Investidor financeiro pode levar as marcas da Nestlé

Presidente nas Américas refuta que só empresas menores estão aptas ao negócio

O presidente da Nestlé para as Américas, Laurent Freixe
O presidente da Nestlé para as Américas, Laurent Freixe - André Coelho/Folhapress
Joana Cunha
São Paulo

As marcas de chocolates que a Nestlé precisa vender para completar a compra da Garoto --um negócio anunciado há mais de 15 anos — podem ir parar nas mãos de um investidor financeiro, segundo Laurent Freixe, presidente da Nestlé para as Américas em entrevista à Folha.

Para cumprir as exigências do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), a multinacional está conduzindo atualmente o processo de venda de um pacote que pode incluir nomes como Chokito, Lollo e Sensação.

O mercado estima que esses seriam os rótulos vendidos, mas o nomes são mantidos em sigilo no processo no Cade. O prazo que a empresa tem para completar o negócio também é sigiloso.

Quando a operação foi realizada, em 2002, a Garoto detinha quase 25% do mercado de chocolates. A Nestlé liderava com pouco mais de 30%.

Freixe refuta uma avaliação recorrente entre analistas de que as marcas terão de ser vendidas para competidores menores porque a gigante Mondelez, dona da Lacta, não levaria nenhum dos rótulos, já que isso pode provocar uma nova concentração.

Em um momento pouco aquecido para fusões e aquisições e com um grande potencial comprador excluído da disputa pelas marcas, o valor dos ativos poderia cair, levando a empresa a voltar ao Cade para negociar mais prazo para a venda ou outra solução.

"Elas precisam ser vendidas para qualquer empresa que esteja pronta para comprar. Não importa para quem seja, talvez com uma exceção que poderia ter problemas", defende Freixe, sem citar o nome da Mondelez.

"Mas há muitas empresas que poderiam estar interessadas, inclusive investidores financeiros. Não são apenas empresas menores que podem comprar", afirma o executivo, ressalvando que não pode fazer comentários específicos porque o processo está em andamento.

CORRELAÇÃO

Uma das principais áreas de atuação da Nestlé, o mercado de chocolates se retraiu quase 20% em volume desde 2014, conforme dados da Euromonitor, mas a empresa volta a ver uma "dinâmica crescente", segundo Freixe.

"Há uma correlação na economia, entre a renda disponível e o consumo de chocolates. Observamos isso no mundo todo, na Europa, quando houve a crise global há alguns anos. Vimos isso no Brasil. Quando a economia não está bem, as pessoas consomem um pouco menos e tendem a buscar produtos essenciais. Mas quando melhora, você vê as pessoas voltando. É o que esperamos ver no Brasil", diz.

Para a Páscoa deste ano, a expectativa é de alta, mas ainda longe do patamar pré-crise. "Não esperamos voltar para onde o mercado estava há três anos, mas esperamos ver crescimento."

Freixe diz que a multinacional observa o Brasil como grande potencial --o país é o seu segundo maior mercado no continente, atrás de Estados Unidos. Apesar dos gargalos que ele reconhece no sistema tributário e na infraestrutura, a empresa mantém investimentos nos negócios já existentes e não descarta aquisições.

Nesta sexta-feira (23), a Nestlé inaugurou em Araras (SP) um novo centro de tecnologia de análise de qualidade de matérias-primas, embalagens e produtos, com investimento de R$ 23 milhões.

O drama da violência no país elevou o alerta da empresa em relação ao roubo de carga, mas sem impacto nos custos, de acordo com o executivo.

"Nós focamos na segurança dos caminhoneiros, esse é a principal preocupação.

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