam suspender as sobretaxas sobre o aço brasileiro sem ter recebido uma confirmação oficial do governo americano.

Na tarde desta quarta-feira, Temer anunciou em reunião do Conselhão que estava lendo uma mensagem da Casa Branca e que o Brasil teria as tarifas suspensas enquanto estivesse em negociação com a Casa Branca sobre o tema.

"Estou lendo agora uma declaração feita pela Casa Branca de que o Brasil é um dos países pelos quais começarão as negociações visando a eventuais exceções as tarifas de importação de aço e alumínio", disse Temer.

"As novas tarifas, mensagem da Casa Branca, não se aplicarão enquanto estivermos em negociação. Uma boa notícia", disse o presidente.

No entanto, não houve nenhuma mensagem da Casa Branca garantindo que o Brasil estará entre os países que terão as tarifas suspensas enquanto se negocia, embora o governo americano afirme que o país tem boas condições e que irá negociar.

O governo americano havia anunciado anteriormente que as tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio entrariam em vigor nesta sexta-feira (23), e os únicos países que haviam recebido isenção eram México e Canadá.

Em entrevista, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou que Temer havia recebido uma comunicação oficial do governo americano informando a suspensão.

"O embaixador Sérgio Amaral que mandou aquela mensagem, que foi recebida pelo ministro Aloysio Nunes Ferreira, que passou para o presidente Michel Temer, dizendo que, com o Brasil, a negociação do aço estava iniciada e, enquanto houver a negociação, não serão implementadas aquelas restrições que foram originariamente estabelecidas", afirmou o ministro Padilha.

SEM COMUNICAÇÃO 

A Folha apurou que o governo americano não enviou nenhuma comunicação oficial à embaixada do Brasil em Washington, que, por sua vez, não a repassou ao ministro Aloysio Nunes.

A única declaração oficial consta do depoimento do representante de comércio dos EUA (USTR), Robert Lighthizer, durante audiência no Congresso americano na tarde desta quarta-feira hoje. Ele não afirmou que o Brasil estava entre os países que teriam a aplicação das tarifas suspensa enquanto negociam com os EUA, até dia 30 de abril. Lighthizer disse apenas que Canadá e México estavam excluídos, enquanto se renegocia o Nafta.

Disse que o país estava em negociações (sobre possível exclusão da tarifa) com a Argentina, União Europeia e Austrália, e que "em breve começaremos a falar com o Brasil". Depois, ele afirmou que "alguns países", sem especificar quais, estarão "em um a posição em que as tarifas não serão aplicadas sobre eles enquanto estiverem em curso as negociações".

Posteriormente, na audiência, ele afirmou que o Brasil era um exemplo "inusual" e "único" porque exportava, na maioria, aço semi-acabado para os EUA, e que o escritório de comércio iria levar isso em consideração. Depois, ele afirmou que existem características que fazem do Brasil um caso único, mas que a decisão depende do presidente Donald Trump.

O Brasil exporta US$ 2,6 bilhões em aço para os Estados Unidos. O país é o maior importador de aço brasileiro.

O Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) emitiu nota comemorando a fala de Lighthizer por abrir possibilidade de negociação.

Segundo a nota, o ministro Marcos Jorge acredita que o gesto pode ser interpretado como um sinal positivo por parte governo norte-americano no sentido de evitar a imposição de sobretaxas.

"O governo brasileiro tem feito diversas gestões com os Estados Unidos, a fim de demonstrar que as suas exportações de aço e alumínio para aquele mercado não representam risco à segurança nacional daquele país. O ministro reforça que espera um desfecho positivo, no qual o Brasil não seja indevidamente atingido por restrições comerciais."

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